24 Março 2025
Ele descreve a escolha do Papa Francisco de aparecer esta manhã do décimo andar do Hospital Gemelli como um “ato em que o Papa nos mostra, apesar do peso dos anos e da hospitalização, a sua normalidade. E agora ele quer estar presente como pode, ou seja, expondo-se mesmo com sua fragilidade”.
Essa é a primeira impressão que emerge do raciocínio do jesuíta siciliano Antonio Spadaro, ex-diretor de La Civiltà Cattolica por doze anos (2011-2023) e hoje subsecretário do Dicastério para a Cultura e a Educação do Vaticano, sobre a decisão de seu coirmão Jorge Mario Bergoglio de voltar a aparecer presencialmente “ao povo de Deus depois de tanto tempo”. O padre acompanhou e esteve ao lado de Francisco em todas as suas 47 viagens apostólicas. E ele se alegra com a notícia de que hoje o bispo de Roma receberá alta do Hospital Gemelli e retornará à Casa Santa Marta como um “paciente normal”. “A mesma 'normalidade' que basicamente experimentamos no dia de sua eleição como Pontífice, em 13 de março de 2013”, explica o jesuíta, “quando ele apareceu na janela das bênçãos da Basílica de São Pedro. Agora, como naquela época, ele quer se apresentar como uma pessoa normal, mesmo em condições precárias de saúde”.
A entrevista é de Filippo Rizzi, publicada por Avvenire, 23-03-2025.
Em suma, um Papa que se mostra como ele é, um doente comum....
Não deve causar surpresa seu estilo de nunca se esconder. Sempre me impressionou que, em sua primeira entrevista que me concedeu em 2013 para La Civiltà Cattolica, ele reiterou uma intuição que é, em minha opinião, o DNA de sua marca pastoral: ‘É preciso ser sempre pessoas normais’. E essa sua abordagem de ‘normalidade’ foi confirmada nos últimos dias, quando enviou o áudio com sua voz fraca e não adulterada para o Rosário de 6 de março na Praça de São Pedro. E novamente quando ele quis telefonar para o pároco de Gaza, na Terra Santa, para manifestar a sua proximidade com esse canto do Oriente Médio. Ou quando ele se mostrou em oração com uma simples foto da capela do Gemelli. Afinal, de seu quarto na policlínica romana, ele quis nos mostrar que continua sendo o mesmo pastor, mesmo na nova condição de vida que enfrenta devido à doença. Seus 38 dias no Gemelli foram, no fundo, uma cátedra de Pedro, em um momento particular de sua existência.
Francisco pediu clareza sobre seu quadro clínico. Que ensinamentos ele está nos passando?
O que ele está nos dizendo é que a doença deve ser vivida como é e devemos tratá-la como é. Agora, como um paciente ‘comum’, ele está fazendo o que consegue fazer, mas sempre com seu olhar atento a todos. Sua escolha de ser tão transparente como paciente também representa seu desejo de não encobrir seu real estado de saúde, precisamente porque ele se sente o pastor de todos. E como em 2013, no início de seu pontificado, está pedindo a todos a mesma coisa que naquela época: ‘Rezem por mim’.
Hoje o Papa receberá alta do Hospital Gemelli. No entanto, os médicos advertiram que ele terá que passar um período de convalescença de dois meses. Como a Igreja viverá esse momento?
Penso que, acima de tudo, o que sustenta o Papa em seu retorno para casa serão a força da oração e as mensagens que continuam chegando de todos os cantos do planeta. Lembro-me dos muitos não-crentes que quiseram mostrar sua proximidade com o Bispo de Roma. E agora, no período de reabilitação que ele terá de enfrentar em Santa Marta, encontrará, como aconteceu durante sua hospitalização no Gemelli, o afeto das pessoas simples e também das mais distantes. Ele, neste mês e meio, uniu toda a Igreja com a oração. Todos se uniram, como ele diria, com as 'boas ondas'.
Continuam as ilações ou fake news sobre o Papa. Em sua opinião, como se pode controlar as derivas midiáticas?
Não há como conter essa dinâmica. A única maneira de 'disciplinar' o impacto das fake news é confiar nas notícias reais sobre a saúde do Papa, escolhendo fontes certificadas, confiáveis e com credibilidade. Como foi o caso da coletiva de imprensa de sábado à tarde no Hospital Gemelli, na qual os médicos disseram a verdade sobre como o Papa realmente está.
Padre Spadaro, como serão esses dois meses de convalescença em Santa Marta para Francisco?
É difícil dizer. Certamente Francisco, como os médicos indicaram e sugeriram, terá que restringir e limitar seus compromissos públicos. No entanto, há um rebanho que espera e deseja o retorno de seu pastor, com as cautelas possíveis, totalmente recuperado. Em momentos difíceis como estes para a humanidade, mesmo no plano geopolítico e internacional, o Papa Bergoglio é a única voz ouvida e respeitada por todos. Francisco, hoje, em um mundo dilacerado por guerras e particularismos, é uma extraordinária figura moral e global reconhecida em todos os lugares. Portanto, todos nós torcemos por seu retorno em plena força e saúde, com as devidas prudências médicas, para que ele possa novamente nos liderar como sucessor de Pedro.