O Concílio de Niceia 1.700 anos depois

Foto: Vatican Media

Mais Lidos

  • Alessandra Korap (1985), mais conhecida como Alessandra Munduruku, a mais influente ativista indígena do Brasil, reclama da falta de disposição do presidente brasileiro Lula da Silva em ouvir.

    “O avanço do capitalismo está nos matando”. Entrevista com Alessandra Munduruku, liderança indígena por trás dos protestos na COP30

    LER MAIS
  • Dilexi Te: a crise da autorreferencialidade da Igreja e a opção pelos pobres. Artigo de Jung Mo Sung

    LER MAIS
  • Às leitoras e aos leitores

    LER MAIS

Revista ihu on-line

O veneno automático e infinito do ódio e suas atualizações no século XXI

Edição: 557

Leia mais

Um caleidoscópio chamado Rio Grande do Sul

Edição: 556

Leia mais

Entre códigos e consciência: desafios da IA

Edição: 555

Leia mais

16 Abril 2025

Consenso teológico entre as Igrejas do Oriente e do Ocidente, mas limitações inesperadas devido à doença do Papa e inflexibilidades extremas pelo cisma entre os patriarcados ortodoxos de Moscou e de Constantinopla, pesam na abordagem problemática das celebrações solenes do 1.700º aniversário do Concílio de Niceia.

O comentário é de Luigi Sandri, jornalista italiano, publicado por L'Adige, 14-04-2025. A tradução é de Luisa Rabolini

Trata-se de uma passagem decisiva para a fé cristã, mas também para o “Constantinismo”. Bartolomeu, “primus inter pares” entre os hierarcas ortodoxos, havia garantido, há dois meses, que em Niceia (hoje, em turco, Iznik, a 140 quilômetros de Istambul), no final de maio, haveria a comemoração solene do primeiro Concílio “ecumênico”, ou seja, representando a “oikoumene”, a terra habitada pelos romanos.

A Assembleia, condenando o presbítero herético Ário, que negava a plena divindade do Verbo, afirmou ser Ele “Deus de Deus, luz da luz, da mesma substância que o Pai”. Um dogma de fé, professado no 'Credo', que a Comissão Teológica Internacional acaba de definir como 'marco' do cristianismo.

Constantino, formalmente ainda pagão, convocou o Concílio em 325 e garantiu que asseguraria que a fé proclamada pelos cerca de trezentos bispos reunidos em Niceia fosse observada. E, de fato, após a grande assembleia, o imperador (que mais tarde também apoiaria os antinicenos) mandou Ário para o exílio. Esse resultado dramático - o poder político que, para cair nas boas graças da Igreja, usa a violência para punir aqueles que considera hereges - está na base do “Constantinismo”, a aliança que durou séculos entre a Igreja e o Estado para dominar a sociedade. Embora hoje aquela “soldagem” seja contestada, até mesmo por muitos eclesiásticos, ainda persiste - por meio de várias Concordatas - em uma sociedade já secularizada.

Bergoglio havia garantido que iria a Niceia, mas, devido às condições de saúde, sua presença parece muito incerta. E ainda mais improvável parece ser a participação do Patriarca de Moscou, Kirill. Porque ele, juntamente com seu Santo Sínodo, rompeu a comunhão eucarística com todos os bispos do patriarcado de Constantinopla: a Igreja russa, de fato, considera Bartolomeu “cismático” porque, violando os cânones sagrados, e apesar da extrema oposição da Igreja russa, ousou reconhecer a autocefalia (independência) da Igreja ucraniana em 2019.

A Igreja russa tem cerca de metade dos 250 milhões de ortodoxos espalhados pelo mundo, enquanto o outrora poderoso Patriarcado de Constantinopla tem agora cerca de 3 milhões nas Américas e menos de 5 mil na Turquia. Assim, mesmo sendo “primus inter pares” entre os hierarcas ortodoxos, Bartolomeu, chefe da “Segunda Roma”, sofre zombaria do Patriarca de Moscou, a “Terceira Roma”. Por outro lado, Francisco, o bispo da “Primeira Roma”, aquela no Tibre, não conseguiu aplainar o duro contencioso entre as Igrejas irmãs: estas, pelo menos hoje, não pretendem ouvi-lo. A atual disputa intraeclesial faz o que, há 1700 anos, Ario não conseguiu: dividir a Igreja. E assim, depois de dezessete séculos, Niceia é traída.

Leia mais