07 Mai 2024
O desastre ambiental que deixou mais de 200 mortos e desaparecidos no Sul do Brasil poderia ter sido evitado, ou pelo menos mitigado. Essa foi uma das propostas formuladas nesta segunda-feira pelo governo brasileiro ao fazer um balanço dos estragos causados pelas tempestades no estado do Rio Grande do Sul.
A reportagem é de Darío Pignotti, publicada por Página12, 07-05-2024.
A devastação da Amazônia, localizada no norte do Brasil e onde estão as maiores reservas de biodiversidade e água do planeta, muitas vezes causa “efeitos em uma região distante como está acontecendo agora no Rio Grande do Sul”, explicou o chefe da Casa Civil, Ministro Rui Costa.
Ao lado de Costa estavam a ministra do Meio Ambiente e Mudanças Climáticas, Marina Silva, e o chefe de Minas e Energia, Alexandre Silveira.
Quando uma região tão vasta como a floresta brasileira com seus 4,5 milhões de km2 - uma superfície semelhante à da Argentina, Colômbia e Venezuela juntas - é sistematicamente desmatada por agricultores, pecuaristas e mineradores, ocorrem desequilíbrios com consequências gigantescas que alteram o regime de chuvas em além de modificar a temperatura.
Até o momento, em 2024, além dos dilúvios inéditos ocorridos no Rio Grande do Sul, ocorreram cinco ondas de calor atípicas, em cidades como São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. O exemplo mais recente disso aconteceu no sábado, quando os termômetros marcaram 34 graus, bem acima da temperatura habitual, em Copacabana horas antes do show de Madonna.
A modificação intencional da geografia amazônica (com a utilização de suas terras para produzir soja ou alimentar o gado) é um dos fatores que, ao romper o equilíbrio ecológico, desencadeou o desastre ocorrido no Rio Grande do Sul, no outro extremo do o país.
Segundo relatórios divulgados na noite de segunda-feira, as fortes chuvas naquela província do sul causaram 85 mortos e 134 desaparecidos , enquanto 200 mil pessoas tiveram que abandonar as suas casas para ficarem em abrigos públicos ou serem acolhidas pelas suas famílias.
O Chefe da Casa Civil, Rui Costa, apresentou o ponto de vista do governo durante um evento, realizado no Palácio do Planalto, onde compareceu após se reunir com o Presidente Lula da Silva para finalizar os detalhes de um pacote de medidas emergenciais.
A prioridade do governo é ajudar os cidadãos cujas casas estão ameaçadas por deslizamentos de terra na região serrana, localizada no centro do Rio Grande do Sul, onde o temporal começou na semana passada.
Paralelamente, teve início o resgate de milhares de moradores da capital Porto Alegre, localizada no leste da província, quase ao nível do mar, cercada pelas águas do rio Guaíba.
Para dar seguimento ao auxílio enviado de Brasília, o governo montou um gabinete de crise em Porto Alegre, formado pelos ministros Paulo Pimenta (Comunicação Social), Nísia Trinidade (Saúde) e Waldez Goes (Integração Regional).
Uma vez resolvidos estes problemas prementes num segundo momento, “quando as águas baixarem”, o governo planeja restaurar os serviços de água e eletricidade de que cerca de 800 mil cidadãos estão atualmente privados, e as infra-estruturas afetadas pela força das tempestades serão reconstruídas.
Num terceiro momento, o governo vai aumentar as dotações para a construção de moradias populares no âmbito do programa Minha Casa, Minha Vida.
Lula viajou duas vezes para a província do Sul atingida por tempestades. A primeira visita ocorreu na quinta-feira ao pousar na cidade de Santa Maria, região central e neste domingo viajou para Porto Alegre, onde sobrevoou a cidade coberta de água.
“Sei que o estado está em situação financeira difícil e quero que saibam que o governo federal vai apoiá-los”, disse o líder do Partido dos Trabalhadores (PT), antes do governador Eduardo Leite, do conservador Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB).
O estado do Rio Grande do Sul fica no extremo sul do país, onde faz fronteira com a Argentina e o Uruguai, e assim como esses dois países, sua economia é baseada na agricultura, graças às suas extensas planícies, e a um parque fabril ligado em parte ao agronegócio.
Desde a década de 90, o estado e sua capital foram, além de alguns impasses, bastiões do PT. Mas essa hegemonia esquerdista foi diluída e nos últimos anos foi eclipsada pela ascensão de uma direita ligada aos grandes produtores agrícolas bastante sintonizada com o bolsonarismo.
Boa parte dos parlamentares gaúchos, gaúchos, integram a bancada do agronegócio no Congresso nacional conhecida por sabotar projetos governamentais de mitigação das mudanças climáticas.
Esses legisladores trabalham “dia e noite para destruir a legislação ambiental” e as políticas promovidas por Lula desde janeiro de 2023, denunciou Marcio Astrini, secretário executivo do Observatório do Clima.
Para estes parlamentares, as mudanças climáticas são uma invenção dos “globalistas”, entre os quais estão as ministras Marina Silva e Sonia Guajajara (Povos Indígenas).
Com a mesma intensidade, a “Bancada do Boi” , como é conhecida no jargão político, apoia o avanço da fronteira agrícola na Amazônia, incluindo a invasão das terras dos povos indígenas, garantindo o progresso econômico e a soberania. Teses que na década de 70 faziam parte do discurso da ditadura e atualmente têm Jair Bolsonaro como seu principal publicitário.
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Uma catástrofe que lembra a devastação da Amazônia - Instituto Humanitas Unisinos - IHU