Papa Francisco diz em autobiografia que matar civis em Gaza “também é terrorismo”

Fonte: Flickr

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15 Janeiro 2025

O Papa Francisco afirma que matar civis indefesos como Israel fez em Gaza “também é terrorismo” e que reduzir “a população à fome produz o mesmo terror insensato”, em uma das passagens de sua autobiografia publicada na Itália.

A reportagem é publicada por La Marea, 14-01-2025. A tradução é do Cepat.

Esperança foi escrita ao longo de seis anos, com o jornalista italiano Carlo Musso, e será lançada em mais de 80 países. Inicialmente, o texto seria publicado após a morte do pontífice, mas decidiu-se divulgá-lo por ocasião do Jubileu que é celebrado neste ano.

O Papa, de 88 anos, relata episódios de sua infância e adolescência, além de outros ocorridos durante a ditadura argentina e o início de seu pontificado. Também revela dois atentados frustrados durante sua viagem ao Iraque e repassa muitos dos conflitos e crises internacionais atuais.

Francisco menciona suas tentativas de mediar a guerra na Ucrânia e até mesmo o seu pedido de viagem para a Rússia, ao qual o ministro das Relações Exteriores russo, Sergey Lavrov, respondeu que “não era o momento”.

Explica também a sua dor, em 07-10-2023, com os ataques do Hamas: “Para mim, foi duplamente doloroso. Naquela matança, perdi velhos amigos argentinos que viviam em um kibutz na fronteira com Gaza”. Contudo, acrescenta: “A esse desastre, a essa barbárie, logo se acrescentaria outro, enorme: os ataques aéreos israelenses, que provocariam milhares de mortes de inocentes, sobretudo de mulheres e crianças, e centenas de milhares de pessoas evacuadas, casas destruídas, gente a um passo da fome…”.

O Pontífice narra que está em contato constante com Gaza e com a Paróquia Católica da Sagrada Família [há outra igreja cristã em Gaza, a de São Porfírio, ortodoxa], cujo pároco é o padre argentino Gabriel Romanelli, que acolhe as famílias e os doentes e que foi “convertida em um cenário de morte”.

“A senhora Nadha Khalil Anton e sua filha Samar Kamal, que era cozinheira no lar para crianças deficientes sob os cuidados das irmãs de Madre Teresa, foram mortas por um franco-atirador do exército israelense, enquanto se dirigiam ao convento e buscavam se proteger mutuamente. Outros foram mortos a sangue frio nos arredores da paróquia, uma pequena comunidade cristã que chora a morte de mais de 20 de seus membros”, descreve.

“Isso também é terrorismo”, afirma o Papa. “A guerra que mata civis indefesos e desarmados, inclusive voluntários da Caritas que distribuem ajuda humanitária, que atormenta sem trégua os civis, que reduz a população à fome, produz o mesmo terror insensato”. O Papa também criticou “a vergonhosa incapacidade da comunidade internacional e dos países mais poderosos em colocar fim a este massacre, a onda de ódio se tornou um maremoto de violência”.

Papa Francisco fala sobre a sua morte

Francisco também se refere à sua saúde e que mesmo após as operações e internações “nunca” pensou em renunciar, ao passo que diante da morte confessa: “Embora eu saiba que já me concedeu muitas, eu pedi ao Senhor apenas mais uma graça: cuida de mim, que seja quando quiser, mas, o Senhor sabe, tenho muito medo da dor física... Então, por favor, não me faça sofrer muito”.

O Papa reitera que a Igreja acolhe a todos, “também as pessoas divorciadas, também as pessoas homossexuais, também as pessoas transexuais”.

“São filhos de Deus! Podem receber o batismo nas mesmas condições dos outros fiéis, e nas mesmas condições dos outros podem ser aceitos como padrinho ou madrinha, bem como ser testemunhas de um casamento. Nenhuma lei do Direito Canônico proíbe isto”, escreve no livro.

E ao lembrar que muitos países perseguem os gays, reitera que “a homossexualidade não é um crime, é um fato humano, razão pela qual a Igreja e os cristãos não podem permanecer indiferentes diante desta injustiça criminosa, nem ser pusilânimes”.

O Papa também relembra detalhes da sua juventude. “Naquela época, também me senti atraído por duas moças, uma de Flores, da paróquia, e outra do bairro de Palermo”.

“Saíamos em grupo, íamos dançar tango. Eu tinha 17 anos e já sentia dentro de mim a inquietação pela vocação ao sacerdócio. Ambas as senhoras ainda estão vivas e eu voltaria a vê-las já como bispo: uma dirigia uma paróquia no bairro de Caballito e a outra ainda morava em Palermo. Ambas estavam casadas e tinham filhos”, revela.

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