24 Setembro 2025
- Jornalista mexicana compartilha sua experiência como correspondente no Vaticano, sua proximidade com os Papas e os desafios do jornalismo católico hoje.
- "Diziam que era impossível que uma mulher tão jovem fosse correspondente"... Foi a primeira vez que um jornalista entrevistou um Papa.
A informação é de Javier Rodríguez Labastida, publicada por Religión Digital, 20-09-2025.
Valentina Alazraki é, há mais de cinco décadas, a voz que narra o Vaticano para milhões de pessoas no mundo de língua espanhola. Correspondente da Televisa desde 1974, sua trajetória a levou a acompanhar de perto seis pontífices, de Paulo VI ao atual Papa Leão XIV. Com seu estilo acessível e, ao mesmo tempo, rigoroso, ela se tornou uma referência no jornalismo religioso internacional.
Em uma conversa exclusiva com Desde la fe, Alazraki abre sua memória e seu coração para relatar o que significou narrar ao mundo as palavras e gestos de Paulo VI, João Paulo I, João Paulo II, Bento XVI, Francisco, e agora Leão XIV.
"Quando cheguei ao Vaticano, eu era muito jovem e não tinha experiência, mas tinha uma enorme paixão por contar o que via... E devo tudo a Jacobo Zabludovsky. Ele me disse: 'Você será meus olhos e ouvidos no Vaticano, e você lhe dará voz'", ela recorda.
Assim começou sua carreira, cobrindo o Angelus e a Audiência Geral do Papa Paulo VI, em uma época em que os Papas não davam entrevistas, o Vaticano era um lugar muito menos acessível para a imprensa e onde mulheres jornalistas eram a exceção.
"Apesar das cartas que meus chefes enviavam, eles as rejeitavam uma após a outra, porque diziam que era impossível que uma mulher tão jovem pudesse ser correspondente. Só me aceitaram em 1977, mas em uma categoria de 'segunda divisão'", alguns meses antes da eleição e do falecimento do Papa João Paulo I.
João Paulo II: o Papa que conquistou o México
Tudo mudou com a chegada de João Paulo II e, mais ainda, com sua primeira viagem ao México. A notícia religiosa então assumiu uma importância que nunca teve antes e, no voo para o México, algo inédito aconteceu. Jacobo Zabludovsky havia pedido a ela que conseguisse uma declaração do Papa, o que ela buscou e conseguiu. Foi a primeira vez que uma jornalista entrevistou um Papa.
"Eu lhe perguntei o que mais o animava, e ele respondeu: 'Guadalupe'". Assim começou a primeira coletiva de imprensa em um avião, pois, depois disso, o Papa concordou em responder às perguntas de todos os jornalistas que estavam a bordo.
De todas as fases de sua vida profissional, a mais intensa foi, sem dúvida, esta, e ainda mais pela sua proximidade com São João Paulo II, tão grande que sua filha se chama Carolina, por causa de Karol, o nome de batismo do Papa polonês.
Alazraki o acompanhou em mais de 100 viagens internacionais e foi testemunha privilegiada de sua proximidade com os povos. "João Paulo II era um homem de uma visão pastoral extraordinária", ela comenta.
"Ele sempre me disse que, no México, ele descobriu como queria ser Papa... Ele veio ao México e se apaixonou pelo México desde que desceu do avião, e o México se apaixonou por ele, e esse amor durou todo o seu pontificado, a ponto de ele querer vir cinco vezes. Um vínculo que ainda existe hoje."
Sua maior experiência espiritual
São João Paulo II também representa a maior experiência espiritual na vida da jornalista Valentina Alazraki.
"Vimos um João Paulo II jovem, carismático, simpático, com a energia de um redemoinho e pensávamos que esse carisma se devia a esses dons." No entanto, a doença que afligia o Papa debilitou rapidamente sua saúde: ele começou a tremer com uma das mãos, depois com a outra, foi se curvando e, mais tarde, começou a usar uma bengala.
"Foi aí que eu entendi várias coisas. Que sua verdadeira força estava dentro, e que sua fé era como uma rocha, ele era um homem extraordinariamente místico, de um misticismo pelo qual ele nunca renunciou, apesar da dor que viveu nos últimos anos.
"É uma lição de fé e fortaleza que me marcou como nada me marcou na vida. Desde então, sou incapaz de reclamar de algo, porque me envergonharia, depois de ter visto aquilo", ela reconheceu.
Bento XVI: uma renúncia histórica
O contraste veio com Bento XVI. Para Alazraki, o teólogo alemão representou outro modo de exercer o ministério petrino. "Ele trouxe todo o seu saber, o fato de que sempre escreveu e leu o ajudou a redigir documentos e livros extraordinariamente profundos".
Não era um homem de gestos grandiosos, mas de ideias claras, a quem, ela assegura, a imprensa tratou de maneira injusta. Do seu ponto de vista, sua renúncia em 2013 foi um ato de coragem e humildade.
Francisco: proximidade e espontaneidade
Em 2013, com a eleição do Papa Francisco, o Vaticano entrou em uma nova fase. "Francisco trouxe uma experiência pastoral extraordinária, porque ele andava de ônibus, se aproximava de jovens e viciados em drogas, ia às prisões, com uma linguagem direta e espontânea."
O Papa argentino soube colocar sobre a mesa os grandes temas do mundo: os migrantes, os pobres, a crise ambiental. "E ele o fez falando uma linguagem que todos entendem", diz Alazraki.
A jornalista conta que foi o próprio Jorge Mario Bergoglio quem lhe disse que sentia que não teria uma boa interação com os jornalistas, no entanto, ela o considera "um grande comunicador", a quem pôde entrevistar quatro vezes.
O início de Leão XIV
Um homem de governo, que aprendeu a governar como superior dos agostinianos e como responsável do Dicastério dos Bispos, o que implica um grande conhecimento da Igreja nas diferentes realidades.
De sua perspectiva, após os primeiros meses de pontificado de Leão XIV, para Valentina Alazraki, o novo Papa busca reconciliar a Igreja, que tem mostrado sinais de divisão nos últimos anos, também está interessado na questão da paz e no combate a qualquer forma de violência, dentro da família e na sociedade.
"Com uma personalidade mais reservada que o Papa Francisco, um homem que lembra os Papas anteriores, particularmente na riqueza que cada pontífice deixou, e isso fala da continuidade para manter o legado dos pontífices anteriores."
Seu discurso contra os abusos
Em 2019, o Papa Francisco convocou os presidentes das conferências episcopais do mundo para uma reunião para abordar o drama dos abusos sexuais contra menores dentro da Igreja.
Nessa ocasião, Valentina Alazraki foi convidada a dar uma palestra para os líderes das Igrejas locais no mundo, um fato inédito na história do jornalismo mexicano e também no Vaticano.
"Como jornalista, a mensagem foi dizer-lhes que a culpa pelos escândalos de pedofilia não era da imprensa. O papel da imprensa foi denunciar esses escândalos porque eles ocorreram. Os jornalistas devem estar do lado das vítimas.
"Hoje, ainda falta transparência, novas normas impulsionadas pelo Papa Francisco foram implementadas, mas o caminho é lento... A Igreja deve ser proativa. Não ficar sempre se defendendo ou responder tarde às notícias que a envolvem", ela diz.
A missão do jornalismo na Igreja
Com a experiência de mais de 50 anos exercendo o jornalismo, Valentina Alazraki faz uma afirmação contundente: "A Igreja tem a melhor mensagem", no entanto, de sua perspectiva, nos últimos anos ela tem pecado em sua forma de anunciá-la.
Segundo ela, os comunicadores católicos precisam ser habilidosos para "vender a notícia": "É preciso se profissionalizar. Você tem que aprender a ver as partes positivas e saber vendê-las, colocá-las nas redes, no mercado global."
E essa referência não é apenas para os leigos que trabalham dentro da Igreja ou que têm um projeto de comunicação católico. Também é para os sacerdotes e seminaristas.
Uma ponte entre o México e os papas
Sua história não é apenas profissional: também é humana. Valentina garante que continua se surpreendendo, se entusiasmando com a profissão de jornalista, que ela adorou desde os 23 anos, quando se tornou a correspondente do Vaticano.
"O jornalismo é algo que se tem no sangue, é uma paixão. Não tem idade. É preciso trabalhar duro", ela garante.
Que legado você gostaria de deixar?, eu pergunto.
Ter sido essa pequena ponte entre o México e os Papas e ter tentado aproximar o México do coração dos Papas. Aproximar o Papa não como uma figura, mas como um ser humano, e estabelecer essa empatia."
E ela também tem claro como gostaria de ser lembrada: "Como uma pessoa simples que uniu corações."
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