23 Setembro 2025
Em 18 de setembro, foi publicado o primeiro verdadeiro livro sobre o agostiniano Robert Francis Prevost. Foi escrito por Elise Ann Allen. Das 270 páginas, as últimas trinta são dedicadas a uma longa entrevista com o papa. O perfil que emerge confirma o caráter equilibrado e paciente do homem. Que, como um especialista em desarmamento de bombas, tenta desarmar explosivos em um campo minado por divisões e polarizações que existem na Igreja há quase meio século.
A informação é de Giovanni Maria Vian, publicada por Domani de 21-09-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Leão, o desminador: essa é a impressão que fica da leitura do primeiro verdadeiro livro sobre o agostiniano Robert Francis Prevost. O papa pan-americano há quase cinco meses está, de fato, ensaiando seus primeiros passos, cautelosos, mas confiantes, como um especialista em desarmamento de bombas encarregado de desarmar explosivos em um campo minado por divisões e polarizações que existem dentro da Igreja há quase meio século, exacerbadas nos últimos anos pelo exercício absoluto e autocrático do poder praticado por seu antecessor. Ele o fará com paciência e coragem, sem causar novas fissuras entre os católicos divididos e aflitos.
Com sua eleição no conclave, Leão XIV acrescentou a cidadania vaticana àquelas estadunidense e peruana, duas características que marcaram profundamente sua biografia. Ao ser eleito, o pontífice falou em italiano e em espanhol, a língua do país onde serviu primeiro como missionário e depois como bispo por quase uma década.
Da Loggia da Basílica de São Pedro, Prevost leu – ostensivamente em algumas páginas – um texto que havia preparado e escrito nas horas que antecederam a fumaça branca. Somente nos dias seguintes, e raramente nos últimos meses, o primeiro papa estadunidense optou por falar em inglês, improvisando muito pouco.
A entrevista
A esses claros sinais iniciais soma-se agora a escolha do livro, escrito em inglês pela jornalista estadunidense Elise Ann Allen, mas publicado em espanhol e lançado em 18 de setembro no Peru. Somente nas próximas semanas a biografia será lançada em inglês e português (as outras principais línguas americanas), e depois certamente na Itália e em outros países.
Uma frase que o Papa proferiu à autora diz tudo: "No parezco el gringo típico" (Eu não pareço o típico gringo). Isso também se deve à aparência geral, mais latina do que ianque, devido às origens multiétnicas da família, que foram imediatamente investigadas pelas mídias estadunidenses e que Prevost acabou em parte descobrindo com seus dois irmãos mais velhos, Louis e John, após sua eleição no conclave: antes disso, "nem tínhamos ideia".
Das 270 páginas do livro, que em seu título apresenta Leão XIV como "cidadão do mundo, missionário do século XXI", as últimas trinta são dedicadas a uma longa entrevista com o Papa.
A autora, que conhece Prevost há quase sete anos, encontrou-se com ele duas vezes: em 10 de julho, em Castel Gandolfo, e em 30 de julho, no apartamento do palácio do Santo Ofício onde o pontífice mora, a poucas dezenas de metros da Sala Nervi e da Cúria dos Agostinianos, a ordem à qual Prevost pertence e da qual foi Prior Geral por doze anos. O livro se baseia nessas duas conversas, que também se vale de dezenas de testemunhos coletados de amigos, coirmãos e conhecidos de Prevost. O perfil que emerge confirma o caráter equilibrado e paciente do homem. Justamente como o descreveu seu irmão John, que — ao contrário de seu outro irmão (Louis, um defensor declarado de Trump, agora bem ciente da necessidade de se proteger contra as instrumentalizações) — vê nele um segundo Papa Francisco.
O caráter de Robert é fruto, antes de tudo, de uma infância e adolescência felizes, depois de uma sólida formação: em matemática, em teologia e em um direito canônico, estudado e depois vivenciado à frente de uma ordem religiosa de tradição antiga e difusão mundial. Em contextos muito diversos entre si, dos Estados Unidos a Roma, num Peru devastado pelos desequilíbrios sociais, pela guerrilha e por uma repressão igualmente ferozes, e finalmente na Cúria Romana.
A arte de escutar
"Eu sei escutar", diz Prevost à sua interlocutora: sempre o fez, e é isso que está fazendo. Em um número crescente de audiências privadas para escutar todas as vozes, lendo centenas de papéis e documentos. Confortável com "o aspecto pastoral", o papa reconhece que ainda tem muito a aprender sobre a governança central da Igreja. Ele imediatamente tranquilizou, lembrando, por um lado, que os papas passam e a Cúria permanece, e, por outro, enfatizando o papel central da Secretaria de Estado, sistematicamente marginalizada por Francisco. Como prior geral dos agostinianos e bispo no Peru, encarregado, entre outras coisas, de missões difíceis, governou com decisão, às vezes temperada pela diplomacia. Como quando, no México, conseguiu resolver casos de corrupção financeira, opondo-se firmemente a alguns coirmãos rebeldes cujas contas bancárias não eram exatamente transparentes. Ou quando, no Peru, enfrentou o flagelo dos abusos e das divisões na Igreja, onde havia uma forte presença de bispos da Opus Dei e, em Callao, o porto de Lima, dos neocatecumenais.
O próprio Prevost comenta em muito momentos a reconstrução do livro, como no caso da sede vacante após a morte de Bergoglio, narrada sem novidades. Mas, ao contrário de seu antecessor, que era pródigo em revelações nem sempre coerentes nem convincentes, Leão XIV — como Ratzinger já fizera com Pedro Seewald, seu biógrafo — responde claramente à pergunta da autora: sobre a obrigação do segredo: "Não quero dispensar nem a mim mesmo", embora depois mencione circunstâncias que mereceriam "um grande livro". Prevost acreditava que o conclave não elegeria um estadunidense, mas admite que, nas reuniões preliminares, muitos cardeais estavam olhando especificamente para ele.
Entre Francisco e Elizabeth II
As respostas do Papa na entrevista final, divulgadas antecipadamente às mídias, são uma obra-prima de equilíbrio e tocam nas principais questões que ele terá que enfrentar. Prevost alerta que tem "algum conhecimento" de temas econômicos e confirma que continuará na recuperação das finanças da Santa Sé, que ele define como não tão alarmantes, e na reforma da Cúria, cuja persistente divisão em compartimentos estanques ele deplora.
Em relação às guerras na Ucrânia e em Gaza, mas também nas relações com a China e os Estados Unidos, ele é cauteloso e realista, ciente da missão evangelizadora específica da Igreja. Esta, acima de tudo, é a prioridade de Leão XIV, relativamente distante da política – mesmo a de seu próprio país – e chamado por seu papel a garantir a unidade dos católicos, divididos em muitas questões, da liturgia à bioética.
A distância implícita em relação ao seu antecessor é reiterada em cada uma de suas ações e em quase todas as suas respostas, desde a indispensável relação com o judaísmo até as relações ecumênicas. Esse aspecto será crucial na próxima provável viagem à Turquia para comemorar o Concílio de Niceia, que poderia se estender ao Líbano.
Na entrevista, e especialmente na perspectiva do pontificado, o livro aborda muitos temas.
"Leão XIV destaca sua diferença com o pontificado de Francisco", expressa com eficácia o Le Figaro, enquanto no New York Times, um historiador e professor de Oxford propõe uma sutil comparação entre o pontífice e a soberana britânica, Elizabeth II, que sabia apresentar "um quadro geral para refletir sobre uma questão sem afastar as pessoas". E, pode-se acrescentar, sem permitir que ninguém ditasse sua agenda.
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