05 Dezembro 2022
Ambientalistas na Alemanha buscam formas mais criativas de alertar as pessoas sobre a emergência climática, entre eles um jesuíta que vê limites nos esforços convencionais.
A reportagem é de Delphine Nerbollier, publicada por La Croix International, 01-12-2022. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Jörg Alt ainda tem bolhas em uma das palmas das mãos. Isso porque no mês passado o jesuíta de 61 anos colou a mão no asfalto em frente ao Ministério da Justiça da Baviera, em Munique.
Ele e um grupo de ativistas pertencentes a um movimento chamado Scientist Rebellion bloquearam o trânsito no centro desta grande cidade no sul da Alemanha em 28 de outubro para alertar as pessoas sobre a emergência climática, para grande irritação dos motoristas.
Alt, que mora em Nüremberg, tem trabalhado nos últimos 35 anos em questões relacionadas à migração e mudança climática, mas vê limites para os esforços convencionais. “O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas - IPCC diz que só temos três anos para que as emissões de CO₂ comecem a cair de vez se quisermos limitar o aumento da temperatura a 1,5°C. Isso faz você pensar”, diz o padre jesuíta.
“Em 35 anos, dei palestras, escrevi livros, debati, participei de campanhas e assinei abaixo-assinados. Isso não ajudou em nada! Portanto, temos que fazer coisas que não podem ser ignoradas para alertar a opinião pública”, diz ele, apaixonadamente.
Seja bloqueando o tráfego por várias horas, como Alt já fez duas vezes, ou jogando purê de batatas em pinturas, o número de ações contundentes aumentou nas últimas semanas. Mas não sem polêmica.
Ativistas de um grupo chamado “Letzte Generation” (Última Geração, em tradução livre) viram as paixões se desencadearem em Berlim quando um ciclista morreu após ser atropelado por um caminhão. A ambulância não conseguiu atendê-lo a tempo porque estava presa em um engarrafamento causado pelos ativistas ao bloquear uma rodovia.
Desde então, alguns meios de comunicação ligados ao Axel Springer Group – o maior editor da Europa – e vários políticos alemães de direita chamaram esses ativistas climáticos de extremistas ou mesmo terroristas. Alexander Dobrindt, parlamentar do Partido Social Cristão da Baviera, chegou a rotulá-los de “RAF Verde”, uma referência ao movimento terrorista “Red Army Faction” (Facção do Exército Vermelho).
“Não nos surpreendemos com esses ataques. Ações de desobediência civil sempre são criticadas antes que seus perpetradores se tornem heróis”, ressalta Alt. “Mas, neste caso, você deve se perguntar quem está infringindo as leis. São os países que não estão implementando o Acordo de Paris”, insiste o jesuíta.
Atualmente, ele está sendo processado por quatro crimes, incluindo o bloqueio da estrada. Mas ao contrário de uma dúzia de ativistas da Letzte Generation na Baviera, ele não foi mantido sob custódia. No entanto, nem todos os seus companheiros jesuítas estão entusiasmados com a sua participação neste tipo de ações.
“Alguns me acham muito radical, mas meus superiores me apoiam”, admite Alt. Ele diz que a “falta de radicalismo entre os católicos, nas paróquias e entre os grupos juvenis” é lamentável. E para justificar essa crença ele aponta para algumas notícias alarmantes recentes. “Na Índia, milhares de pessoas morreram porque as temperaturas ultrapassaram os 50°C. No Paquistão, 30 milhões de pessoas perderam suas casas por causa das enchentes”, observa. “Nós, cristãos, não podemos ficar indiferentes. É o Norte que tem causado esses problemas”, diz ele. “Temos a responsabilidade e o dever de resolvê-los!”
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A luta de um jesuíta alemão para ajudar a salvar o planeta - Instituto Humanitas Unisinos - IHU