13 Agosto 2025
"Estão tentando, tarde demais, compensar anos de negligência".
O artigo é de William Grimm, publicado por Uca News, 04-08-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
William Grimm nasceu em Nova York, é missionário e padre que esteve em missão no Japão, Hong Kong e Camboja desde 1973.
O presidente Donald Trump e seus apoiadores transformaram o governo dos Estados Unidos em uma máquina de guerra que usa meios cruéis e muitas vezes imorais e ilegais para acumular poder e proteger e aumentar a riqueza de alguns poucos eleitos, especialmente do próprio Trump.
Programas de saúde essenciais que protegem milhões de estadunidenses pobres estão em risco. Pesquisadores que estudam doenças, mudanças climáticas e outras crises foram demitidos. Os socorros em casos de incêndios, tempestades e inundações são, eles próprios, um desastre devido aos cortes de orçamento e pessoal. A ajuda às regiões mais pobres do mundo foi cortada sem aviso prévio, explicações ou planos alternativos. O sistema comercial mundial virou um caos devido à aplicação caprichosa de tarifas.
Amizades e alianças internacionais estão à mercê de mudanças políticas erráticas e reivindicações imperialistas contra o Canadá, a Groenlândia e o Panamá.
Departamentos governamentais são liderados por homens e mulheres cuja única qualificação é a lealdade incondicional às decisões finais de seu líder.
A lealdade ao líder, acima da justiça da atitude e do bom senso, subverteu o Partido Republicano e o transformou em uma paródia das ditaduras europeias como a Rússia stalinista, onde a lealdade ao partido e sua lealdade ao líder prevalecem sobre a lealdade à nação, sem falar nas exigências da justiça.
A disfuncionalidade perversa do regime é particularmente evidente na maneira desajeitada e racista com que o problema dos migrantes sem documentos é tratado. Nações europeias e outras partes do mundo também enfrentam o afluxo de pessoas fugindo da violência, da pobreza e das catástrofes naturais.
Uma abordagem racional e humana à situação exige um esforço conjunto dos países de destino para melhorar as condições que levam as pessoas a abandonar suas casas e enfrentar perigos, morte e exploração ao longo de sua viagem.
Em vez disso, nos Estados Unidos, esses migrantes e refugiados estão sendo agora difamados e presos de maneiras que lembram a polícia nazista e comunista. O principal critério para apreensão, detenção e deportação é racial, visando principalmente latino-americanos. Comentaristas apontam para a ironia de que a última esposa de Trump tenha violado as leis de imigração quando chegou aos Estados Unidos pela primeira vez. Mais de 62 milhões de estadunidenses se definem como católicos, e muitos deles apoiaram o trumpismo.
Entre aqueles que favoreceram esse regime, tácita ou explicitamente, estão os bispos. Agora que poderiam ter reconsiderações, podemos esperar que mobilizem os milhões de católicos do país para pôr fim a essa desumanidade?
Na realidade, o que alguns bispos e suas conferências fizeram foi contratar advogados para defender no tribunal indivíduos, famílias e organizações vítimas do que é cada vez mais um culto à personalidade e à crueldade que, sem exagero, foi definido de fascista. Por que recorreram a ações judiciais como resposta? Por que não mobilizaram os católicos estadunidenses? Por que aos católicos entre os apoiadores e perpetradores da ditadura não foi negada a Eucaristia ou não foram publicamente condenados por seus bispos, como aconteceu no passado com políticos que não apoiaram incondicionalmente a posição dos bispos sobre o aborto? Por que os bispos que no passado eram tão veementes em relação ao aborto agora se calam? Por que sua conferência não apoiou de todo o coração e publicamente aqueles poucos bispos que protestaram?
Uma das explicações poderia ser o constrangimento. Os bispos e pelo menos um cardeal que no passado adularam Trump hoje são compreensivelmente reticentes. Alguns poderiam até continuar a apoiá-lo.
A triste verdade é que os bispos precisam recorrer a advogados porque não são mais capazes de liderar os católicos estadunidenses. Não podem liderá-los porque não têm mais seguidores. Não são mais ouvidos, muito menos seguidos.
A principal causa da alienação entre católicos e bispos é, sem dúvida, o escândalo dos abusos sexuais. Bispos transferiram predadores de um local para outro sem se preocupar com a segurança das crianças e das outras pessoas vulneráveis. Várias "medidas de segurança" foram implementadas, mas os bispos ainda precisam assumir a responsabilidade por suas próprias ações, omissões e comportamento pessoal.
Além disso, enquanto o restante da Igreja Católica, sob a liderança do Papa Francisco, avançou em direção à sinodalidade, ao cuidado da criação e uma abordagem pastoral para as questões de vida familiar, gênero e similares, os bispos dos EUA se fixaram na teologia pélvica, uma atenção obsessiva na região entre o umbigo e os joelhos. Posicionaram-se contra o aborto, o gênero e a sexualidade, excluindo o ensinamento mais ampla da Igreja, e seu monótono zunido negativo afastou um grande número de católicos, levando muitos a abandonar a Igreja por completo.
Os bispos estadunidenses se opuseram a Francisco sobre a sinodalidade, sobre as questões sexuais e assim por diante, e o ignoraram sobre a questão dos imigrantes. Agora, estão tentando desesperadamente disfarçar o mau cheiro de sua politização. Mas, tendo perdido a capacidade de liderar, os bispos estão agora reduzidos a recorrer a processos judiciais e declarações que poucos ouvirão ou lerão na tentativa de despertar o povo católico.
Estão tentando, tarde demais, compensar anos de negligência.
Sem uma reconstituição total da hierarquia estadunidense, é improvável que a Igreja nos Estados Unidos se torne uma presença profética em um momento em que os profetas são mais necessários do que nunca. Os leigos devem assumir o comando de sua Igreja sem liderança.