20 Fevereiro 2014
O presidente emérito do Pontifício Conselho para o diálogo ecumênico, o octogenário Walter Kasper, não foge das perguntas. Mesmo daquelas mais espinhosas sobre a oportunidade de ser ele que irá introduzir o debate nessa quinta-feira, consultivo e não deliberativo, dos purpurados sobre os problemas da família. Há muito tempo, o cardeal convive com o rótulo de liberal, que lhe foi atribuído por aqueles ambientes eclesiais que nunca gostaram das suas aberturas sobre a primazia das Igrejas locais sobre a universal, sobre o diaconato feminino – não sacramental – e, justamente, sobre a Eucaristia e divorciados em segunda união: "Todo pecado – lembrou também há alguns dias, às margens de um seminário sobre diálogo inter-religioso e violência – pode ser absolvido, todo pecado pode ser perdoado. Esse é o ponto de partida: não é concebível que alguém possa cair em um buraco negro do qual Deus não possa tirá-lo".
A reportagem é de Giovanni Panettiere, publicada no blog Pacem in Terris, 19-02-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis a entrevista.
Cardeal Kasper, então nesta quinta-feira será o seu relato introdutório ao pré-consistório sobre a família?
Sim, tenho a tarefa de proferir duas conferências que abrirão o debate entre os cardeais.
Nestes dias, não faltaram algumas polêmicas sobre a escolha do pontífice de confiar a intervenção inicial ao senhor, notoriamente possibilista sobre o acesso à comunhão para os divorciados em segunda união. Isso lhe incomoda?
Francamente, eu não leio os jornais italianos e não ouvi essas polêmicas. Não me interessam, até porque eu as considero ridículas. Eu ainda não falei, e já se protesta. Eu respondo ao papa, que me pediu para abrir o encontro. Não fui eu que disse para intervir.
O Papa Francisco gosta muito do senhor. No seu primeiro Ângelus, ele até citou o seu livro sobre a misericórdia e agora o escolheu para o pré-consistório. Há uma certa sintonia de pontos de vista entre vocês dois.
Agrada-me que o papa me estime, sem dúvida. Mas eu quero dizer claramente: a questão dos divorciados em segunda união não estará no centro das minhas conferências.
O fato é que, também à luz do resultado da consulta da base católica em vista do Sínodo, a questão da comunhão aos irregulares é um dos temas mais sentidos, o senhor não acha?
O problema é atual, inevitável. E é bom que agora haja um debate sereno entre os cardeais e entre os bispos.
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''A questão dos divorciados é atual. O debate faz bem à Igreja''. Entrevista com Walter Kasper - Instituto Humanitas Unisinos - IHU