09 Abril 2025
"Estar com outras pessoas na Praça de São Pedro também é o lugar teológico que o Papa Bergoglio prefere para realizar seu ministério. Portanto, nesse caso, ele escolheu, de maneira simples, compartilhar o caminho com o próximo, unir-se às tantas pessoas doentes e deixar um rastro imediato do Evangelho", escreve o sociólogo italiano Franco Garelli, em artigo publicado por La Stampa, 07-04-2025. A tradução é de Luisa Rabolini.
O que transmite para a Igreja e a humanidade um Papa que, depois de quarenta dias de internação no Hospital Gemelli e depois de duas semanas em Santa Marta, de repente aparece em uma cadeira de rodas no pátio da Basílica do Vaticano para participar do Jubileu dedicado aos doentes e ao mundo da saúde? Foi no final da missa celebrada em seu lugar pelo Arcebispo Rino Fisichella, quando Bergoglio - acompanhado por seu assistente Massimiliano Strappetti e pelo secretário pessoal Pe. Juan Cruz Villalon - quis participar de um evento jubilar dedicado à fragilidade humana, mas vivendo plenamente sua enfermidade junto com os muitos que hoje vivenciam o sofrimento no mundo.
Certamente, ele “exagerou”, não se atendo às cautelas que os médicos prescreveram para sua longa convalescença, o que, no entanto, decorre da grande dedicação com que ele interpreta seu elevado papel e, talvez, também da “graça de estado” que ajuda aqueles que têm de desempenhar papéis importantes, mesmo em situações humanamente difíceis. Daí um pontífice que parece sentir menos a dor e a fraqueza física quando sente as pessoas próximas a ele.
Mostrar-se em condições de doença e com cânulas de oxigênio no nariz não o impediu de sorrir, cumprimentar os fiéis nas primeiras filas e abençoar os 20.000 presentes. Ele bateu no microfone para se certificar de que estava funcionando e, em seguida, com uma voz ainda fraca, mas bem melhor do que no dia de sua alta do Gemelli há duas semanas, ele desejou “bom domingo a todos” e agradeceu à multidão pelo entusiasmo e pela participação com que o “fora programa” foi recebido pela multidão. Significativamente, ele se juntou aos doentes que esperavam para passar pela porta santa, confirmando sua convicção de que o pastor deve estar não apenas à frente, mas também no meio e atrás do rebanho.
Estar com outras pessoas na Praça de São Pedro também é o lugar teológico que o Papa Bergoglio prefere para realizar seu ministério. Portanto, nesse caso, ele escolheu, de maneira simples, compartilhar o caminho com o próximo, unir-se às tantas pessoas doentes e deixar um rastro imediato do Evangelho. Sua aparição de surpresa no evento do jubileu da saúde também nos oferece um exemplo da relevância que Francisco sempre reservou às “encíclicas da carne”. Isso quer dizer que as indicações da Igreja não são apenas aquelas transmitidas pelos documentos oficiais, pelas bulas papais bem pensadas e ponderadas, mas também pelos gestos concretos que a Igreja faz em relação às pessoas, aos grupos sociais mais desfavorecidos, pela companhia humana e espiritual nas histórias do mundo. Mostrar a própria fragilidade, unindo-se aos tantos que sofrem, é, portanto, parte da mensagem humana e espiritual que Bergoglio pretende promover e promulgar.
Além disso, Francisco, como sabemos, considera o ministério do papa “vitalício”, a menos que surjam impedimentos insuperáveis, e acreditando ter ainda os recursos para lidar com a situação. E dentro desse quadro, ele não teme que suas fraquezas físicas causem muitos danos à Igreja. É Deus quem guia o barco de Pedro, e a doença se torna pregação ao estar com os homens que, em sua maioria, experimentam as provações da guerra, miséria e dificuldades de sobrevivência. Tudo isso nos remete aos dias logo após seu retorno a Santa Marta, quando disse que se sentia imediatamente melhor e pediu a seus colaboradores e, sobretudo, ao Cardeal Pietro Parolin, Secretário de Estado, que o ajudassem a encontrar outra maneira de exercer seu mandato de Vigário de Cristo, na profunda consciência e força de vontade de poder desempenhar uma tarefa tão pesada, ainda que quase sem voz e com dois ou três meses de reabilitação a enfrentar sem resultados certos e sem poder mais viajar naquela Igreja de periferia onde sente mais presente o sopro do Espírito.
Aqui está o problema que atualmente domina Santa Marta e o Vaticano. Como ajudar o Papa a viver seu elevado papel apesar da condição de não plena saúde, apesar das limitações de um físico debilitado. Esse é o tema que já emergiu nos últimos anos de Karol Wojtyla, um pontificado às voltas contra uma longa doença, com um corpo enfraquecido pelo mal de Parkinson. No entanto, essa mesma fraqueza não foi desprovida de fecundidade humana e espiritual.