22 Julho 2024
O artigo e de José Melero Pérez, publicado por Religión Digital, 19-07-2024.
O Papa Francisco é quem decide os temas que podem ser debatidos no Sínodo de outubro, mas também os temas que devem ser deixados de lado, ao considerá-los intocáveis, irrevogáveis e inquestionáveis. Esses temas são: o diaconato feminino, e claro, o sacerdócio feminino, o celibato opcional do clero e a pastoral LGBT.
Deveríamos adicionar os temas que Francisco também considerou inamovíveis no décimo mandamento dos dez que propôs cumprir. Ele disse isso com estas palavras: "Não podemos continuar insistindo em questões como aborto, divórcio, casamento homossexual, eutanásia ou uso de contraceptivos".
Aborto é nazismo de luvas.
— Larissa Albuquerque (@Lari43210) June 27, 2024
Papa Francisco pic.twitter.com/bvxi3lh3CS
Considero que bloquear o debate sobre todos esses temas, que os teólogos e fiéis progressistas consideram essenciais para construir uma Igreja em saída que comece a caminhar em direção a um rumo afastado da tradição, é colocar mais obstáculos ao progresso. Francisco está dizendo: "A Igreja mantém um matrimônio indissolúvel com a tradição e não está disposta a separar-se dela, por mais que insistam aqueles que desejariam uma mudança de rumo, já que isso eliminaria suas características mantidas por quase dois milênios".
Análise dos temas bloqueados por Francisco
Numa exortação apostólica, Francisco afirma que era "necessário ampliar os espaços para uma presença feminina na Igreja, especialmente nos lugares onde são tomadas as decisões importantes". Ele deixou em aberto o acesso das mulheres ao diaconato, mas agora o fechou, dando marcha à ré. Ele foi claro: "Trata-se de diáconos com a Ordem sagrada; NÃO... as mulheres prestam um grande serviço como mulheres, não como ministras". Também rejeitou o sacerdócio feminino, mantendo a hierarquia patriarcal antievangélica.
O teólogo progressista Juan José Tamayo acredita que o grande escândalo da Igreja Católica, persistente por séculos sem mudanças, é a marginalização das mulheres. "Isso me parece não apenas um escândalo, mas a maior contradição, pois vai contra o movimento de Jesus de Nazaré, que foi um movimento igualitário de homens e mulheres, sem discriminação por motivos de gênero. Creio que isso é o que mais desacredita a Igreja Católica hoje, onde as mulheres continuam sendo discriminadas e são a maioria silenciada".
O papa parece ignorar que a igualdade entre homens e mulheres é explícita na carta de Paulo aos Gálatas: "Não há mais judeu nem grego, escravo nem livre, homem nem mulher; pois todos vós sois um em Cristo Jesus" (Gálatas 3,28).
Também parece ignorar que Jesus acolheu mulheres entre seus discípulos mais próximos: "Depois disso, Jesus ia pelas cidades e aldeias pregando o Reino de Deus. Com ele estavam os Doze e também algumas mulheres que tinham sido curadas de espíritos maus e de doenças: Maria, chamada Madalena, da qual tinham saído sete demônios; Joana, mulher de Cuza, procurador de Herodes; Susana, e muitas outras, que o ajudavam com os seus bens" (Lucas 8,1-3).
Portanto, é inquestionável que o Vaticano e o Sucessor de Pedro devem reconhecer o apostolado realizado por homens e mulheres em condições de igualdade nas primeiras comunidades cristãs.
A Igreja Católica continua a desaprovar as relações entre pessoas do mesmo sexo. Em nenhum dos quatro evangelhos há referência à homossexualidade. Jesus não falou sobre isso, o que significa que este tema não o interessava ("Quem cala, consente").
No entanto, Paulo fala contra a homossexualidade. Na primeira carta aos Coríntios (6,9-10), ele diz: "Não se iludam! Nem os imorais, nem os idólatras, nem os adúlteros, nem os homens que se deitam com outros homens... herdarão o Reino de Deus".
A Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmou que a orientação sexual não é uma anomalia nem uma doença, mas simplesmente faz parte da diversidade da condição humana.
Eu acredito que a união de um casal homossexual deveria ser acolhida pela Igreja com uma celebração de oração e bênção, sem necessariamente incluí-la no sacramento do matrimônio.
No entanto, a iniciativa do Papa de solicitar reflexões sobre este e outros temas relacionados à situação atual da família é um reconhecimento de que é possível mudar estas e outras doutrinas retrógradas.
O celibato opcional é uma demanda cada vez mais solicitada pelos setores progressistas do clero e dos fiéis. É inquestionável que o celibato obrigatório é um fator de risco para desvios de natureza sexual e comportamentos pedófilos.
Segundo Gerardo Di Fazio: "A Igreja Católica é formada por 24 expressões distintas. Apenas o rito latino, hoje liderado pelo Papa Francisco, mantém a disciplina do celibato sacerdotal.
Onde, como e por que surge esta disciplina? Até 1022 (há exatamente mil anos), muitos sacerdotes eram casados, era normal e natural. De fato, o primeiro papa, Pedro, era casado. E entre os apóstolos de Jesus, apenas João era solteiro. Em agosto desse ano, mais especificamente no Sínodo de Pavia, entre o Papa Bento VIII e o rei saxão Henrique II - posteriormente consagrado santo - decidiram que os sacerdotes deveriam ser celibatários".
O uso do preservativo continua sendo um tema tabu para a Igreja. O Papa afirmou que só pode ser usado moralmente quando um dos membros do casal sofre de uma doença sexualmente transmissível como a AIDS. Uma medida muito restritiva que não considera seu uso como método contraceptivo, embora ele mesmo tenha dito que é irresponsável ter muitos filhos, e um meio de evitar infecções. Portanto, continua a proibição do uso livre do preservativo e dos contraceptivos em geral, com graves consequências como as causadas por Teresa de Calcutá, que apesar de ter dedicado toda a sua vida aos pobres, foi contra o preservativo seguindo a moral da Igreja, causando empobrecimento a centenas de famílias que tiveram mais filhos do que poderiam sustentar.
Outro tema intocável para a Igreja é o divórcio, ao considerar o matrimônio sacramental como uma união indissolúvel entre um homem e uma mulher. O matrimônio para toda a vida é uma utopia, porque a realidade mostra que o amor e a boa convivência entre os dois cônjuges nem sempre são permanentes, podendo gerar uma situação de sofrimento e confronto por várias razões como infidelidade ou abuso. Esta situação é ainda mais difícil se o casal tiver filhos, pois são eles os que mais sofrem com essa situação, deixando cicatrizes traumáticas. O divórcio nessas circunstâncias é necessário para sair de um inferno e encontrar um novo amor. É até uma opção cristã viável, pois Jesus deseja que nos amemos uns aos outros, não que um casal fique brigando todos os dias. Além disso, ele não é a favor do sofrimento ao afirmar: "Eu desejo misericórdia, não sacrifício".
Outro tema rejeitado pela Igreja é o direito a uma morte digna quando os cuidados paliativos são ineficazes e o paciente está em fase terminal. Novamente, a Igreja vai contra as palavras de Jesus, que prioriza a misericórdia sobre o sofrimento.
A Igreja deveria debater o aborto terapêutico, realizado quando a vida da mãe está em alto risco, ou quando o feto tem uma grave e dolorosa malformação que torna sua vida inviável. Mais uma vez, ressoam as palavras de Jesus que priorizam a misericórdia sobre o sofrimento.
No próximo mês de outubro, os temas mais importantes e urgentes que a Igreja precisa debater estarão ausentes do debate sinodal. Isso é uma condição indispensável para transformar a Igreja em uma Igreja em saída, oposta à atual, que se encontra fechada pela tradição. As esperanças por uma Igreja atualizada foram frustradas pelo rumo tomado pelo Papa Francisco em direção a uma Igreja mais tradicional. Assim, o modelo da Igreja atual não se encaixa nem com o evangelho nem com os valores das sociedades democráticas.
De qualquer modo, é pouco provável que esses temas cheguem a um bom termo se forem tratados no Sínodo, pois, apesar da inclusão de leigos e mulheres com voz e voto, os curiais são maioria. Além disso, a última decisão sempre será do Papa, conforme afirmou um colaborador de Bergoglio. Portanto, a hierarquia sempre terá o controle, mantendo a estrutura hierárquica-piramidal antidemocrática, típica do Antigo Regime, derrubado pela Revolução Francesa há 235 anos, para ser substituído pela democracia. Este Sínodo não representará um avanço, mas, como afirmou Jesús Bastante na RD, será um retrocesso ao marginalizar a maioria das reivindicações dos setores progressistas da Igreja (sacerdócio feminino, celibato opcional, pastoral LGBT...), que não serão discutidos pelos padres sinodais.
Qual é a sua conclusão sobre o papel que o Papa Francisco está desempenhando na atualização da Igreja?
Eu concluo que o Papa Francisco encontrou uma Igreja extremamente conservadora em todos os níveis. Isso fez com que ele percebesse a urgência de renová-la para aproximá-la do Evangelho e dos novos valores emergentes dos Direitos Humanos. É paradoxal que a Igreja primitiva tenha representado um avanço significativo ao reconhecer a dignidade humana, baseada principalmente na igualdade entre homens e mulheres, entre diferentes culturas, entre etnias... etc., enquanto no século XXI são as sociedades democráticas que estão ensinando lições à Igreja.
É de grande valor que o Papa Francisco tenha decidido iniciar a atualização da Igreja para romper com o conservadorismo, mesmo que tardio. Ele começou uma nova fase, que deve servir de ponto de partida para que os próximos pontificados continuem trabalhando nas reformas que ele iniciou. A aceitação e a implementação dessas reformas dependem de todo o povo de Deus, começando pela alta hierarquia, pelo clero e pelos fiéis. Caso contrário, a mentalidade reformadora do Papa Francisco será em vão.
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Francisco bloqueia os temas mais candentes do Sínodo - Instituto Humanitas Unisinos - IHU