19 Fevereiro 2025
Em um desencontro constrangedor de informação, o ministro Alexandre Silveira (Minas e Energia) confirmou a adesão do Brasil à Carta de Cooperação da OPEP.
A informação é publicada por ClimaInfo, 19-02-2025.
Por algumas horas nesta 3ª feira (18/2), o Brasil fez parte do grupo ampliado do cartel petrolífero OPEP… até que, no fim, o país não fazia mais parte – ao menos, por ora. O desencontro de informações partiu do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, depois de uma reunião do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) em Brasília (DF).
Na manhã de ontem, o ministro afirmou que o CNPE teria dado sinal verde para a adesão do Brasil à OPEP+, que reúne os países aliados ao cartel dos maiores produtores de combustíveis fósseis do mundo. No entanto, à tarde, a notícia era diferente: na verdade, o país aderiu à Carta de Cooperação da OPEP, uma instância que, de acordo com o grupo, serve para “facilitar o diálogo e trocar opiniões sobre as condições e desenvolvimentos nos mercados globais de petróleo e energia”.
Não é a primeira vez que Silveira “queima a largada”, por assim dizer. Em 2023, em plena COP28, o ministro chegou a anunciar que o Brasil entraria na OPEP+ durante a passagem do presidente Lula pela conferência em Dubai, nos Emirados Árabes. A inconveniência do anúncio foi duramente criticada e o Brasil chegou a receber o “Fóssil do Dia”, antiprêmio da Climate Action Network (CAN). Apesar do falatório, a adesão não se concretizou.
Independentemente da adesão ou não, o anúncio reforça o interesse do governo brasileiro de se aproximar do grupo dos grandes produtores de petróleo enquanto intensifica a pressão para destravar novos projetos de produção de combustíveis fósseis. A movimentação se alinha ao argumento de Silveira & Cia., que defende a expansão da exploração petrolífera no Brasil às custas do clima global.
“É apenas uma carta e um fórum de discussão de estratégias dos países produtores de petróleo. Não devemos nos envergonhar de sermos produtores de petróleo”, disse o ministro, citado pelo g1. De forma cínica, ele se antecipou às críticas de ambientalistas, alegando que o fórum da Carta de Cooperação da OPEP seria um espaço para discutir “transição energética”.
“Ambientalistas, que têm todo meu respeito. Eu também sou ambientalista, talvez me considere mais ambientalista que eles. Quero saber o que está por trás disso, de chamar de contradição participar de um fórum para discutir transição energética”, disse Silveira.
Já que o ministro tem dificuldades para entender, o WWF-Brasil explicou essa contradição de forma didática. “A opção pelo petróleo retém o país em uma matriz e em tecnologias obsoletas que, nas próximas décadas, nos colocarão dependentes de nações que efetivamente desenvolveram tecnologias para exploração de energias limpas”, destacou a entidade em nota.
Além de amarrar o Brasil à energia do passado, a aproximação com a OPEP joga mais óleo na imagem do país na véspera de receber a COP30. “O Brasil passa a ser cada vez menos potência ambiental, e cada vez mais contraditório com as vitórias seguidas da coalizão fóssil no governo Lula”, escreveu Miriam Leitão no jornal O Globo.
O anúncio confuso de Silveira e as reações contra a aproximação do Brasil com a OPEP tiveram grande destaque na imprensa, com matérias em Correio Braziliense, Exame, Folha, Metrópoles, O Globo, Valor e VEJA, entre outros.
Além da adesão à Carta de Cooperação da OPEP, o CNPE também aprovou a entrada do Brasil em duas entidades internacionais voltadas para a transição energética – a Agência Internacional de Energia (IEA) e a Agência Internacional de Energia Renovável (Irena). O último processo chegou a ser barrado na gestão do ex-presidente Jair Bolsonaro, mas foi retomado pelo atual governo. Em paralelo, a Irena anunciou que dará apoio a uma nova iniciativa do governo brasileiro, a Coalizão Global para Planejamento da Transição e Segurança Energética, surgida nas discussões do G20 no ano passado no Brasil. O Valor deu mais detalhes.
Por outro lado, o CNPE não tomou nenhuma decisão acerca da retomada das obras da usina nuclear de Angra 3. Segundo o Estadão, o ministro-chefe da Casa Civil, Rui Costa, pediu o adiamento da questão. Análise recente do BNDES estimou que a conclusão das obras exigirá cerca de R$ 23 bilhões em investimentos. g1 e VEJA também repercutiram a notícia.