16 Novembro 2022
Não só vítimas, mas protagonistas da solução: para cada ponto a mais de participação feminina, as emissões caem mais de 11%. Apelo das lideranças indígenas para serem ouvidas.
A reportagem é de Lucia Capuzzi, publicada por Avvenire, 15-11-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
"Mas durante os trabalhos, 74% das intervenções ainda foram de delegados do sexo masculino".
“Não decidi ser ativista. Quando, em 2002, uma companhia petrolífera tentou tomar as nossas terras tive que lutar, sem violência, por justiça. Claro, no começo, como mulher, eles me colocaram à margem. Aos poucos, porém, a comunidade aprendeu a confiar em mim. E eu me tornei líder. Desde então, coloquei na mesa a questão da ligação entre a defesa dos direitos das mulheres e a defesa dos direitos à terra. São dois aspectos da mesma luta". Patricia Gualinga, uma indígena equatoriana, ficou famosa por ajudar a bloquear a extração de petróleo bruto na terra de seu povo, os Sarayakus, pela Argentina Compañía general de combustibles. Demorou dez anos de marchas e petições para conseguir isso. Ao final, porém, em 2012, a Corte Interamericana de Direitos Humanos deu razão à comunidade: foi a primeira vitória indígena dessa magnitude. Para torna-la ainda mais emblemática contribuiu o fato de haver um rosto feminino por trás do protesto.
“Devagar as coisas estão mudando. Muitas mulheres estão assumindo um papel de liderança na proteção de nossa casa comum. O fato é que elas são as mais afetadas por esta última. Sabemos bem na Amazônia: quando chega uma empresa extrativista, traz consigo alcoolismo, prostituição forçada, estupros”, troveja a ativista diante da plateia da COP27 onde foi convocada junto com outras lideranças indígenas no dia dedicado a "clima e gênero”, como parte de um evento organizado pela Womend's earth and action network (WeCan). Não é por acaso que, na cúpula, se quis dar voz às mulheres nativas.
Mesmo representando 5% dos habitantes da terra, os povos indígenas preservam 80% da biodiversidade. E são sobretudo as mulheres indígenas que se encarregam disso porque são elas que cultivam, enquanto os homens caçam. Em geral, no entanto, em todos os lugares, as mulheres estão na linha de frente da defesa ambiental. Segundo dados da WeCan, onde é maior a presença feminina no Parlamento, maior a predisposição para assinar tratados ambientais. De fato, um estudo recente da organização mostrou que cada ponto a mais na escala de representação feminina, medido pelo women’s political empowerment, se traduz em uma queda de 11% nas emissões. Portanto, não surpreende que a ex-presidente irlandesa Mary Robinson, enviada da ONU para o clima por dois mandatos, que acaba de chegar a Sharm el-Sheikh, tenha definido a emergência ecológica como "um problema criado por homens com uma solução feminista".
Também durante os trabalhos da Conferência, no entanto, 74% dos discursos proferidos até agora foram masculinos, aponta a WeCan. No entanto, as mulheres conhecem bem o problema, pois são suas primeiras vítimas. Elas são 80% dos refugiados causados por desastres naturais. Quando estes últimos ocorrem, mulheres adultas e meninas têm 14 vezes mais chances de serem afetados do que pessoas da mesma idade do sexo masculino.
Em Bangladesh, Etiópia e Quênia, a recente destruição de plantações causada pela seca prolongada aumentou dramaticamente os casamentos infantis, que afetam principalmente as meninas. Seriam 20% a mais. Além disso, as mulheres são 70% dos 1,3 bilhão de pobres do mundo. 43% da produção global de alimentos depende de mãos femininas, mas apenas 10% da colheita vai para elas. Daí a forte advertência das representantes presentes na COP para "mudar de marcha". Isso também foi reiterado por Sameh Shoukry, ministro egípcio do Meio Ambiente e presidente da cúpula. Esta é a semana da correria final: hoje deveriam terminar as consultas técnicas e amanhã deve chegar a primeira minuta para ser discutida na quinta-feira. Se o cronograma for respeitado, a votação ocorrerá na sexta-feira, sem a necessidade de prorrogação no sábado. Shoukry acha que é possível. Nas últimas COPs, no entanto, isso nunca aconteceu.
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A virada no clima é coisa de mulher - Instituto Humanitas Unisinos - IHU