“Por que não abrir para mulheres e padres casados?” Entrevista com Lucia Vantini

Foto: Anilakkus | Canva

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03 Mai 2024

Igrejas a serem repensadas, seminários em diálogo com o mundo, maior presença das mulheres nos lugares de decisão, escuta real das novas gerações. Tem ideias claras sobre a reforma da Igreja. Lucia Vantini, de Verona, professora de Teologia e Filosofia no Instituto de Ciências Religiosas de Verona, é presidente da Coordenação das Teólogas Italianas. No Sínodo em curso, em que ferve o debate sobre a transformação, que se concluirá em 2025 e do qual resultarão escolhas concretas de reformas eclesiais, Vantini é uma das especialistas da Comissão Nacional.

A entrevista é de Francesca Visentin, publicada por Corriere del Veneto, 27-04-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.

Eis a entrevista.

Professora Vantini, como avalia a crise das vocações e a falta de novos sacerdotes?

Por que não abrir a palavra ‘vocação’ a todas as vidas, sem atribuí-la apenas a quem decide consagrar-se a Deus? Seria uma boa premissa para pensar a comunidade eclesial de forma inclusiva, sem cair no viés hierárquico. Assim poderíamos imaginar novos cenários: comunidades lideradas em conjunto, nas diferenças, inclusive naquelas que mais assustam, como por exemplo a homossexualidade. Isso nos convida a imaginar novos cenários, comunidades inclusivas lideradas por pessoas diferentes dos presbíteros: leigos e leigas, religiosos, religiosas.

O celibato dos padres pode influir na redução dos sacerdotes?

A mesma redução se regista também nas outras igrejas cristãs, onde quem lidera uma comunidade pode se casar. Em todo caso, creio que a vocação sacerdotal e a vocação matrimonial sejam totalmente compatíveis: então por que não deixar que os padres também se casem, se assim o desejarem? Em geral, trata-se de repensar as formas da ministerialidade como um serviço que qualquer um pode desempenhar em seu nome do seu batismo.

O que pensa do diaconato feminino?

As diáconas já existiam desde o século III e as suas ordenações desde o século IV. Certamente não há impedimentos nem teológicos nem tradicionais para a restauração. O que acontece na história é uma remoção contínua das mulheres, que deveriam ser mais valorizadas tanto na Igreja quanto no mundo. Para as mulheres, porém, ser valorizadas significa algo muito amplo e profundo: ser reconhecidas como sujeitos que pensam, falam, escrevem, decidem, imaginam, profetizam, agem, orientam... Se eu tirar um padre e colocar uma mulher não resolvi nada, não se sai do mesmo modelo a pirâmide de antes, com apenas uma pessoa no comando, é preciso fazer com que todo o povo de Deus se sinta e seja parte ativa da Igreja.

As freiras italianas quase não existem mais...

Acredito que há vários fatores em jogo, entre esses conta a imagem do feminino que é proposta nas nossas igrejas, inadmissível para muitas de nós que conhecemos a liberdade dos feminismos.

A Igreja é sexista?

O problema é que na Igreja as mulheres, por um lado, são exaltadas e idealizadas e, pelo outro, são mortificadas, quando não até demonizadas. Tentei explicar isso também ao Papa: existimos ou como figuras inspiradoras que não têm poder e não decidem nada, ou como um problema.

Por que não se consegue envolver os jovens na missa?

A liturgia tem um ritmo lento e para os jovens significa tédio. Tornou-se incompreensível nos gestos e nas palavras, muitas vezes os jovens se queixam da sensação de distância daquilo que vivem. Se o evangelho é uma boa notícia, é preciso que essas gerações possam reconhecê-lo na sua cotidianidade, naquilo que vivem. Certamente não será através de alguns retoques estéticos na comunicação que conseguiremos recuperar o diálogo e os vínculos com eles, mas com uma real atenção ao presente.

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