14 Abril 2025
A ordem de evacuação veio apenas 20 minutos antes do bombardeio. Pacientes forçados a fugir, uma criança morre.
A reportagem é de Fabio Tonacci, publicada por La Repubblica, 14-04-2025.
Israel escolheu o Domingo de Ramos para lançar dois foguetes contra o único hospital cristão de Gaza. O único ainda em pleno funcionamento em toda a parte norte da Faixa. E era o único lugar onde os moradores de Gaza podiam esperar fazer uma tomografia computadorizada.
Durante a noite, dezenas de pacientes foram evacuados do Al-Ahli, o pequeno centro de saúde da Igreja Anglicana localizado no centro da Cidade de Gaza. Camas arrastadas por ruas escuras e cobertas de escombros, explosões a poucos metros de distância, celulares usados para iluminar a fuga. A Força Aérea Israelense deu um aviso de vinte minutos, o que foi pouco para que todos saíssem em segurança. E de fato um garoto de treze anos morreu durante a evacuação. Ele foi hospitalizado na UTI, conectado a um respirador por ferimentos na cabeça causados por um bombardeio anterior, as enfermeiras não tiveram tempo de pegar um tanque de oxigênio, os mísseis estavam prestes a chegar, elas entraram em pânico, tiveram que tirá-lo de lá. Ele morreu porque estava na rua, porque estava frio e porque não conseguia mais respirar.
Para os palestinos, o Al-Ahli é o hospital batista, às vezes também o chamam de hospital árabe, mas na realidade ele é administrado e financiado pelos anglicanos. “O pronto-socorro ocupa um espaço de apenas 5 por 15 metros, mas era o único operacional para quase um milhão de pessoas que vivem na Faixa Norte”, explica o Dr. Mohammed Mustafa, que trabalhou lá até alguns dias atrás.
A diocese de Jerusalém está fazendo um balanço do ocorrido: "O duplo ataque ocorrido pouco depois da meia-noite demoliu os dois andares do laboratório de genética, danificando a farmácia e o pronto-socorro. Outros edifícios também sofreram danos, incluindo a Igreja de San Filippo. Não há relatos de mortes além da criança. Apenas vinte minutos antes dos bombardeios, o exército ordenou que todos os pacientes, funcionários e evacuados se retirassem. Um médico do pronto-socorro disse ter sido chamado por um oficial israelense que lhe ordenou que retirasse todos. "Vocês têm vinte minutos", disse a voz, "e então bombardearemos".
As forças armadas do estado judeu, que ontem também interceptaram dois mísseis balísticos vindos do Iêmen, afirmam ter destruído um esconderijo do Hamas. “Era um centro de comando e controle dentro de Al-Ahli e era usado pela organização terrorista”, disse o comunicado. "Foi usado para planejar e executar ataques contra soldados e cidadãos israelenses". O Hamas nega e acusa Israel de ter cometido "mais um crime de guerra". O ministro da Defesa israelense, Israel Katz, que ontem também ordenou a evacuação de alguns bairros de Khan Yunis, reiterou: "Quanto mais o Hamas insistir em se recusar a entregar os reféns, mais poderosa a operação das IDF se tornará".
Um representante da diocese de Jerusalém, contatado pelo Repubblica, disse ter absoluta certeza de que não havia nenhum centro do Hamas dentro de Al-Ahli. "Somos uma organização cristã, não somos financiados pelo Ministério da Saúde de Gaza. Nosso hospital é administrado inteiramente pela Igreja Anglicana e era o único com máquinas para realizar tomografias computadorizadas".
O representante diocesano, que pediu para permanecer anônimo, explicou que, em tempos normais, o hospital tem 80 leitos, mas, por causa da guerra, aumentou a capacidade para 120. "Todos os pacientes estão agora nas ruas, não sabemos onde interná-los. Nem sei quando o hospital voltará a funcionar. A capela, onde tínhamos colocado 20 leitos, também foi danificada". Esta é a quinta vez desde o início da guerra que Al-Ahli é alvo. Em outubro de 2023, uma explosão no pátio interno causou um massacre.
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