30 Abril 2025
A corrida desenfreada pela inteligência artificial está criando um dilema energético de proporções alarmantes, com consequências potencialmente catastróficas para o clima global. Dados da Agência Internacional de Energia (IEA, da sigla em inglês) revelam que até 2030 os centros de dados dedicados à IA consumirão tanta eletricidade quanto todo o Japão atualmente – mais que o dobro da demanda atual desse setor.
A reportagem é publicada por ClimaInfo, 28-04-2025.
Nos EUA, onde ficam as maiores gigantes do setor, dados revelam que 65% do crescimento do S&P 500 (índice que inclui as 500 empresas de capital aberto negociadas nas Bolsas de Valores) entre o lançamento do ChatGPT (novembro de 2022) e o fim de 2024 veio de companhias ligadas à IA, um salto impressionante de US$ 12 trilhões em valorização. O fenômeno criou uma bolha de expectativas entre investidores antes da recente volatilidade nos mercados.
Os dados processados por essas tecnologias requerem data centers gigantescos, vorazes consumidores de energia. Os dados fornecidos pela IEA indicam que essas instalações foram responsáveis por 1,5% do consumo mundial de eletricidade, ou 415 terawatt-hours (TWh). A capacidade de um data center é equivalente ao quanto ele gasta de energia. Se o mundo busca alternativas para a transição energética como forma de diminuir a emissão de CO₂, criar demandas de tamanho impacto tem efeitos danosos ao clima de forma bastante direta.
De acordo com um estudo realizado pelo Greenpeace, somente em 2024 as emissões globais decorrentes da fabricação de chips para IA quadruplicaram, saltando de 99 mil para impressionantes 453 mil toneladas de CO₂.
Esse crescimento tem como principal motor as redes elétricas do Leste Asiático, ainda profundamente dependentes de carvão e gás natural. Taiwan, polo global da produção de semicondutores, viu suas emissões relacionadas à fabricação de chips para IA saltarem assustadores 350% em um único ano. Padrão semelhante se repete na Coreia do Sul e no Japão, onde os aumentos foram de 134% e 128%, respectivamente.
Esse crescimento insustentável do consumo energético serve ainda como justificativa para investimentos em infraestrutura para exploração fóssil. Em Taiwan, o lobby da indústria de tecnologia já conseguiu convencer o governo a aprovar a conversão de usinas a óleo em turbinas a gás e a construção de novos terminais de gás natural liquefeito.
Na Coreia do Sul, gigantes como Samsung e SK Hynix receberam aval para erguer complexos industriais movidos a gás natural. Enquanto isso, executivos do setor, como o presidente da Pegatron, defendem abertamente a expansão da energia nuclear.
Nature e Climate Change News, entre outros, repercutiram o impacto da IA nos sistemas de geração de energia.
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