O Papa quer que o "abuso espiritual" seja considerado crime canônico para que medidas sejam tomadas contra aqueles que usam a religião para explorar suas vítimas

Foto: Vatican Media

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10 Novembro 2025

A Congregação para a Doutrina da Fé está trabalhando na "classificação do abuso espiritual como crime", o que permitiria a condenação canônica das práticas de instituições como o Instituto do Verbo Encarnado, a HAM (Santa Maria Auxiliadora) ou o ex-jesuíta Rupnik.

A reportagem é de Jesús Bastante, publicada El Diario, 10-11-2025.

Atualmente, não é considerado crime pelo Direito Canônico, embora existam vítimas e estas sejam cada vez mais reconhecidas pelas autoridades da Igreja. Trata-se de "abuso espiritual", uma forma de "falso misticismo" que, nos últimos tempos, tornou-se comum nas discussões sobre abuso dentro da Igreja. Rupnik, as Missionárias Apostólicas Femininas (WAMs), o Instituto do Verbo Encarnado, o Franciscano Garrido e outras formas de dominação (independentemente de resultarem ou não em abuso sexual ou físico) são alguns exemplos de uma prática que poderá em breve se tornar um crime canônico.

Pelo menos, é o que detalha uma nota do Dicastério para a Doutrina da Fé, registrando uma audiência com o Papa Leão XIV para tratar do "objetivo de criminalizar o abuso espiritual", e seguindo o mandato de Francisco, que ordenou a criação de um grupo de trabalho para combater o falso misticismo. A presidência do grupo foi inicialmente dada a Filippo Iannone, então prefeito do Dicastério para os Textos Legislativos, e agora sucessor de Prevost como chefe do Dicastério para os Bispos. “Este grupo está trabalhando de forma frutífera e, considerando isso, submeto respeitosamente a proposta de confirmar Sua Excelência o Bispo Iannone, O.Carm, como chefe desta equipe”, declarou Víctor Manuel 'Tucho' Fernández. Leão XIV aprovou a medida, que fortalece o trabalho da comissão no combate a essa anomalia canônica.

O mandato da comissão é determinar como o abuso espiritual — frequentemente ligado à manipulação, coerção e abuso de autoridade em contextos religiosos — deve ser formalmente classificado como uma ofensa canônica. O pedido de 'Tucho' Fernández ao Papa ocorreu, não por coincidência, um dia após a nomeação do tribunal do Vaticano para julgar o caso de Marko Rupnik, um claro exemplo de manipulação e coerção espiritual que, atualmente, não possui uma pena canônica direta, o que dificulta uma condenação.

Como essa reforma afetaria o caso Rupnik? Fundamentalmente, segundo nossas fontes, uma reforma do Direito Canônico permitiria que o ex-jesuíta fosse julgado e condenado por um crime específico, algo que suas vítimas, e as de outros casos, reivindicam há tempos. O caso Rupnik poderia ser o primeiro em que as novas normas seriam aplicadas.

Assim, o grupo de trabalho busca identificar e codificar em uma norma válida para a Igreja o que constitui abuso espiritual, quais as penalidades canônicas que isso acarretaria e como detectá-lo e denunciá-lo. Este é mais um passo para uma instituição que tem lutado para lidar com a crise decorrente do abuso físico e sexual, e que observa com preocupação como a questão do abuso de consciência em situações de dependência é, infelizmente, comum na Igreja. Isso é especialmente verdadeiro no caso de mulheres consagradas, que veem a obediência ou a direção espiritual como armas para esses predadores.

Perguntas e respostas

O que é considerado abuso espiritual? Segundo especialistas, é o uso da religião, crenças ou práticas espirituais para manipular, controlar, isolar ou prejudicar uma pessoa.

Onde isso ocorre? Em relações de poder assimétricas, como a relação entre um superior e um subordinado, um diretor espiritual e seu dirigido, ou um catequista e uma criança.

Que consequências isso pode ter? Pode levar a vítima a perder sua identidade, autoestima e capacidade de pensar por si mesma, já que agir contra o agressor é considerado agir contra Deus.

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