05 Junho 2025
As pressões por uma abertura real às mulheres continuam e, na Alemanha, o debate, após a morte do Papa Francisco e a eleição de Leão XIV, voltou a ganhar força na Igreja, na expectativa de entender como o novo pontífice irá abordar a grande questão do diaconato e do sacerdócio feminino (embora, neste caso, o tema esteja barrado). O cardeal alemão, teólogo super-reformista, Walter Kasper sempre foi a favor do diaconato feminino e, em sua biografia, explica o quanto são necessárias novas reformas. “Na minha opinião pessoal, abrir o diaconato permanente às mulheres tem bons argumentos teológicos a seu favor e seria um passo pastoral sensato. Mulheres e homens têm a mesma dignidade diante de Deus e, portanto, devem ser reconhecidos com seus próprios carismas”. Enquanto isso, está causando grande preocupação (especialmente no Vaticano) o que está acontecendo na Faculdade de Teologia da Universidade de Freiburg, onde há um caso macroscópico que explodiu em toda a sua evidência.
A reportagem é de Franca Giansoldati, publicada por Il Messaggero, 03-06-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
Muitos docentes estão apoiando a campanha pela candidatura de nove jovens teólogas para que possam se tornar sacerdotisas. “A campanha é um sinal forte e corajoso”, consta em uma declaração publicada pela direção da faculdade. “Estamos empenhados em apoiá-las”.
Na universidade, ressalta-se que não haveria razões convincentes e científicas contra a ordenação de mulheres sacerdotes. “Como professores da Faculdade de Teologia da Universidade de Freiburg, apoiamos as preocupações dos estudantes e de todos aqueles que são a favor de um debate honesto sobre o desenvolvimento futuro da estrutura ministerial da Igreja”, lê-se na declaração.
É claro que nem todos os professores apoiaram essa posição, um grupo permaneceu à margem, considerando-a um rompimento. De qualquer forma, há alguns dias, nove estudantes de teologia apresentaram o pedido de admissão ao seminário de Freiburg, recebendo imediatamente um amplo apoio no Instagram. “Estou convencida de que eu seria um grande recurso para a arquidiocese de Freiburg como sacerdotisa”, escreveu uma das mulheres em sua carta de candidatura. “Deus quer que todos possam trabalhar na igreja em liberdade e no cumprimento da própria vocação”, escreve outra.
De acordo com o direito canônico e o magistério, apenas os homens podem se tornar sacerdotes. A proibição para as mulheres foi criticada por décadas, mas até agora nunca houve nenhuma mudança à vista.
Nas igrejas protestantes e anglicanas, as mulheres podem se tornar pastoras e bispas, mas por enquanto não na Igreja Católica. Agora se espera uma palavra de Leão XIV para entender qual será sua orientação.
As teólogas de Freiburg têm entre 22 e 30 anos e fazem parte da iniciativa “Meu Deus não discrimina – minha igreja sim”. Cinco delas se inscreveram anonimamente porque temem, segundo a agência católica KNA, consequências profissionais negativas. O responsável pelo seminário, o bispo auxiliar Christian Würtz, elogiou as candidaturas como um bom sinal do empenho e da seriedade com que as mulheres estão enfrentando sua vocação e seu percurso na Igreja.
Enquanto isso, o bispo de Paderborn, Udo Markus Bentz, a respeito do processo de reforma em curso, com contornos muito mais amplos do que cinco anos atrás, que trouxe à Alemanha um forte vento de mudanças, deixou claro que não vê no novo pontífice um adversário do diálogo e das reformas. Em seu cargo anterior como prefeito da Congregação dos Bispos, Robert Prevost não era visto como um obstrucionista do caminho sinodal.
A questão feminina na Igreja já se tornou “uma mega questão”, afirmou o cardeal Kasper, acrescentando que, entre outras coisas, há muitos cargos com responsabilidade de liderança na Igreja que não exigem autorização sacramental e podem também ser confiados a mulheres.
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