11 Junho 2024
A Academia de Teólogos Católicos Hispânicos dos Estados Unidos (ACHTUS) está realizando um colóquio sobre o tema “Sinodalidade em conjunto: o povo de Deus, a Bíblia e a Teologia" de 9 a 12 de junho de 2024 no Connors Center em Dover, Massachusetts.
A reportagem é de Luis Miguel Modino.
O encontro começou no domingo com uma reunião do Conselho de Diretores e uma missa presidida pelo bispo brasileiro, auxiliar de Boston, dom Cristiano Barbosa. Em uma mensagem aos participantes do encontro, o Papa Francisco destacou que os teólogos hispanos nos Estados Unidos são “caracterizados por estarem sempre em contato com a terra, colocando a realidade antes das ideias, tendo como ponto de partida a realidade de um povo que caminha desde o Sul, ao mesmo tempo em que acolhe, acompanha e integra”, insistindo nessas atitudes: acolher, acompanhar e integrar.
Francisco considerou lindo o título do colóquio, ressaltando “quantas coisas são ditas no nome”. Em suas palavras, destacou o conceito de “sinodalidade em conjunto”, presente no título do colóquio. Lembrando algo que sempre diz: “a opção preferencial da Igreja Católica não é só pelos pobres, mas também com os pobres”, o comparou com “a tarefa teológica do sínodo, que não pode ser realizada à margem do povo”.
Ele convidou os teólogos hispanos nos Estados Unidos a “serem construtores de pontes entre as Américas, para que nossos povos possam ter uma vida boa e abundante”. É uma questão, nas palavras de Francisco, de “construir pontes teológicas e sinodais, juntos, com todas as Américas”. Para o Santo Padre, “sendo teólogos hispânicos, eles são teólogos do povo de Deus, e também teólogos dos povos das Américas, essa é a condição sinodal”.
Foto: Luis Miguel Modino
Sobre os teólogos hispânicos nos Estados Unidos, “que não se esquecem de suas raízes”, e que ele vê como “conhecedores da Bíblia e fazedores de teologia”, o Papa os considera capazes de “fazer teologia com a cabeça, com o coração e com as mãos. Uma teologia capaz de integrar a riqueza de ambas as culturas, do Norte e do Sul, a serviço de uma vida digna para os trabalhadores migrantes que chegam todos os dias à América do Norte, vindos do Sul, da América Central e do Caribe".
Por fim, Francisco apelou para o lado teológico da migração, pedindo aos participantes do colóquio que “não negligenciem em suas reflexões sinodais a condição das famílias hispanas que chegam a esta terra”. A partir daí, ele insistiu que “as famílias migrantes não são movidas apenas pela necessidade de sobrevivência, mas também pela virtude teológica da fé que as leva a confiar no povo das Américas”. Para os participantes, ele pediu a bênção de Deus e a proteção de Nossa Senhora.
A mensagem pontifícia à ACHTUS “tocou nossos corações”, nas palavras de sua presidenta, Ahida Calderón Pilarski. A professora de Antigo Testamento do Saint Anselm College enfatiza, nas palavras do Papa Francisco, que “seu chamado para avançar em nossa tarefa teológica de ‘colocar a realidade antes da ideia’, ou seja, colocar as experiências vividas de nossas comunidades em primeiro plano, reafirmou o trabalho que estamos fazendo há muitas décadas”.
Quanto ao colóquio, ela enfatizou que “está nos permitindo discutir em um nível mais profundo o documento da Conferência dos Bispos Católicos dos Estados Unidos (USCCB), elaborado na Fase Continental do Sínodo”, em uma reunião que reúne todas as subdisciplinas da teologia: Estudos Bíblicos, Sistemática, Ética, Teologia Prática e outras, líderes pastorais, estudantes de pós-graduação em teologia e nossos colegas da América Latina. Do que foi dito no colóquio, ele enfatizou uma frase: “Não pergunte o que a sinodalidade pode fazer por você, mas o que você pode fazer para ser sinodal”, o que coloca a responsabilidade dos teólogos em primeiro plano. A partir daí, ele espera que esse colóquio os una na jornada conjunta da Igreja, “ouvindo as esperanças e preocupações de todo o povo de Deus”.
A reunião da ACHTUS é vista por Hosffman Ospino, Professor de Teologia e Educação Religiosa na Boston College School of Theology, como um momento “no qual os teólogos católicos hispanos nos Estados Unidos, em diálogo com colegas de várias partes da América Latina, refletem sobre as oportunidades e os desafios que surgem quando falamos seriamente sobre sinodalidade”. Em suas palavras, ele enfatizou que “somos enriquecidos pela similaridade de experiências ao confirmarmos os laços que nos unem como uma família católica nas Américas”. Ao mesmo tempo, ele destacou que “ao vislumbrar nossas particularidades, somos convidados a entrar em comunhão em meio às nossas diferenças”, insistindo que “esse tipo de conversa nos torna melhores teólogas e teólogos a serviço de uma Igreja sinodal”.
Ahida Caldern Pilarski e Hoffman Ospino (Foto: Luis Miguel Modino)
Um encontro no qual, de acordo com Victor Carmona, da Universidade de San Diego, “estamos discernindo de coração o fato de que, em uma igreja totalmente sinodal, a realidade é mais importante do que a ideia, especialmente quando se trata da realidade de nossas comunidades marginalizadas, a começar pelos migrantes”.
Para Peter Casarella, professor de teologia da Duke Divinity School, “a mensagem do Papa é um milagre, é uma bênção. Depois de 36 anos de reuniões, nunca recebemos uma afirmação tão forte e profunda". Insistindo que “é necessário estudar bem essas palavras”, ele diz que vê “vínculos com a teologia do povo e com a teologia dos migrantes”. A partir daí, ele enfatiza que “nós, hispanos nos Estados Unidos, somos uma ponte entre culturas e podemos oferecer esse ponto de partida como nosso dom e nossa tarefa para a igreja global”.
Por sua vez, Emilce Cuda, secretária da Pontifícia Comissão para a América Latina, assinalou que “estou aqui para construir uma nova ponte, a da sinodalidade entre os teólogos das Américas, como Francisco nos pede em sua mensagem”. Nesse sentido, a teóloga argentina disse com alegria que estão sendo dados passos para colocar em marcha essa construção de pontes, chegando a afirmar que “em breve haverá boas notícias”.
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Francisco convida os teólogos católicos hispanos dos EUA a “construir pontes sinodais com todas as Américas” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU