08 Novembro 2024
"O terrível ataque de 7 de outubro não poderia ter outra consequência senão uma série de massacres: combatentes armados, mas também a população civil. O número de mulheres e crianças mortas em Gaza, enquanto dormiam ou enquanto tentavam fugir, é enorme. O número de mortos não tem importância. A limpeza étnica não se preocupa com tais sutilezas", escreve Tahar Ben Jelloun, romancista, ensaísta, poeta e pintor franco-marroquino de expressão francesa, em artigo publicado por La Repubblica, 06-11-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
Quem até agora cultivou a esperança de um dia ver nascer um Estado palestino ao lado do Estado de Israel deve se render às evidências. Nunca haverá um Estado palestino.
A tragédia de 7 de outubro de 2023 e o ano subsequente de guerra incessante definitivamente mataram qualquer esperança de ver essa solução se concretizar, que teria feito justiça a um povo agora condenado à sobrevivência ameaçada ou a um improvável exílio. Antes da morte de Yahya Sinwar, o mentor do massacre de 7 de outubro, a maioria dos líderes dos movimentos palestinos e libaneses caiu vítima de assassinatos seletivos: Hassan Nasrallah, Ismail Haniyeh, Mohamed Deif, Mohamed Nasser. O Hamas e o Hezbollah, decapitados, estão perdidos. Não sabem mais como lutar e como sobreviver sem a ajuda dos países árabes vizinhos, que permanecem em silêncio.
O Irã também não fará nada pelos palestinos. Ele se limitará a ameaças, mas não irá além disso. Os riscos para sua estratégia nuclear são altos demais.
O terrível ataque de 7 de outubro não poderia ter outra consequência senão uma série de massacres: combatentes armados, mas também a população civil. O número de mulheres e crianças mortas em Gaza, enquanto dormiam ou enquanto tentavam fugir, é enorme. O número de mortos não tem importância. A limpeza étnica não se preocupa com tais sutilezas.
Agora que todos os líderes foram eliminados e o Hamas em particular - que ainda mantém os reféns - não tem mais uma liderança política ou militar, nos perguntamos: se Netanyahu decidir que quer os reféns libertados, com quem negociará? Parece que sua principal preocupação, desde a noite de 7 de outubro de 2023 em diante, tem sido liquidar o maior número possível de palestinos.
Ele acredita que, dessa forma, a questão palestina também desaparecerá. Uma visão bastante míope. Quanto aos infelizes reféns, tão inocentes quanto as famílias exterminadas em Gaza, a política de Netanyahu parece tê-los sacrificado. Netanyahu teve várias oportunidades de negociar sua libertação, mas preferiu sacrificá-los, acusando o Hamas de pôr condições inaceitáveis.
Hoje, tanto em Gaza quanto na Cisjordânia, os palestinos estão perdendo suas terras. Gaza será colonizada novamente. Quanto ao Líbano, a parte sul será ocupada novamente. Enquanto isso, o silêncio dos Estados árabes da região é ensurdecedor. Nem uma palavra. Nem uma lágrima.
Os Estados Unidos fornecem diariamente a Israel as armas de que precisa, acompanhando a entrega com bilhões de dólares. Kamala Harris demonstrou grande cautela em relação a esse conflito. O eventual retorno de Trump ao poder é o maior desejo de Netanyahu. O que é certo é que, caso Trump retorne à Casa Branca, isso seria uma péssima notícia para os palestinos ainda vivos. Como os nativos nos EUA, eles enfrentarão momentos difíceis e, com o tempo, provavelmente serão exterminados.
A Arábia Saudita e outros Estados do Golfo assinarão os Acordos de Abraão e estabelecerão boas relações de vizinhança com um Estado forte que terá conseguido fazer com que a questão palestina seja esquecida.
Mas isso não significa que Israel poderá viver em paz. Neste ano terrível de guerra total, os palestinos morreram aos milhares. Um território vandalizado. Casas demolidas. Refugiados por toda parte. Suas almas foram atingidas, feridas, queimadas, e o ódio que carregam consigo, mais cedo ou mais tarde, reacenderá uma guerra sem fim.
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A paz impossível. Artigo de Tahar Ben Jelloun - Instituto Humanitas Unisinos - IHU