04 Abril 2025
"O temor do clero ao protagonismo dos leigos é outro ponto central da crítica de Frei Betto".
O artigo é de Robson Ribeiro, enviado ao Instituto Humanitas Unisinos – IHU.
Robson Ribeiro de Oliveira Castro Chaves é teólogo, filósofo, historiador. Graduado em História, Filosofia e Teologia. É mestre em Teologia, especialista em Ética e em Projetos e Inovação na Educação. Leciona Teologia, Ensino Religioso, Filosofia e Projeto de Vida.
Em seu recente artigo publicado pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU, Frei Betto reflete sobre os estatísticos alarmantes sobre o declínio da influência católica no Brasil, outrora hegemônica, e na ascensão das igrejas evangélicas.
Frei Betto inicia sua análise contextualizando a histórica hegemonia católica no Brasil, que abrangia 93,5% da população na década de 1950. No entanto, o cenário se transformou drasticamente, com o censo de 2010 revelando uma queda para 64,6%, enquanto os evangélicos alcançaram 30%. As projeções para 2030 indicam uma possível inversão, com católicos e evangélicos disputando a faixa de 35% a 40% da população.
Cesar Kuzma, teólogo leigo, professor da PUCPR, ecoa a preocupação de Frei Betto com o papel do laicato na Igreja. Ele relembra a esperança despertada pelo Concílio Vaticano II e o recente resgate dessa ideia pelo Papa Francisco, mas pondera sobre "de que leigos exatamente se fala e se espera nesta hora?" Kuzma alerta para o risco de um laicato "clericalista, obsessivo e extremamente fundamentalista", que incita o ódio e a divisão, desviando-se da visão do Concílio de uma Igreja como Mistério e Povo de Deus, atenta aos sinais dos tempos.
O temor do clero ao protagonismo dos leigos é outro ponto central da crítica de Frei Betto. Essa postura hierárquica e centralizadora, segundo o autor, contribui para o afastamento dos fiéis, especialmente os mais pobres, que encontram nas igrejas evangélicas um acolhimento e participação mais ativa.
Frei Betto também aborda a questão do clericalismo nas missas dominicais, onde tudo gira em torno da figura do sacerdote, com pouca participação dos leigos e homilias frequentemente desinteressantes e moralistas. Ele critica a falta de diálogo ecumênico e o preconceito em relação a outras religiões, incluindo as de matriz africana e indígena, que são parte fundamental da religiosidade brasileira.
Kuzma complementa essa reflexão, destacando que o Concílio Vaticano II trouxe ao leigo "autonomia e corresponsabilidade na missão", com a capacidade de agir de modo próprio, mas sempre em comunhão e buscando a maturidade espiritual. Ele ressalta a importância do Documento 105 da CNBB, que apresenta os leigos como "sujeitos da Igreja e do Mundo", em diálogo com a sociedade e abertos ao aprendizado.
Cesar Kuzma define o ser sujeito eclesial hoje como ser "autêntico e coerente com a fé", testemunhando com a própria vida em todas as realidades, buscando o encontro, o diálogo, a abertura e a misericórdia. Ele enfatiza que ser sujeito eclesial não é ser conflitivo ou combativo, mas sim ser testemunha do encontro vivo com o Ressuscitado e promotor de comunhão.
O autor conclui sua carta expressando sua profunda preocupação com o retrocesso da Igreja Católica, a perda do profetismo de seus pastores, o esvaziamento das paróquias e a nova geração de padres apegados a símbolos religiosos e distantes dos excluídos. Ele compara o Papa Francisco a João Batista, clamando no deserto, e questiona se ainda há salvação para o Evangelho de Jesus dentro da Igreja.
Nesse ponto, Kuzma se junta ao apelo de Frei Betto, reforçando a ideia de que é "a hora dos leigos", um povo que fala, reza, luta, trabalha e professa a fé, transformando o mundo. Ele lamenta manifestações que geram divisão e alimentam o ódio, é essencial voltar-se a Jesus, o homem do Evangelho, e construir uma Igreja que esteja atenta às pessoas e aos clamores da sociedade.
A análise do texto de Frei Betto, enriquecida pelo ensaio de Cesar Kuzma, configura um diagnóstico contundente sobre os desafios enfrentados pela Igreja Católica no Brasil. Ambos convergem na urgência de um protagonismo laical autêntico e engajado, em sintonia com o espírito do Concílio Vaticano II, para que a Igreja possa reencontrar seu caminho e sua relevância na sociedade contemporânea. A reflexão aponta para a necessidade de superar o clericalismo, promover o diálogo ecumênico e inter-religioso, e priorizar o serviço aos mais pobres e marginalizados, resgatando a essência do Evangelho de Jesus.