09 Setembro 2025
"Ações como a da Flotilha Global Sumud demonstram que se, por um lado, a sociedade civil se vê impossibilitada de prestar assistência, por outro, está acostumada a fazer muito pouco para se fazer ouvir. Além do que já foi dito, o valor da missão também se reflete em uma maior consciência de que, juntos, podemos promover grandes mudanças"
O artigo é de Carlo Petrini, publicado por La Stampa, 04-09-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Carlo Petrini é fundador do Slow Food, ativista e gastrônomo, sociólogo e autor do livro Terrafutura (Giunti e Slow Food Editore), no qual relata suas conversas com o Papa Francisco sobre ecologia integral e o destino do planeta.
Eis o artigo.
Há alguns dias, fiquei sabendo que uma jovem concidadã minha participará da operação humanitária e não violenta da Flotilha Global Sumud. Com o lema "quando o mundo fica em silêncio, nós zarpamos", essa coalizão da sociedade civil se prepara para empreender a maior missão pacífica de todos os tempos. Muitos falam sobre isso, mas o que importa é que dezenas de milhares de pessoas expressaram seu interesse em se juntar à frota para levar ajuda concreta à martirizada e cada vez mais extenuada população palestina.
Bem, a presença de Linda Ansaldi, bem como a de muitos jovens civis vindos de 80 países ao redor do mundo que, se o tempo permitir, se preparam para partir de vários portos do Mediterrâneo justamente nestes dias, despertou em mim uma mistura de sentimentos.
Em primeiro lugar, só posso expressar minha solidariedade por essas pessoas, que repudiam as injustiças e as políticas criminosas que o Estado de Israel está perpetrando na Faixa de Gaza. Soma-se a isso o orgulho pela coragem que tantas vidas jovens demonstram em embarcar em uma empreitada justa e virtuosa, mas que, infelizmente, tem um resultado nada certo. Digo isso também à luz das recentes ameaças vindas das mais altas autoridades israelenses, que se declaram dispostas a tratar a tripulação desarmada dessas embarcações como perigosos terroristas. Por isso, a preocupação com o destino desses e dessas ativistas é igualmente forte e tangível.
Vale ressaltar que, diante da indignação e da condenação pelo que agora se configura como um verdadeiro massacre, o que estamos prestes a testemunhar não é uma simples operação humanitária, mas um gesto político forte e claro. Um gesto que, além de prestar apoio e ajuda, visa mudar um cenário que se tornou indecente, onde a política internacional permanece silenciosa, às vezes incompetente, às vezes cúmplice. Basta pensar na vergonhosa cena em que Benjamin Netanyahu entregou a Donald Trump a solicitação que o próprio primeiro-ministro israelense havia apresentado, indicando para o Prêmio Nobel da Paz o magnata. Na minha opinião, tal reconhecimento seria mais apropriado à memória dos mais de 200 jornalistas que morreram no exercício de sua profissão.
Ações como a da Flotilha Global Sumud demonstram que se, por um lado, a sociedade civil se vê impossibilitada de prestar assistência, por outro, está acostumada a fazer muito pouco para se fazer ouvir. Além do que já foi dito, o valor da missão também se reflete em uma maior consciência de que, juntos, podemos promover grandes mudanças. Como dizia o Papa Francisco, para que a água mude de estado, e de líquido possa começar a ferver e depois evaporar, precisa do calor que vem de baixo. Por isso, também faço questão de dar o devido crédito a todas as iniciativas que, embora menos ousadas nos gestos, deram um verdadeiro apoio à operação da Flotilha Global Sumud. Por exemplo, a campanha de arrecadação de alimentos realizada em Gênova nos últimos dias. Ao lado da prefeita Salis, muitos jovens deram uma contribuição concreta para a arrecadação das 300 toneladas de alimentos destinados a Gaza. Entre eles, reconheci também vários ex-alunos da Universidade de Pollenzo, que presido.
Tudo isso só gera em mim um profundo sentimento de esperança por uma geração à qual, descuidados e impudentes, estamos deixando um mundo à beira do abismo. Essa perspectiva até me ajuda a passar por cima, sem me dignar a comentar as declarações vindas de figuras da nossa política, que tentam vincular essa missão de ajuda aos palestinos ao antissemitismo ou à atividade militar e fundamentalista do Hamas. Todos esses jovens que embarcam neste momento o fazem porque têm bem impresso em suas mentes que um futuro melhor só é possível se todos os indivíduos puderem se beneficiar de seus efeitos.
Nesse sentido, concordo plenamente com Tahar Ben Jelloun, um proeminente intelectual marroquino, que acusa Netanyahu de futuricídio. Isso é o que há de mais verdadeiro, porque, ao semear ódio, morte e todo tipo de sofrimento, hoje nós não conseguimos sequer imaginar o que poderá representar o futuro aquela faixa de terra e de todos os que nela viverão. Porque a destruição que está sendo vítima Gaza também visa minar as condições de vida e a existência futura da Faixa. E esse é o verdadeiro objetivo de Israel: negar um futuro aos palestinos sobreviventes.
Junto com a frota de ativistas, também o navio Life Support da Emergency (uma embarcação de busca e socorro) zarpará de Catânia. Isso só me faz lembrar do meu amigo Gino Strada, fundador da Emergency, que, durante um encontro público de Terra Madre, tinha afirmado: "A agricultura produz alimentos, se não houver muitas minas no solo. Alimenta as pessoas. Custa pouco e rende muito, enquanto a guerra custa muito e não rende nada à humanidade." Sabe-se lá o que Gino teria dito sobre essa terrível opressão, onde a comida e a fome são até declaradas instrumentos de guerra.
Por isso, ao lado do seu navio, das mãos de um jovem ativista, também tremulará orgulhosa a bandeira do Slow Food.
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