Onde a frequência à missa é maior ou menor? Nigéria, 94%; Brasil, 8%

(Foto: Alexander Nachev | Unsplash)

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23 Fevereiro 2023

Qual país tem a maior frequência à missa católica? Não podemos dizer com certeza, porque não foram realizadas pesquisas sobre o tema em todos os países do mundo. Mas a World Values Survey (WVS) está em sua sétima “onda” (começando nos anos 1980) e tem dados de 36 países com grandes populações católicas.

A análise foi publicada por Nineteen Sixty-four, blog de pesquisa do Centro de Pesquisa Aplicada ao Apostolado (CARA, na sigla em inglês), da Georgetown University, nos Estados Unidos, 23-01-2023. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Entre tais países, a frequência à missa semanal ou mais frequente é maior entre os adultos autoidentificados como católicos na Nigéria (94%), Quênia (73%) e Líbano (69%). O próximo segmento de países onde metade ou mais dos católicos frequentam a missa todas as semanas inclui Filipinas (56%), Colômbia (54%), Polônia (52%) e Equador (50%). Menos da metade, mas um terço ou mais frequenta a missa todas as semanas na Bósnia e Herzegovina (48%), México (47%), Nicarágua (45%), Bolívia (42%), Eslováquia (40%), Itália (34%) e Peru (33%).

(Gráfico: World Values Survey/WVS)

Entre três em cada dez e um quarto dos católicos frequenta a missa todas as semanas na Venezuela (30%), Albânia (29%), Espanha (27%), Croácia (27%), Nova Zelândia (25%) e Reino Unido (25%).

Na pesquisa da CARA, cerca de 24% dos católicos nos Estados Unidos iam à missa todas as semanas ou com mais frequência antes da pandemia da Covid-19 em 2019. Em nossa pesquisa mais recente no fim do verão de 2022, 17% dos católicos adultos relataram ir à missa com frequência: 5% deles assistindo à missa online ou na televisão em casa.

Outros países com uma frequência à missa católica semelhante à dos Estados Unidos são Hungria (24%), Eslovênia (24%), Uruguai (23%), Austrália (21%), Argentina (21%), Portugal (20%), República Tcheca (20%) e Áustria (17%).

Os níveis mais baixos de frequência semanal são observados na Lituânia (16%), Alemanha (14%), Canadá (14%), Letônia (11%), Suíça (11%), Brasil (8%), França (8%) e Holanda (7%).

Pode-se supor que quanto mais católicos estiverem em um país, maior a probabilidade de irem à missa com frequência. No entanto, não há uma forte correlação entre as pessoas que se identificam como católicas e a frequência à missa (um R2 de 0,097).

O WVS perguntou aos entrevistados: “Independentemente de você ir à igreja ou não, você diria que é: uma pessoa religiosa, não religiosa, ateu ou não sabe”. O gráfico de dispersão abaixo mostra a relação entre a porcentagem de entrevistados católicos em um país que se identificam como “pessoas religiosas” e a porcentagem que indica que vão à missa uma vez por semana ou mais.

(Gráfico: World Values Survey/WVS)

Existem países onde há uma estreita relação entre as respostas a ambas as perguntas, incluindo Holanda, Argentina, Equador, Filipinas, Quênia e Nigéria. Mas, para muitos outros países, sua colocação está longe da linha de regressão.

O Líbano, por exemplo, tem uma frequência à missa muito alta, comparativamente falando, mas a parcela de católicos que se consideram pessoas religiosas é substancialmente menor em comparação com outros países.

Noventa e sete por cento dos católicos no Uruguai se consideram pessoas religiosas, mas apenas 23% dos católicos lá vão à missa semanalmente ou com mais frequência.

(Gráfico: World Values Survey/WVS)

Além do Uruguai, os países onde os católicos têm maior probabilidade de se considerarem pessoas religiosas são Nigéria (95%), Albânia (94%), Eslováquia (93%), República Tcheca (92%), Itália (92%), Lituânia (92%), Quênia (92%), Colômbia (92%), Bolívia (91%) e Polônia (90%).

Mais de três quartos, mas menos de nove em cada dez católicos nos seguintes países se consideram religiosos: Croácia (88%), Bósnia e Herzegovina (88%), Eslovênia (87%), Hungria (86%), Portugal (85%), Letônia (85%), Peru (84%), Filipinas (83%), Equador (82%), Brasil (82%), Argentina (79%), Holanda (78%), México (77%) e Nicarágua (76%).

Os católicos nos Estados Unidos estão logo abaixo desse grupo: 74% se consideram uma “pessoa religiosa”. Os Estados Unidos são seguidos pela França (72%), Áustria (69%), Austrália (67%), Espanha (67%), Alemanha (65%), Suíça (63%), Líbano (62%), Reino Unido (59%), Venezuela (57%), Canadá (55%) e Nova Zelândia (55%).

Em termos de identificação como uma “pessoa religiosa”, os católicos nos Estados Unidos e na França são bastante semelhantes (74% e 72%, respectivamente). No entanto, apenas 8% dos católicos na França vão à missa semanalmente, em comparação com 17% dos católicos nos Estados Unidos (e 24% frequentavam semanalmente antes da pandemia).

Embora pareça haver uma desconexão entre o fato de se identificar como uma “pessoa religiosa” e frequentar a missa semanalmente, há um terceiro fator que pode explicar a distribuição comparativa de ambos os atributos. Se você observar atentamente os países, você pode notar algum agrupamento econômico.

O PIB é o valor total de todos os bens e serviços produzidos em um país em um ano. Quando você divide isso pela população, você obtém o PIB per capita, que é a medida padrão da riqueza comparativa média por pessoa entre os países (dados: Indicadores de Desenvolvimento Mundial, Banco Mundial).

(Gráfico: World Values Survey/WVS)

O encaixe entre o PIB per capita e a frequência de comparecimento à missa é mais forte do que entre a religiosidade e a frequência à missa (R2 de 0,575 em comparação com 0,097), embora em uma relação curvilínea. O comparecimento à missa cai acentuadamente à medida que o PIB per capita sobe para 10.000 dólares, e depois essa queda diminui e se nivela à medida que o PIB per capita continua aumentando.

Este gráfico de dispersão tem alguns pontos fora da curva. O Brasil, por exemplo, está bem longe da linha de regressão com uma frequência à missa abaixo do esperado, e a Itália tem quase o oposto com uma frequência maior do que seria esperado usando o PIB per capita como preditor.

(Gráfico: World Values Survey/WVS)

A religiosidade tem uma relação mais linear, embora mais fraca, com o PIB per capita (R2 de 0,399). Há um grande grupo de países com PIB per capita inferior a 25.000 dólares que têm uma das maiores parcelas de católicos que se autoidentificam como pessoas religiosas.

Nos países de renda mais alta, a religiosidade cai. Há um grupo de países na Europa ocidental, América do Norte e Oceania com níveis mais baixos de autoidentificação religiosa. A Suíça, com o maior PIB per capita dos países pesquisados, tem baixos níveis de frequência à missa semanal e um número relativamente menor de católicos que se identificam como pessoas religiosas. Nesse gráfico de dispersão, o Líbano é o ponto fora da curva mais significativo, com níveis de autoidentificação religiosa abaixo do esperado.

Nessa pequena amostra de países, podemos supor que o catolicismo é mais forte naquele que costuma ser chamado de mundo em desenvolvimento, onde o PIB per capita é menor, enquanto parece estar se contraindo nos países “desenvolvidos” mais ricos.

Os mecanismos precisos associados ao desenvolvimento econômico e à riqueza que estão impactando a participação dos católicos na fé e a identificação como pessoas religiosas não são claros. Quaisquer que sejam, eles são significativamente importantes.

Nota

Na pesquisa de survey, as frequências autorrelatadas de comparecimento à missa podem ser infladas pelo viés de atratividade social. No entanto, esse viés pode ser relativamente semelhante entre as populações. Assim, as diferenças entre os países na frequência à missa são provavelmente precisas, embora os níveis reais de comparecimento à missa possam ser menores do que os relatados.

A Nigéria tem a maior parcela de participantes semanais, com 94%. De acordo com o Annuarium Statisticum Ecclesiae 2020, a Nigéria era o lar de 32.576.000 católicos e de 4.406 paróquias. Com a frequência de comparecimento relatada, haveria 6.920 frequentadores semanais por paróquia. Isso exigiria inúmeras missas a cada fim de semana.

Já no Quênia, há 16.467.000 católicos em 6.353 paróquias. Levando em conta as frequências relatadas de comparecimento à missa, isso resultaria em 1.900 participantes semanais por paróquia, o que não seria irrazoável.

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