Bênçãos para os homossexuais, a África contra o Papa

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16 Janeiro 2024

"Perfila-se, portanto, entre a África e o papado um tremendo contraste, cultural e teológico, hoje insolúvel, e que já paira sobre outra Igreja: os primazes anglicanos do QuêniaUgandaTanzânia e Nigéria colocaram-se praticamente em estado de cisma com a Igreja-mãe de Canterbury, precisamente porque rejeitam as uniões homossexuais por ela toleradas na Inglaterra", escreve Luigi Sandri, jornalista italiano, em artigo publicado por L'Adige, 15-01-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.

Eis o artigo. 

A "Semana de Oração pela Unidade dos Cristãos" (18-25 de janeiro, na Europa. No Brasil, realiza-se na semana que precede o Pentecostes. Neste ano, inicia no dia12 de maio) este ano cai num momento em que o juízo a ser dado sobre alguns problemas éticos vê não apenas as Igrejas divididas umas das outras, mas também, irreparavelmente, dentro de si mesmas.

Foi um padre francês, Paul Couturier, que lançou a iniciativa para reconciliar católicos, ortodoxos, anglicanos, reformados e luteranos. Foi particularmente encorajada pelo Concílio Vaticano II (1962-65). Mas, aos poucos, percebeu-se - e hoje é uma evidência indiscutível - que não são tanto questões teológicas sutis, mas avaliações bastante inconciliáveis sobre comportamentos pessoais, que dilaceram quase todas as Igrejas.

Por exemplo, na casa Católica, foram bastante divergentes entre si as reações de bispos e das Conferências episcopais do mundo à “Fiducia supplicans”, Declaração do Dicastério do Vaticano para a doutrina da fé “sobre o sentido pastoral das bênçãos”, publicada há um mês.

Reiterando que, segundo a doutrina católica, o casamento só pode ocorrer entre um homem e uma mulher que queiram permanecer unidos ao longo de toda a vida, o texto afirmava como possível, no entanto, aquilo o que o próprio organismo da Cúria romana havia negado, em 2021, ou seja: mesmo sem aprovar seu comportamento, é possível, de forma discreta, abençoar casais homossexuais ou "irregulares". Uma decisão sábia, afirmaram o Arcebispo de Chicago, Blase Cupich; o D. George Bätzing; presidente da Conferência Episcopal Alemã; o Conselho Permanente da Conferência Episcopal Francesa.

Como eles, também se manifestaram os bispos de Cabo Verde e da África do Sul.

Estes últimos são uma exceção, na África, onde a quase totalidade dos bispos proibiu os seus sacerdotes de abençoar casais homossexuais. A esse respeito, basta a sentença do Arcebispo de Nairobi, Philip Anyolo: “A todo o clero da arquidiocese é proibido abençoar relações irregulares, uniões ou casais homossexuais. Qualquer forma de bênção a elas iria contra a palavra de Deus, o ensinamento da Igreja, as tradições culturais africanas, as leis das nossas nações e seria escandalosa para os fiéis”.

Contudo a resposta mais devastadora veio do cardeal congolês Fridolin Ambongo Besungu presidente da Secam, o Simpósio das Conferências Episcopais da África e do Madagascar: numa carta pública, quinta-feira passada confirmou a plena comunhão dos bispos do Continente com Francisco, mas também elogiou aqueles pastores que, para respeitar os povos africanos, contrários às uniões homossexuais, proíbem os seus padres de abençoá-las.

Perfila-se, portanto, entre a África e o papado um tremendo contraste, cultural e teológico, hoje insolúvel, e que já paira sobre outra Igreja, a Anglicana: os primazes anglicanos do Quênia, Uganda, Tanzânia e Nigéria colocaram-se praticamente em estado de cisma com a Igreja-mãe de Canterbury, precisamente porque rejeitam as uniões homossexuais por ela toleradas na Inglaterra.

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