07 Setembro 2024
O artigo é de Pedro Eduardo Salinas, jornalista, em artigo publicado por Religión Digital, 05-09-2024.
O Sodalitium (ou Sodalício) sempre se apresentou como uma instituição mais limpa que uma patena, mas o tempo demonstrou que os sodalites são mitômanos de primeira, malabaristas com eufemismos, e que sua organização, de fachada católica, era uma seita que entronizou uma cultura de abuso de poder que destruiu centenas de vidas.
Já são 24 anos de denúncias de todo tipo. Jornalísticas. Na justiça civil. Diante dos tribunais eclesiásticos. No âmbito político. Dos dicastérios vaticanos. E nunca aconteceu absolutamente nada com a entidade. Nada. Seus líderes, adornados com colarinhos ou crucifixos nas jaquetas, que usavam como varinhas mágicas ou abre-te sésamos, saíram ilesos das graves acusações, uma e outra vez, até o infinito e além.
Até que, finalmente, o melhor antídoto contra esta associação tóxica foi provido pelo próprio Papa Francisco, através de seu eficaz e incorruptível grupo de elite, composto por Dom Charles Scicluna e Dom Jordi Bertomeu.
Após sua intervenção, há pouco mais de um ano, várias coisas aconteceram, a maioria imperceptível para a opinião pública, mas aconteceram. A remoção do principal aliado do Sodalício em Roma, José Rodríguez Carballo. A demissão do indolente ex-enviado apostólico do Sodalício, Noel Antonio Londoño. O chute no traseiro do emblemático bispo sodelite, José Antonio Eguren. O envio de cartas cominatórias, exigindo explicações de militantes da velha guarda. E, a notícia mais celebrada e destacada, a expulsão de Luis Fernando Figari de sua própria fundação (algo que, por sinal, os três superiores gerais que o sucederam poderiam ter feito, sem precisar esperar a intervenção da Santa Sé).
O efeito foi como o de quedas consecutivas de peças de dominó, embora em câmera lenta. Mas, sem dúvida, a vacina surtiu efeito. O antídoto funcionou. A dupla dinâmica, Scicluna e Bertomeu, voltou a mostrar resultados. E sem alarde, os mostrou em doses homeopáticas.
No entanto, no caminho, durante este longo processo, as vítimas e sobreviventes tiveram que suportar eternas esperas, ávidos por justiça, urgidos pelo reconhecimento da verdade, e à espera de um mínimo de empatia por parte dos pastores católicos, que nunca chegou. Suportaram isso e mais.
Ao tratamento vexatório e de invisibilização, somaram-se insultos virulentos nas redes sociais, cartas notariais ameaçadoras, ações judiciais por supostos crimes de difamação, demandas penais caluniosas e nulas, e a exibição obscena e pirotécnica da famosa prepotência (a marca registrada do Sodalício) de quem detém o verdadeiro poder no movimento figariano.
Dito isso, e após revisar meios especializados que tiveram acesso a fontes da investigação vaticana, como La Razón (da Espanha), Vida Nueva, Crux e este portal, Religión Digital, que dedicou importantes espaços ao Caso Sodalício, podemos considerar duas hipóteses absolutamente viáveis. A primeira é que está por vir uma razia na qual as cabeças dos principais cúmplices de Figari nessa longa história de impunidade irão rolar. E, depois, não se descarta, pela primeira vez em mais de duas décadas, a supressão do Sodalitium, que, no próximo 8 de dezembro, completaria 53 anos de existência.
Iniciou-se, agora sim, a contagem regressiva do Sodalício. A noite mais escura em sua história se aproxima. Arturo Pérez-Reverte escreveu certa vez: “Não há nada mais perigoso, mais hipócrita nem mais vil do que um integrista com poder.” Ele não estava errado. A frase do escritor se encaixa no Sodalício como uma luva. E sua desaparecimento será um ato de justiça para suas vítimas e sobreviventes.
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A iminente queda do Sodalício - Instituto Humanitas Unisinos - IHU