24 Mai 2025
Em 2001, a Studia patavina, revista da Faculdade de Teologia do Triveneto, acolheu uma das raras contribuições de David Tracy disponíveis em italiano, fruto de um congresso realizado em Pádua (intitulado "A renomeação pós-moderna de Deus como incompreensível e oculto"), no qual ele retomou uma de suas principais teses, relativa aos critérios de interpretação dos textos bíblicos. O diretor da revista, Stefano Didonè, traça o perfil do teólogo americano recentemente falecido.
O artigo é de Stefano Didonè, diretor da Studia patavina, revista da Faculdade de Teologia do Triveneto, publicado por Settimana News, 22-05-2025.
Com David Tracy (1939-2025) desaparece não apenas um dos últimos discípulos de Bernard Lonergan, o "grande metodologista da teologia", mas também uma das figuras mais representativas do panorama teológico católico norte-americano dos últimos trinta anos.
Para ainda poder falar de Deus num contexto radicalmente pluralista como o pós-moderno – observa Tracy – é necessário reconciliar-nos com a natureza fragmentária e sempre aberta do discurso teológico, para o qual ele precisa de se desenvolver numa perspetiva hermenêutica aberta e nunca “definitiva”. Entender é interpretar. Isso não é isento de riscos, mas a mera repetição geralmente nunca aparece como a verdadeira tradição.
Desde seus primeiros trabalhos, a produção do teólogo de Chicago é caracterizada por uma busca constante e determinada por uma nova maneira de credenciar a teologia no contexto público secular, interpretando a tensão frutífera entre modernidade e pós-modernidade como uma oportunidade para desenvolver uma nova metodologia e uma nova linguagem para pensar sobre Deus, uma alternativa às formas mais convencionais da tradição cristã.
Esse movimento inicial se explicita pela identificação de uma analogia entre a revelação de Deus, testemunhada na tradição cristã, e aquela encontrada nas experiências comuns da vida, inclusive as experiências-limite.
Dessa analogia nasceu o método da correlação crítica (paradigma crítico-correlacional), método que permeia toda a sua produção teológica, infelizmente ainda em grande parte inacessível ao leitor italiano. Tracy acrescenta progressivamente novas "fontes" às "fontes" tradicionais da teologia, extraídas tanto das Escrituras (dos profetas e místicos) quanto de formas de cultura linguisticamente "transgressivas".
Enquanto os críticos de Tracy veem nessas opções o privilégio (e a dívida) para com a dimensão linguística em relação à dimensão do conteúdo no discurso teológico, para o teólogo norte-americano a complexidade da experiência humana parece irredutível em relação aos cânones do discurso teológico conceitual. Isso não significa ignorar o valor do “clássico”, que Tracy recupera do pensamento de Gadamer: "Os clássicos produzem em nós um efeito que nos conquista pelo valor de verdade que neles descobrimos, e é isso que lhes confere autoridade diante de nós. Portanto, experiências culturais e clássicos podem ter um valor normativo".
O método crítico-correlacional consiste nessa articulação das correlações críticas entre o acontecimento da experiência religiosa, expresso nos clássicos, e a situação concreta.
A relação de correlação, que fundamenta metodologicamente a pesquisa teológica de Tracy, torna-se uma abordagem teológica fundamental de tipo cristomorfo e não mais cristocêntrico.
O que é “cristomorfismo” para Tracy? Não é nada mais do que uma tentativa de remodelar a forma da experiência cristã no contexto da contemporaneidade, indo além do cristocentrismo da teologia barthiana, que corre o risco, apesar dos seus méritos, de sucumbir à ambivalência da própria ideia de centro, que participa das tendências colonizadoras e da obsessão de controle da cultura moderna.
O paradigma “cristomórfico” deveria, ao contrário, permitir-nos expressar a singularidade cristã, mostrando também como ela entra em relação com o contexto cultural pós-moderno, marcado pelo pluralismo radical.
O resgate do caráter fragmentário da teologia não implica necessariamente uma desvalorização do cristocentrismo, mas sua interpretação em chave ético-política.
Com Lévinas, Tracy concorda que o tema principal da teologia também é a alteridade em um sentido ético-político: o rosto do outro autêntico deve nos libertar do desejo de totalidade e nos abrir ainda mais para um verdadeiro senso de infinito para nomear e pensar sobre Deus.
Essa natureza indeterminada do discurso teológico muitas vezes se transforma em Tracy em uma apologia da cultura em nome do joanino “Deus é amor”. Esta apologia requer maior elaboração teórica, assim como a coleta de “fragmentos” defendida pelo teólogo da Escola de Chicago.
Em 2001, o Studia patavina acolheu uma das raras contribuições de Tracy disponíveis em italiano, fruto de uma conferência realizada em Pádua (D. Tracy, A renomeação pós-moderna de Deus como incompreensível e oculto, em Studia patavina 48 [2001] 7-17) na qual retomou uma das suas principais teses, relativa ao critério com que interpretar os textos bíblicos.
Dado que a análise mais orgânica do pensamento de Tracy continua sendo o valioso trabalho de D. Balocco, Do Cristocentrismo ao Cristomorfismo. Em diálogo com David Tracy (Glossa, Milão 2012), as breves considerações aqui delineadas referem-se a uma avaliação mais precisa e complexa da parábola teológica deste teólogo definido por alguns – quer a história o diga bem ou mal – como “o Schleiermacher do nosso tempo”.
Certamente, junto com Claude Geffrè, David Tracy representa aquela frente da teologia que tenta se repensar continuamente, mesmo ao custo de ir longe demais ou cometer erros. Por outro lado, como observa Paul Ricoeur, "sempre houve um problema hermenêutico no cristianismo".