05 Março 2024
O sociólogo Luca Diotallevi analisa dados do Istat de 1993 a 2019 que refutam a ideia de uma “excepcionalidade italiana”: cada vez mais mulheres deixam de participar.
A reportagem é de Iacopo Scaramuzzi, publicada por La Reppublica, 04-03-2024.
A missa na Itália “desbotou”, se não acabou. A participação no ritual dominical passou de 37,3% da população adulta em 1993 para 23,7% em 2019 com um “declínio” que promete ampliar-se com o avanço das novas gerações, desmente uma alegada “excepcionalidade italiana” e, sobretudo, agora tende a envolver tanto as mulheres como os homens. O sociólogo Luca Diotallevi tirou a impiedosa fotografia do estado de secularização no nosso país num livro recentemente publicado por Rubettino sobre “a participação em ritos religiosos em Itália de 1993 a 2019” e intitulado, precisamente, “A missa desapareceu”.
Diotallevi, sociólogo que sempre esteve atento à dinâmica do catolicismo italiano, recolhe e analisa os dados publicados ao longo do tempo pelo Istat, parando, no entanto, no limiar de um ano crucial, 2020, que, devido à pandemia, marcou um passo no declínio da participação dos católicos na vida da Igreja: um passo amplamente percebido, mesmo pelos líderes da Conferência Episcopal Italiana, mas ainda não inegavelmente registado pelas estatísticas oficiais.
A missa “deixou de ser um assunto de mulheres e é cada vez mais um assunto de idosos, até que a geração nascida antes de 1955 saiu de cena”, escreve Diotallevi, professor da Universidade Roma Tre, neste livro do qual emerge entre os mais relevantes é o tema da questão das mulheres. No final do período analisado, 2019, “mais de um praticante “regular” em cada quatro é uma mulher idosa. Os dados disponíveis sugerem que daqui a 20/25 anos isto não será mais o caso. Então estes idosos terão saído de cena enquanto as suas filhas e netas na grande maioria já deixaram de seguir os modelos de comportamento religioso das suas mães e avós”, escreve o sociólogo.
Se a participação na missa diminui em toda a população, aumenta com a diminuição da idade, e entre as novas gerações se inverte cada vez menos com o avançar da idade, um dos dados mais relevantes que já emerge hoje, aliás, é a “progressão e acentuada assimilação do perfil feminino (...) ao masculino, incluindo a antecipação do ponto de inflexão (ou seja, o ponto de mudança de uma tendência, ed.) e o abrandamento e depois o cancelamento da recuperação. A especificidade feminina (...) está se perdendo (também) na Itália (também) neste campo e já está reduzida ao mínimo entre meninas, adolescentes e mulheres jovens”. Evidências que levam o sociólogo a afirmar que as mulheres estão a “desertar” a missa “a um ritmo mais rápido que os homens”.
Olhando para o conjunto da população italiana, “a proporção de indivíduos com 18 anos ou mais que declaram ter frequentado a missa pelo menos uma vez por semana” aumentou de 37,3% em 1993 para 23,7% em 2019. Em particular, “2017 é o ano em que o número dos que declaram participar 'nunca' atinge e supera o dos que declaram praticar 'pelo menos uma vez por semana'”. Além da assimilação dos perfis feminino e masculino, o declínio apresenta outras características específicas. O declínio acelera em velocidade a partir de 2005. Além disso, o número de praticantes ocasionais é reduzido: “Aqueles que abandonam a prática regular chegam rapidamente à condição de 'não praticante' depois de terem passado mais ou menos rapidamente pela fase intermediária do praticar ocasionalmente".
O fenômeno, aliás, deve ser contextualizado: na sociedade, “muitos processos de participação política diminuem mais do que acontece” nas missas e outros ritos religiosos, por um lado.
Por outro lado, se outros indicadores – por exemplo, os batismos, ou as assinaturas de oito por mil à Igreja Católica na declaração de rendimentos – apresentam descidas menos vertiginosas, ainda assim “os fenômenos de identificação, mesmo que com um pouco de atraso ( ...) fenômenos de participação, apresentam uma tendência claramente decrescente". Um declínio que não foi detido, nota Diotallevi, sociólogo amplamente ouvido pela CEI desde a época do cardeal Camillo Ruini, nem pela estratégia de "centralização" promovida pela "dupla Wojtyla-Ruini", nem pela espaço conquistado por “movimentos, prelazias pessoais, comunidades de vários tipos”, em detrimento de paróquias e dioceses, nem o pontificado, embora inovador, em certos aspectos, de Francisco, parece ter dado, deste ponto de vista, “ choques significativos", "inversões ou mesmo simplesmente atenuações do declínio".
Uma tendência já consolidada, que sugere, para o futuro, “um público muito menor de praticantes regulares e muito menos caracterizado por características individuais de género e idade”. Mais concretamente, "poderá acontecer (...) que dentro de algumas décadas ou talvez apenas dentro de alguns anos a participação (...) na média nacional seja reduzida para um valor próximo dos 10%, o que em muitas áreas do país corresponderia a um valor (real) em um dígito”.