06 Dezembro 2024
”Aleppo é uma cidade mártir três vezes, pela guerra, pelo terremoto e agora por esta nova crise. As pessoas agora estão entre dois fogos. O medo domina, a criminalidade é desenfreada. Mas a Igreja está ao lado de seu povo”. Com essas palavras carregadas de preocupação, o cardeal Mario Zenari, núncio apostólico em Damasco, ao telefone com La Stampa, descreve o contexto dramático na Síria, cenário de novas tensões e violências após o avanço dos rebeldes jihadistas. O bispo lança um veemente apelo à comunidade internacional: “Prudência, para evitar mais derramamento de sangue. Isso não é brincadeira, é um grande desafio para o governo”.
A entrevista é de Domenico Agasso, publicada por La Stampa, 04-12-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
Eminência, pode nos dar uma atualização sobre Aleppo?
Estou em contato constante com nossas comunidades cristãs: há um clima de espera cheio de incertezas. Em algumas partes da cidade reina uma calma suspeita, enquanto em outras há tiroteios, voos de aviões e mísseis. É difícil prever o que acontecerá nas próximas horas ou dias. O que se sabe é que os civis estão, em sua maioria, fechados em casa, aterrorizados. No entanto, é preciso dizer que, até agora, os rebeldes mantiveram sua promessa de não atacar os civis, e não houve casos de violência diretas contra eles. Os escritórios do governo estão desertos. As pessoas se sentem abandonadas à própria sorte, presas entre dois fogos: de um lado, os grupos rebeldes armados, do outro, a contraofensiva do governo.
O que pede às potências internacionais neste momento? De que ajuda específica a Síria precisa?
Em primeiro lugar, é preciso prudência. Há o perigo de mais derramamento de sangue e o risco de que estruturas civis e religiosas sejam atingidas. Aleppo já sofreu demais. Nós nos lembramos da terrível batalha que terminou antes do Natal de 2016, que devastou o leste e o oeste de Aleppo, deixando 200.000 pessoas vagando na neve e na chuva. A isso se somou o terremoto de 5-6 de fevereiro de 2023. Agora, essa nova crise provocou pânico e novos deslocados: aqueles que podem, fogem de carro. É uma evacuação de civis e estrangeiros. Aleppo, uma cidade mártir, está passando por um sofrimento sem fim.
O Papa teme muito o “reacender-se da guerra”.
Sim, o risco é real. Aleppo é a segunda maior cidade da Síria e sua tomada representa um grande desafio para o governo de Assad, que, no entanto, tem aliados como a Rússia e o Irã, embora enfraquecidos. A situação é incandescente, como brincar com o fogo. Há muita inquietação e insegurança. O medo é palpável. Entrei em contato com um hospital católico em Aleppo, um dos três que temos na Síria. Eles me disseram que tudo está bloqueado: médicos e enfermeiros não saem de casa, tanto pelo perigo de andar pelas ruas quanto para proteger suas casas, que estão ameaçadas pela criminalidade. Aleppo está entregue a si mesma. A atmosfera é surreal, parece a calmaria antes da tempestade.
Qual é a posição das igrejas?
Os bispos garantiram aos fiéis que ficarão ao lado da população. O mesmo vale para os padres, religiosos e religiosas. A Igreja não abandonará seu povo.
Como estão os franciscanos do Colégio Terra Sancta após o ataque sofrido?
O Colégio é uma grande estrutura, um recurso para a metrópole, equipado com espaços para jovens, jogos para as crianças, áreas onde as famílias podem descansar aos domingos. Durante o terremoto, centenas de pessoas se refugiaram lá. O prédio sofreu sérios danos, mas ninguém ficou ferido. E o ataque não deteve o Bispo D. Hanna Jallouf, Vigário Apostólico para os católicos de rito latino, e os religiosos, que continuam a rezar e a trabalhar incansavelmente em sua obra de proximidade com as pessoas necessitadas.
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Síria. “Aqueles que podem, fogem. Estamos todos barricados em casa. Aleppo, cidade mártir; sofrimento sem fim”. Entrevista com Mario Zenari - Instituto Humanitas Unisinos - IHU