01 Setembro 2022
“Não consigo pensar em um evento na vida da Igreja dos EUA que tenha despertado tanta esperança quanto a nomeação de McElroy para o Colégio dos Cardeais, em parte porque foi considerada improvável, em parte por causa dos dons únicos de McElroy. É notável para mim que o Santo Padre esteja tão bem informado que ele foi capaz de fazer essa escolha. Com essa nomeação, o papa apontou o caminho para a Igreja dos EUA seguir, e o futuro parece mais brilhante hoje do que há muito, muito tempo”, escreve o jornalista estadunidense Michael Sean Winters, em artigo publicado por National Catholic Reporter, 31-08-2022. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
Como você pode imaginar, eu não sou alguém que fica sem palavras. Mas quando finalmente cheguei ao fim da fila de recepção na residência do embaixador dos EUA na Santa Sé para cumprimentar o cardeal Robert McElroy, em 26 de agosto, não encontrei as palavras. Isso foi três meses depois da notícia da sua elevação ao cardinalato – três meses para pensar – e eu ainda não tinha certeza do que dizer.
O arcebispo John Wester, de Santa Fé, Novo México, sabia o que dizer. “Extasiado” foi como ele descreveu o que muitos dos católicos estavam sentindo naquele momento. Ester falou em um jantar para a família e amigos de McElroy depois da missa de ação de graças em 28 de agosto. Em discussões com peregrinos de San Diego, amigos de McElroy vindos de San Francisco ou da universidade e seminário, e seus irmãos bispos, “extasiado” foi a palavra exata.
Para os católicos progressistas, McElroy tem sido um dos que vai avança os limites, faz declarações de apoio aos católicos gays, enfrenta os conservadores que tentam sequestrar o ensino da Igreja para fins políticos e participa em conferências sobre a mudança climática. Os católicos cujos corações estavam aquecidos e encorajados pela liderança de McElroy, já há muitos anos, estavam extasiados com a nomeação.
Para as lideranças intelectuais católicas, “êxtase” era a palavra certa. “É um truísmo que teólogos e bispos vivem em bolhas diferentes”, disse-me o jesuíta Mark Massa, diretor do Boisi Center for Religion and American Public Life no Boston College. “A pessoa que melhor conseguiu estourar essas bolhas foi John Courtney Murray. Bem antes do Vaticano II, Murray viu as complexidades e a promessa de ser um católico fiel nos EUA. A maioria dos intelectuais com quem converso estão encantados que McElroy seja agora um cardeal. porque ele fez um trabalho intelectual sério em Murray no início de sua carreira eclesiástica”.
Massa acrescentou: “McElroy tem o poder de fogo intelectual que pode usar os insights de Murray de uma forma pastoral”.
Cathleen Kaveny, que leciona direito e teologia no Boston College, concordou. “A maioria das pessoas pensa que há uma divisão nítida entre a vida intelectual e a vida pastoral. O cardeal McElroy é a prova viva de que esse não é necessariamente o caso”, disse-me Kaveny. “Ele pega seu grande conhecimento e o aplica às particularidades das situações que estão diante dele, situações de grande necessidade espiritual e material. E então, ele demonstra que, nos seus melhores, a teologia moral católica e o ensino social católico não são palavras dadas pela indiferença, mas brotam do coração amoroso da Igreja.”
McElroy, no entanto, não é um homem que vive em sua cabeça. Em seus comentários no jantar de comemoração, Wester detalhou os principais relacionamentos na vida de McElroy como só ele poderia conhecer, conhecendo o novo cardeal desde sua juventude. Wester resumiu essas influências: “Amor cultivado na família, cuidado com o próximo na paróquia, fraternidade do sacerdócio nos Sulpicianos, reunião de pessoas em São Francisco, teologia resiliente, sempre adaptável, ousada e acessível, motivada pelo Espírito Santo e defendido por três arcebispos estelares: são partes integrantes do legado deixado ao cardeal McElroy”.
No consistório de 27 de agosto, foi notável ver cardeais se misturando tão facilmente. Eles vêm de lugares diferentes e de gerações diferentes. Eles têm uma grande variedade de personalidades, algumas sendo introvertidas, outras extrovertidas. Eles têm todos os tipos de conexões interessantes uns com os outros. Por exemplo, McElroy foi delegado do sínodo de 2019 na Amazônia, e o único outro delegado dos EUA foi o cardeal de Boston Sean O'Malley. Mas há uma conexão anterior também: McElroy já foi secretário-sacerdote do arcebispo de São Francisco, John Quinn. O'Malley disse ao NCR que em 1979, quando Quinn era o presidente da conferência dos bispos dos EUA, ele representou a hierarquia dos EUA na reunião dos bispos latino-americanos em Puebla, México. Quinn não falava espanhol e precisava de um tradutor. Quem era? O'Malley.
O que a elevação de McElroy significa para a comunidade católica em geral?
Tecnicamente, tornar-se cardeal não dá a uma pessoa um pingo de autoridade a mais. Além do direito de votar em um novo papa, nada nos deveres diários de McElroy como bispo de San Diego mudará. A cor dos botões e da faixa de sua batina vai mudar, mas a primeira vez que vi McElroy de batina foi na recepção da embaixada, então a mudança no traje não será muito notada.
Além do traje, no entanto, o fato de McElroy se tornar um cardeal tem um significado enorme. Isso significa que suas entrevistas, suas intervenções nas reuniões da conferência dos bispos dos EUA, seus sermões, tudo será mais ampla e cuidadosamente examinado. Certamente, o poder de fogo intelectual de McElroy e o dom para o diálogo deram destaque às suas intervenções por muitos anos. Agora eles terão mais destaque, dentro da Igreja e na grande mídia, porque eles virão de um cardeal, alguém que o próprio papa escolheu para essa honra tão exclusiva.
McElroy articulou o ensino da Igreja de uma forma que alguns tradicionalistas abominam, mas seus argumentos sempre foram fundamentados em nosso ensino católico, não em alguma interpretação bizarra e americanista desse ensino. Este é um dos grandes desafios que a ala anglófona da Igreja Católica nos Estados Unidos enfrenta para resgatá-la das más interpretações e deturpações do ensinamento católico que foram impingidas aos leigos nos últimos 40 anos. Ninguém resumiu melhor essas distorções do que o teólogo italiano Massimo Borghesi, no livro “Catholic Discordance: Neoconservatism vs. the Field Hospital Church of Pope Francis” (“Discordância católica: neoconservadorismo vs. o hospital de campanha do Papa Francisco”, em tradução livre).
Ser pastor de uma diocese ao longo da fronteira também dispôs McElroy a ajudar a resolver a questão do cuidado pastoral para os latinos. Algo profundo na imaginação cristã é agitado por viver na fronteira, algo espiritual, mas também algo com profundas consequências políticas. Os teólogos Victor Carmona e Robert Heimburger abordaram algumas dessas questões em ensaio publicado pelo Journal of Moral Theology, “The Border, Brexit and the Church: US Roman Catholic and Church of England Bishops' Teaching on Migration, 2015-2019” (“A fronteira, Brexit e a Igreja: O ensino sobre migração da Igreja Católica dos EUA e dos bispos das Inglaterra, de 2015 a 2019”, em tradução livre).
É vital que a Igreja nos Estados Unidos ajude os latinos e outras comunidades migrantes a manter sua espiritualidade diante de convites agressivos para assimilar a cultura estéril e consumista que os rodeia no minuto em que chegam aos EUA McElroy está bem posicionado para ajudar nesta excelente tarefa pastoral.
Não é dado a nenhum de nós ver o futuro, mas posso dizer isso. Não consigo pensar em um evento na vida da Igreja dos EUA que tenha despertado tanta esperança quanto a nomeação de McElroy para o Colégio dos Cardeais, em parte porque foi considerada improvável, em parte por causa dos dons únicos de McElroy.
É notável para mim que o Santo Padre esteja tão bem informado que ele foi capaz de fazer essa escolha. Com essa nomeação, o papa apontou o caminho para a Igreja dos EUA seguir, e o futuro parece mais brilhante hoje do que há muito, muito tempo.
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A elevação de McElroy ao cardinalato tem enorme significado para a Igreja dos EUA - Instituto Humanitas Unisinos - IHU