05 Junho 2025
Stephanie Gans, formada em teologia, juntamente com outras estudantes, apresentou sua candidatura ao seminário presbiteral de Freiburg, na Alemanha, causando grande repercussão na mídia. Mantendo abertos os contatos e as relações, ela quer contribuir para uma mudança na Igreja Católica.
A reportagem é de Jacqueline Straub, publicada por kath.ch, 04-06-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
No fim de maio, você e outras oito estudantes se candidataram para se tornarem sacerdotes no seminário de Freiburg, na Brisgóvia. Por quê?
A Igreja está muito atrasada em matéria de igualdade de direitos. Com nossa ação, quisemos dar um sinal e tornar visível esse problema. Porque há muitas jovens mulheres competentes que nutrem o desejo de exercer o ministério presbiteral.
Mas por que vocês não abordam esse tema em nível científico?
Porque já foi dito tudo. Estamos cansadas de discutir em metanível. Queríamos mostrar que existem histórias de desejo e contribuir para a mudança contando nossas histórias de vocação.
Com sua iniciativa, vocês não se tornarão padres. Porque isso deve ser permitido pelo Papa – e o Papa Leão XIV se manifestou contra o sacerdócio feminino no passado. Por que em sua opinião essa iniciativa é ainda assim significativa?
O tema da igualdade de direitos não deve ficar em segundo plano. E, graças à rede internacional das mulheres, chega cada vez mais a Roma. Desejo que o Papa Leão XIV escute as exigências das pessoas e não se deixe mais limitar por argumentos de autoridade, mas permita que a Igreja se mova e seja flexível.
Você teve uma conversa com o diretor do seminário de Freiburg, o bispo auxiliar Christian Würtz. Como foi a conversa?
Foi uma conversa autêntica e sincera. Achei-o muito respeitoso. A conversa, que durou duas horas, foi conduzida por um moderador que perguntou se o reitor aceitaria as candidaturas se fossem apresentadas por nove homens.
O que ele respondeu?
Ele ficou em silêncio por alguns segundos. Depois, com hesitação, disse que naturalmente o teria feito.
Apenas os homens podem entrar no seminário porque apenas eles podem ser ordenados. Como pretendem mudar essas estruturas rígidas?
Era claro que não seríamos admitidas no seminário. Mas tentamos mudar algo, dentro de nossa alçada. Com a nossa ação, questionamos a imagem do homem e de Deus da Igreja Católica, porque é fortemente orientada para o poder masculino. Gostaríamos também que se refletisse sobre a imagem da mulher que é transmitida aos seminaristas. Espero que o bispo auxiliar Christian Würtz inicie um diálogo com outros bispos e responsáveis sobre a formação dos padres e leve adiante nossas solicitações.
Em sua candidatura, você escreve que, como coroinha, raramente atingiu os limites do sistema. Mas, como estudante de teologia, sim: “Na Igreja, a discriminação está na ordem do dia”. Quando percebeu essa discriminação pela primeira vez?
Durante os estudos de teologia, foi claramente posto diante dos meus olhos qual é o lugar das mulheres na Igreja. Por muito tempo, não admiti a possibilidade de ter uma vocação sacerdotal, porque sabia que as mulheres não podem ser ordenadas. E também por medo da dor que isso comportaria, simplesmente deixei de refletir sobre isso na oração com Deus.
Quando admitiu essa possibilidade?
Durante uma semana de exercícios espirituais, há alguns anos. E, de repente, senti uma sensação de leveza e paz. No entanto, sou constantemente lembrada dos meus limites. Porque a minha Igreja não reconhece a minha vocação.
Você apresentou a sua candidatura publicamente, quatro mulheres fizeram-no de forma anônima porque temem repercussões negativas na sua carreira. Por que você o faz publicamente?
Gostaria de trabalhar para uma Igreja que me aceitasse como sou. Para algumas, o sistema do medo ainda funciona tanto que temem não conseguir nenhum encargo se declararem publicamente a sua vocação sacerdotal.
Durante a entrega das candidaturas, vocês foram filmadas. O vídeo já ultrapassou 430 mil visualizações no Instagram. Vocês esperavam tal repercussão?
Não. Naquele dia, fomos ao seminário com o jornal local porque não queríamos que nossas candidaturas fossem jogadas no lixo. Nunca imaginei que receberíamos tanta atenção da mídia – nesse interim, vários grandes meios de comunicação noticiaram a iniciativa. E também o fato de haver uma entrevista com o reitor, para o nosso grupo, no início, era apenas um desejo.
O que deu ao grupo a coragem de iniciar tal iniciativa?
Eu nunca teria começado essa iniciativa se já não houvesse passos corajosos por parte de mulheres com vocação sacerdotal. Por exemplo, as 150 mulheres que, no livro “Weil Gott es so will” (Porque Deus assim o quer), da irmã Philippa Rath, contam seu desejo de exercer o ministério sacerdotal.
Você espera que também estudantes suíças que querem se tornar padres apresentem suas candidaturas aos seminários?
Com certeza! Esperamos que muitas mulheres suíças apresentem sua candidatura ao seminário, individualmente ou em grupo. Cada candidatura conta, porque conta uma história. Pode contribuir para a mudança.
Quais são os próximos passos?
Haverá outra entrevista com o bispo auxiliar Würtz. Sei que a mudança não acontecerá da noite para o dia. Por isso é importante trabalhar sobre as relações e manter o diálogo.
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Stephanie Gans (27 anos) está cursando o último semestre de teologia católica na Universidade Albert Ludwig de Freiburg. Junto com outras oito estudantes e graduadas em teologia, ela apresentou sua candidatura ao seminário de Freiburg, apesar de as mulheres continuarem a ser excluídas das ordens sagradas da Igreja. A iniciativa foi organizada pelo movimento #meinGottdiskriminiertnicht (meu Deus não discrimina), que luta pela igualdade de direitos e pela eliminação das estruturas discriminatórias que favorecem o abuso de poder na Igreja Católica.