04 Junho 2025
"Resiliência, no entanto, não é um elogio: é um elogio a alguém que optou por não intervir. Há um conforto covarde em chamar de resiliente alguém que realmente resiste", escreve Canaan Mansour López, palestino na diáspora, vivendo na Espanha, em artigo publicado por El Salto, 04-06-2025.
Segundo ele, "ser palestino é viver duas vidas ao mesmo tempo: uma em que se chora; e outra em que se luta. E em ambas, é preciso justificar repetidamente a própria humanidade diante de um mundo que transformou o sofrimento em ruído de fundo".
Ser palestino é difícil. Não por causa da terra, não por causa da língua, nem mesmo por causa do inimigo. É difícil porque viver como palestino significa viver sob suspeita, sob cerco, sob o peso de um genocídio que o mundo assiste ao vivo... e permanece em silêncio.
É difícil quando seus filhos são cortados em pedaços e suas oliveiras, com raízes centenárias, são arrancadas do chão, como se apagar árvores pudesse apagar a memória. É difícil quando cada ato da vida — caminhar, rir, ensinar, semear — se torna um gesto de resistência. Em um mundo onde a injustiça exige elegância e a brutalidade se disfarça de diplomacia, ser palestino não é simplesmente uma questão de origem: é um fato político. Uma provocação involuntária. Uma afronta viva à ordem estabelecida.
Dizer-se palestino é desafiar narrativas oficiais, questionar as fronteiras traçadas em escritórios distantes e lembrar ao mundo que existem povos que, apesar de tudo, se recusam a desaparecer. Os palestinos não caminham com nostalgia do que foi perdido; eles caminham com uma consciência lúcida do que foi roubado.
Não se trata apenas de ocupação militar, mesmo que os muros, drones e postos de controle sejam reais e sufocantes. Trata-se de um sistema global que exige que os oprimidos se expressem com moderação, enterrem seus filhos em silêncio e equilibrem sua raiva para não perturbar a sensibilidade do público internacional. À medida que as bombas caem, eles são instados a serem prudentes. À medida que sua história é apagada, eles são obrigados a ser razoáveis. São chamados de "resilientes", como se resistir ao extermínio fosse uma virtude estética.
Resiliência, no entanto, não é um elogio: é um elogio a alguém que decidiu não intervir. Há uma facilidade covarde em chamar de resiliente alguém que realmente resiste. Porque resiliência, pelo menos como é pronunciada nos salões do Ocidente, implica perseverar, suportar, adaptar-se. Mas o que o povo palestino faz não é se adaptar à injustiça: ele a rejeita ativamente. Em seus corpos, em suas palavras, em sua arte, em sua memória viva.
Ser palestino é viver duas vidas ao mesmo tempo: uma em que se chora; e outra em que se luta. E em ambas, é preciso justificar repetidamente a própria humanidade diante de um mundo que transformou o sofrimento em ruído de fundo. As mortes de palestinos não interrompem a programação habitual. Seus gritos ecoam nos murais das redes sociais, classificados como "conteúdo sensível". Sua existência é censurada para não ofender sensibilidades. E, no entanto, eles resistem. Eles se organizam. Ensinam aos filhos os nomes de aldeias que não existem mais nos mapas, mas existem em canções, em bordados, nas chaves que ainda pendem dos muros do exílio. Recitam poesias onde outros lançam mísseis. Limpam as ruínas e plantam girassóis. Constroem um futuro com as migalhas deixadas pelo presente.
Há quem acredite que a Palestina seja uma causa perdida; no entanto, há algo profundamente revolucionário em continuar a amar uma terra que o mundo insiste em negar. Em continuar a acreditar que se pode viver com dignidade onde outros só semeiam escombros. Em não se deixar domesticar pelo horror. Em tempos em que a neutralidade é vendida como virtude, lembrar que os oprimidos não são obrigados a ser gentis é essencial. Não é o tom do seu grito que deve ser julgado, mas a violência que o provoca.
Ser palestino não é apenas uma questão de sangue ou geografia. É uma declaração política, uma recusa persistente em ceder ao esquecimento. É ser o espinho na espinha da narrativa dominante, a voz que se recusa a ser silenciada, a testemunha desconfortável de um crime em curso. Ser palestino é recusar-se a ser uma metáfora. O que o mundo chama de resiliência nos palestinos nada mais é do que uma projeção alienígena, incapaz de compreender a dignidade que os move a resistir. Os palestinos não suportam passivamente tragédias sem fim, nem existem para provocar a piedade dos outros.
O palestino tem projetos: escolas surgindo entre os escombros, casamentos celebrados sob o zumbido dos drones, crianças aprendendo o alfabeto à luz de velas durante os apagões. O palestino cultiva a terra onde uma bomba caiu ontem; planta oliveiras como se afirmasse que o futuro ainda é possível. É mãe, arquiteto, poeta, estudante; é um velho que se lembra da aldeia e uma criança que a desenha, mesmo sem nunca ter posto os pés lá.
O palestino não resiste por inércia: resiste por dignidade. Porque sua vida não é uma espera resignada, mas uma afirmação diária e corajosa de que merece viver plena e livremente, sem pedir permissão a ninguém. E que fique claro de uma vez por todas: não somos resilientes para o seu consolo. Somos resilientes para a nossa liberdade.