11 Janeiro 2024
"Qual é então a verdadeira face da Igreja daquela terra diante da violência e da prepotência da camorra? Aquela do pároco que abençoa ou aquela do outro pároco que condena?", escreve Fabrizio D'Esposito, professor italiano, em artigo publicado por Il Fatto Quotidiano, 08-01-2024. A tradução é de Luisa Rabolini.
2024 apenas começou, mas na Igreja a batalha anti-bergogliana dos clericais de direita continua sem pausas. A última trincheira é aquela das bênçãos para as uniões homossexuais, depois reduzida pelo prefeito do Dicastério para a Doutrina da Fé, o cardeal argentino Victor Manuel Fernández, conhecido como Tucho, de forma quase cômica: “As bênçãos devem durar pouco, dez no máximo quinze segundos".
Nesse interim, no sul de Itália, existe uma certa Igreja que abençoa algo completamente diferente, em linha com a nefasta tradição das homenagens de estátuas sagradas a chefões e mafiosos durante as procissões. Vincenzo Iurillo contou a história no site Il Fatto no dia 5 de janeiro. Em Sant'Agnello, pequena aldeia na costa de Sorrento, em 30 de dezembro o pároco abençoou uma frota de cinco caminhões de propriedade de um empreiteiro condenado a quatro anos e meio (já cumpridos) por crimes de camorra. O sacerdote se chama Francesco Saverio Iaccarino e esperou a “frota” no adro de sua igreja, dedicada aos santos Prisco e Agnello, ao final de um desfile com direito a ‘buzinaço’ dos caminhões.
Entrevistado pelo jornal local Positano News, o empreiteiro especificou que "somos muito católicos." O vídeo foi posteriormente removido.
Não só. O construtor está mais uma vez sob investigação por um caso ocorrido no final de março, sempre em Sant'Agnello (pouco mais de 8 mil habitantes), e denunciado no Parlamento por Federico Cafiero de Raho, o antigo procurador nacional antimáfia, hoje deputado do M5S. O caso: o criminoso teria agredido a socos e pontapés um ambientalista histórico da região, Claudio d'Esposito da WWF. No passado, o ecologista havia feito várias reclamações e denúncias sobre algumas especulações edilícias do seu agressor. Após a violenta emboscada houve também uma mobilização em toda a península de Sorrento.
E entre os promotores estava também um sacerdote, Dom Carmine Giudici, que proferiu publicamente palavras profundas e intensas: “A história de outro pobre Cristo da nossa terra, Cláudio solitário e teimoso defensor de uma beleza cada vez mais profanada e violada, também ela nos pede para tomar posição, para assumir uma postura, para tomarmos partido sem hesitação e sem aproveitar de uma forma instrumental a ressonância emotiva de um momento para depois afundar novamente num anonimato que permanece indiferente, se não cúmplice, de certas devastações violentas e selvagens". Mas ....
Mas, porém, nove meses depois, um de seus coirmãos da vizinha Sant'Agnello tornou-se cúmplice no espetáculo citadino do agressor do "pobre Cristo". Qual é então a verdadeira face da Igreja daquela terra diante da violência e da prepotência da camorra? Aquela do pároco que abençoa ou aquela do outro pároco que condena?
Quem deveria dizer alguma coisa é o bispo local Francesco Alfano, prelado por demais prudente e moderado e que até mesmo aboliu de fato na península de Sorrento a antiquíssima tradição da eleição direta do pároco. Porque nessa história até a traição à vontade popular tem um peso: o padre que abençoou os caminhões é de fato o primeiro pároco, depois de séculos, não eleito de Sant'Agnello.
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Casais homossexuais são fichinha: o pároco abençoa a frota de caminhões do construtor condenado - Instituto Humanitas Unisinos - IHU