15 Abril 2025
A informação é de José Manuel Vidal, publicada por Religión Digital, 14-04-2025.
Chegou a hora do canto do cisne do Sodalício: sua demolição total. E pela raiz, porque, como diz o decreto de supressão do Vaticano, “não há carisma de origem divina”. E nunca houve. Nem no tronco central da organização (Sodalício de Vida Cristã), nem em seus três ramos: a Fraternidade Mariana da Reconciliação, as Servas do Plano de Deus e o Movimento de Vida Cristã.
E não houve carisma porque o fundador, Luis Fernando Figari, não foi movido pelo sopro do Espírito Santo, mas pela sede de poder e de dinheiro. E, com a ajuda de seus acólitos mais próximos, pôs em marcha um conglomerado empresarial com características absolutamente sectárias, para se aproveitar em todos os níveis dos homens e mulheres que recrutava. Árvore má não pode dar bons frutos.
O decreto de dissolução leva a data de 14 de janeiro de 2025 e está assinado pelo Papa Francisco, pela prefeita do Dicastério para a Vida Consagrada, Simona Brambilla, e pelo subsecretário do referido dicastério, padre Aitor Jiménez Echave.
A assinatura do Papa Francisco vem acompanhada da fórmula "Approvo in forma specifica", o que significa que Francisco assume o decreto como seu, contra o qual não cabe qualquer recurso.
Por isso, apesar de o decreto ter sido assinado em 14 de janeiro de 2025, durante meses não pôde ser intimado, porque o Sodalício implementou toda uma estratégia de procrastinação, com adiamentos sucessivos no Peru e em Guayaquil, primeiro, e depois em Roma, onde a assinatura estava prevista entre 1º e 6 de abril, mas foi novamente adiada pelo Sodalício sem justificativa.
Talvez devido ao delicado estado de saúde de Francisco. De fato, os sodálites sabiam que, se Francisco tivesse morrido ou renunciado ao papado, poderiam pedir ao próximo Papa que não aprovasse o decreto e, assim, se salvariam da dissolução.
Até que exauriram a paciência da irmã Simona Brambilla, prefeita de Vida Consagrada, que ordenou que a assinatura fosse feita nesta segunda-feira em Roma. Na assinatura do decreto, não estava presente Jordi Bertomeu (que está há vários dias na Espanha).
Por sinal, é importante sublinhar que, apesar das mentiras que os líderes do Sodalício (sob a liderança de Alejandro Bermúdez) espalharam durante anos contra Jordi Bertomeu, o padre espanhol demonstrou uma generosidade máxima para com eles, primeiro como investigador e, depois, como comissário.
Durante a investigação, de fato, os sodálites pediram diversas prorrogações e Bertomeu sempre as concedeu. E, quando pediram novamente para a notificação do decreto, também as concedeu, com uma generosidade à prova de qualquer dúvida.
O documento romano, ao qual a RD teve acesso, consiste em duas páginas e começa destacando os antecedentes da supressão. Há anos, o Dicastério de Vida Consagrada "vem lidando com a complexa e grave situação da Sociedade de Vida Apostólica do Sodalitium Christianae Vitae, devido ao comportamento inadequado do Fundador, Sr. Luis Fernando Figari, e de muitos de seus colaboradores".
Para investigar a fundo esses comportamentos inadequados, assim como "as acusações sobre diversas responsabilidades, atribuídas a numerosos membros", o Papa Francisco designou, em 2023, uma comissão especial, composta por monsenhor Scicluna, secretário adjunto do Dicastério para a Doutrina da Fé, e por monsenhor Jordi Bertomeu, oficial do mesmo dicastério.
Os investigadores fizeram bem seu trabalho e as acusações passaram a ser certezas evidentes, podendo concluir que todas as obras de Figari carecem, desde sua fundação, de inspiração divina. Não há carisma fundacional.
A consequência é clara e o decreto promulga, "em virtude do cânon 732 e do cânon 584", a supressão do Sodalício e de todas as suas filiais, que, desde a notificação deste decreto, se tornam em "entes canonicamente suprimidos".
Em seguida, o dicastério romano especifica algumas das consequências do decreto, que são, fundamentalmente, duas. A primeira é a abertura de "processos de verificação de qualquer tipo de violência e/ou abuso sofrido pelos membros ou ex-membros da referida instituição suspensa" e atribuídos a Figari ou a algum de seus cúmplices.
A segunda consequência que o decreto do Vaticano indica e prescreve é "definir e ressarcir equitativamente os danos sofridos pelas vítimas" às custas dos bens móveis e imóveis pertencentes ao extinto Sodalício.
As autoridades vaticanas colocam todo esse complicado processo de liquidação e reparação nas mãos do comissário apostólico, Jordi Bertomeu, "ajudado por um ou mais comissários apostólicos adjuntos".
Até agora, sabe-se apenas que a assistente de Bertomeu para a liquidação das Siervas del Plan de Dios será a irmã Carmen Reyes, ex-ecônoma, e que as assistentes para as Fraternas serão a Sor Luciane Urban, ex-superiora geral, e a Sor Florencia Silva, ex-ecônoma. Por outro lado, o comissário apostólico ainda não nomeou seus assistentes para a liquidação dos bens do Sodalício.
Nos dois últimos parágrafos, o decreto vaticano expressa uma série de expectativas especialmente em relação às autoridades dos ex-sodálites. A hierarquia vaticana espera, em primeiro lugar, que os atuais membros do Sodalício "ofereçam um testemunho sincero e significativo para reparar o escândalo provocado aos fiéis e, sobretudo, contribuam para o bem da Igreja e de todos, colaborando ativamente e de forma eficaz nas referidas iniciativas de justiça em relação às vítimas".
Além da vontade de reparar o escândalo e ressarcir as vítimas, Roma espera que os membros do Sodalício "colaborem com a máxima disponibilidade em todos os procedimentos para o inventário e a alienação de bens, cujos recursos serão utilizados para ressarcir as vítimas".
Mas não apenas para isso, mas também, como reconhece o decreto vaticano, para "garantir o sustento econômico dos membros das entidades fundadas pelo Sr. Luis Fernando Figari e suprimidas por este dicastério".
Calcula-se que o Sodalício, além de seus bens imóveis, possui mais de um bilhão de dólares, uma quantia suficiente para ressarcir as vítimas de abuso e para ajudar na recolocação dos ex-sodálites, ao menos da maioria deles.
Se Roma (através de seu comissário apostólico para a liquidação do Sodalício) conseguir se apropriar dessa fortuna oculta, poderia ressarcir todas as vítimas e, além disso, ajudar com uma quantia substancial de dinheiro todas e cada uma das irmãs (de acordo com os anos passados nas diversas instituições sodálites), para que possam reiniciar suas vidas após o trauma vivido.
Com o Sodalício, desaparece outra das joias da coroa da suposta primavera da Igreja dos tempos de João Paulo II. Qual será a próxima? Porque há várias na fila e, quanto antes desaparecerem, melhor.