17 Agosto 2024
"Em 2025, será comemorado o 1.700º aniversário do Concílio de Niceia (325 d.C.), o primeiro evento ecumênico na história do cristianismo, do qual surgiu uma profissão de fé compartilhada que ainda hoje representa para os cristãos um elemento com o qual se identificar e encontrar unidade", escreve Paola Zampieri, jornalista italiana, em artigo publicado por Settimana News, 14-08-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
Está sendo publicado um novo número da Studia patavina (2/2024), a revista da Faculdade Teológica de Triveneto, com um enfoque intitulado Nicea andata e ritorno: traiettorie di un Concilio (Niceia idas e vindas: trajetórias de um Concílio) editado por Chiara Curzel (Instituto Superior de Ciências Religiosas “Romano Guardini” de Trento) e Maurizio Girolami (Faculdade Teológica de Triveneto).
Em 2025, será comemorado o 1.700º aniversário do Concílio de Niceia (325 d.C.), o primeiro evento ecumênico na história do cristianismo, do qual surgiu uma profissão de fé compartilhada que ainda hoje representa para os cristãos um elemento com o qual se identificar e encontrar unidade. A Faculdade Teológica de Triveneto já organizou uma conferência sobre o tema (14-10-2024), da qual nascem os aprofundamentos propostos nesse artigo.
Em primeiro lugar, o estudo aborda questões históricas, teológicas, linguísticas e bíblicas e, em seguida, analisa a recepção de Niceia no território do norte e leste da Itália. Na abertura, Emanuela Prinzivalli (Universidade Sapienza de Roma, Instituto Patrístico Augustinianum) delineia um amplo quadro histórico-teológico das questões: estuda os períodos que antecedem Niceia, as poucas fontes disponíveis sobre seu andamento, a inovação constituída pelo Credo Niceno, para concluir que a questão doutrinária teve um peso decisivo na convocação. O evento, a recepção e a comunicação de Niceia são dissecados por alguns professores da área patrística da Faculdade: Chiara Curzel, de Trento (Problemas de linguagem: terminologia e imagens para comunicar a fé trinitária nos padres capadócios); Cristina Simonelli (Processo de Serdica [343]: premissas, estruturas teológicas e institucionais, resultados) e Zeno Carra (Isaías 53,8 contra o homoousios niceno: o sínodo de Sirmio de 357, raízes e reações), ambos de Verona; Davide Fiocco, de Belluno (A solis ortu usque ad occasum. A recepção de Niceia na África cristã).
A Igreja de Aquileia, mãe das igrejas do norte e leste, desempenhou um papel importante no caso: pulmão entre Roma e o Oriente, foi um território no qual as visões de Igrejas diferentes encontraram tensões e confrontos, mas também foi uma ponte de diálogo na cadeia de transmissão da fé.
Alguns aprofundamentos sobre autores e territórios da área aquileiana são propostos por outros professores da Faculdade: Giuseppe Laiti, de Verona ("Velut uno cunctorum ore et corde. O concílio de Niceia no relato de Rufino"); Alessio Persic, de Udine (Parresia laical filonicêna: o contraditório entre o laico Heráclito e se bispo); Tatiana Radaelli, de Treviso (Liberal, padroeiro de Treviso, guardião da fé nicena); Paolo Cordioli, de Verona (Pregar após Nicea /1. Ecos da questão ariana e fotiniana na pregação de Zeno de Verona); Massimo Frigo, de Vicenza (Pregar após Nicea /2. Ecos da questão ariana e fotiniana na pregação de Cromácio de Aquileia); Maurizio Girolami, de Pádua (Fortunaciano, um protagonista a ser redescoberto).
Escrevem Curzel e Girolami no editorial:
“Há mil e setecentos anos, o ‘nós’ foi posto como sujeito - recolocando o ‘eu’ na societas de relações e de pessoas que lhe dão pleno significado - ou seja, aquela nova comunidade diversificada por lugares e culturas, mas unida por uma fé compartilhada e, a partir daquele momento, por um modo compartilhado de expressá-la e transmiti-la. O caminho sinodal que estamos empreendendo hoje nos devolve a importância de recomeçar a partir desse pressuposto fundamental: a fé é um dom dado a uma comunidade de discípulos e estes juntos creem, juntos celebram, juntos testemunham sua pertença em Cristo.”
Dois temas oriundos de Niceia são muito atuais para a fé de hoje: o da geração e o do uso da linguagem.
“A cultura contemporânea parece não reconhecer mais o valor da geração”, afirmam eles. “Gerar significa reconhecer que cada geração tem seu lugar no plano da humanidade e que cada uma sabe como dar sua própria contribuição no diálogo com aqueles que vieram antes e pensando naqueles que virão depois. O diálogo entre as gerações, ao qual o Papa Francisco tantas vezes se refere, é uma vocação de humanidade que espera a atenção e o cuidado de todos, porque também dessa forma se toma consciência de sermos gerados e do potencial de sermos geradores de futuro”. Também a vida eclesial, que encontra seu coração nas celebrações sacramentais, “corre o risco de reduzir a vida de oração à repetição de ritos e de privar os sacramentos do poder gerador de renovação da história; corre o risco de não conhecer mais a arte de transmitir a fé, que está no coração da identidade missionária da comunidade cristã”.
É aí que se insere a outra grande contribuição de Niceia, que é a reflexão sobre a linguagem, ou seja, o chamado para a necessária tarefa de buscar, em cada época e contexto, as palavras mais adequadas para expressar a fé. “O empenho de encontrar palavras para falar que 'Jesus é o Senhor' em nosso tempo é o desafio que nos chega de Niceia”, enfatizam os curadores.
E mais, no caminho sinodal que a Igreja está percorrendo nestes anos, ser batizado
“(...) não diz respeito a um rito encerrado no passado, mas a uma vida que se renova a cada dia na certeza da fidelidade de Deus e no empenho para expressar o dom recebido, que introduz o cristão na vida divina, feita de paternidade, filiação, comunhão. Sem a vida batismal, o próprio rito permanece estéril e mudo. Terá sentido então, retornar a Niceia, recomeçar a partir desse ponto essencial e vital para a Igreja: estar imersos no mistério pascal de Cristo, Filho do Pai e o juiz dos vivos e dos mortos, é um dom que todo batizado é chamado a fazer frutificar.”
Além do Focus, a revista publica o artigo de Antonio Ricupero intitulado "Ministérios laicais e carismas em Luigi Sartori", proposto no aniversário do primeiro centenário do nascimento do teólogo paduano.
A contribuição oferece uma descrição diacrônica do pensamento de Sartori, detendo-se nos escritos dos anos 1970, heterogêneos por origem e intenções, mas que, de qualquer forma, trazem a marca das ideias do Concílio Vaticano II e das primeiras experiências eclesiais, especialmente na Europa. Em seguida, chega-se aos do final do século passado, nos quais é clara a intenção de dar amplo espaço aos ministérios leigos e femininos, no âmbito de uma Igreja bem estruturada e unida por meio das ordens sagradas concebidas como carisma de unidade.
Uma rica seção de resenhas e sugestões bibliográficas completa a edição. A edição 2/2024 pode ser baixada do site da Faculdade Teológica de Triveneto aqui.