Divórcio, os teólogos abrem uma brecha: “Possível, se falta a expressão do amor”

Foto: Wikipédia / Jeff Belmonte

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19 Dezembro 2019

Divorciar, mas com cautela. Um livro acaba de ser publicado pela Libreria Editrice Vaticana, que contém uma brecha sem precedentes, uma luz nada certa, mas preciosa para todos aqueles casais católicos que naufragaram, caindo em mil pedaços, na dor da derrota existencial. Os teólogos, embora deixem claro que existe "a indissolubilidade" do matrimônio, deram um passo adiante afirmando que o marido ou a esposa que conscientemente percebem a própria impossibilidade de continuar o caminho conjugal já não mais baseado no amor, “não estão fazendo um ato contra o casamento".

A reportagem é de Franca Giansoldati, publicada por Il Messaggero, 18-12-2019. A tradução é de Luisa Rabolini.

Em suma, é uma abertura para o divórcio, embora com mil distinções e muitas cautelas. O livro chamado Che cosa è l'uomo (O que é o homem, em tradução livre) aborda o tema em um parágrafo inteiro. "O Mestre peremptoriamente afirma a indissolubilidade do matrimônio, proibindo o divórcio e novos casamentos", mas, no entanto, os teólogos lembram que "não faz um ato contrário ao casamento o cônjuge que - constatando que o relacionamento conjugal não é mais expressão de amor - decide separar-se daquele que ameaça a paz ou a vida dos familiares; aliás, ele paradoxalmente atesta a beleza e a santidade do vínculo precisamente ao declarar que ele não realiza seu significado em condições de injustiça e infâmia".

Magistério

O papa desde o início do pontificado havia se concentrado no desconforto de tantos casais divorciados e depois recasados. Durante uma audiência, ele até mencionou a possibilidade de um divórcio "cristão", refletindo sobre muitas situações de violência escondida e oculta entre os muros domésticos: "Não devemos insistir no fato de ser possível ou não dividir um casamento. Às vezes acontece que o relacionamento não funciona e é melhor se separar para evitar uma guerra mundial, esta sim é uma desgraça”. O estudo recém-publicado é uma leitura antropológica sistemática da Bíblia atualizada até os dias atuais e analisada de acordo com diferentes ângulos.

O jesuíta, padre Pietro Bovati, secretário da Pontifícia Comissão Bíblica, redator do texto, explicou que o pedido veio pessoalmente do Papa e o resultado são os quatro capítulos de investigação cognitiva da criatura humana e sua relação com o Criador, assim como são narrados pelas Escrituras. "Em sua história milenar, a humanidade progrediu no conhecimento científico, aprimorou gradualmente sua consciência dos direitos do homem, testemunhando um crescente respeito pelas minorias, pelos indefesos, pelos pobres e marginalizados".

O texto da Comissão do antigo Santo Ofício também colocou outras temáticas espinhosas sob a lupa, como a questão do gênero. "Parece-nos - acrescentou o padre Bovati - ter respondido precisamente ao que a Igreja nos pede, isto é, não dizer coisas que não são as que a Bíblia apresenta. Por isso, aceitamos abordar as questões, respeitando o nível de informação que temos das Escrituras. Existem perguntas que os homens apresentam hoje, que não encontram uma resposta imediata e precisa nas Escrituras, porque as situações culturais dos tempos antigos não são nossas”.

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