05 Dezembro 2024
A reportagem é de José Lorenzo, publicada por Religión Digital, 04-12-2024.
"Eu adorei a conclusão do Sínodo ao ouvir o Papa Francisco basicamente dizer: 'Está bem, já é suficiente. Basta. Já falamos o suficiente. Já discutimos o suficiente. Já escrevemos o suficiente. Agora vamos sair e fazer.'” Um mês após o encerramento, o arcebispo de Malta, Charles Scicluna, reflete, em entrevista à revista America, sobre esse evento histórico do qual, destaca ele, a Cúria Vaticana também deve tomar nota.
"O Papa não sentiu a necessidade de uma exortação pós-sinodal, mas acredito que isso ocorre porque ele sabe que a sinodalidade, em última análise, trata das relações transformadoras que praticamos no terreno. Inclusive na Cúria Romana, é claro", destaca o arcebispo, de 65 anos, e um dos homens-chave deste Papa na luta contra os abusos na Igreja.
"Sou grato pela sabedoria do Papa. Ele disse: 'Estou aprovando este documento, e não haverá uma exortação pós-sinodal. Isso é tudo'”, ressaltando, assim, que "o trabalho realizado por este último sínodo é também a palavra e o magistério do Santo Padre. Isso é muito positivo. Ele também esteve muito presente. Ele estava lá quando foi lido e estava lá quando foi aprovado".
Scicluna percebe, após essas duas assembleias sinodais em anos consecutivos, que "um dos desafios, é claro, será a conversão da Cúria Romana para esse estilo de liderança, porque nós, bispos, também devemos ser capazes de nos relacionar com a Cúria Romana, especialmente com os dicastérios, nesse espírito sinodal".
"Precisamos incutir uma cultura de transparência e prestação de contas em todos os níveis. Em alguns âmbitos isso melhorou, mas ainda há trabalho a ser feito. A Cúria Romana não pode mais dizer: 'A lei é estabelecida aqui e deve ser obedecida lá fora'. Alguns interpretam a postura das mãos das estátuas de São Pedro e São Paulo em frente à Basílica Vaticana como se dissessem exatamente isso. Minha esperança é que haja uma nova interpretação mais inclusiva".
Quanto à questão da mulher na Igreja no Documento Final do Sínodo, o arcebispo maltês não esconde certa decepção: "Acredito que poderíamos fazer melhor. O documento é importante. Mas é apenas um documento. Começaria com a experiência de ter mulheres em nossas mesas e de interagir conosco em um nível de igualdade".
"Essa é uma experiência transformadora muito importante, e, em última análise, é a experiência vivida que transforma as pessoas, não a teoria. Se você quer se relacionar com as mulheres, não se limite a falar ou escrever sobre elas. Relacione-se com elas! Em Malta, já temos mulheres no conselho do arcebispo, em nosso grupo de mídia, no tribunal, etc. Acredito que essa é a direção que devemos seguir".
"O documento está aberto à participação das mulheres em todos os aspectos da vida da Igreja. Mas, no fim das contas, é o que fazemos com ele que realmente transformará a Igreja, não o documento em si".
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O toque de Scicluna na Cúria Romana: ele pede uma conversão ao estilo sinodal - Instituto Humanitas Unisinos - IHU