15 Janeiro 2024
Francisco entrevistado por Fabio Fazio no programa Che tempo che fa, do canal de televisão italiano Nove, fala do recente documento Fiducia Supplicans: "as pessoas devem entrar em diálogo com a bênção e ver o caminho que o Senhor propõe". Sobre a guerra atual: "tenho medo da escalada bélica". Retorna ao tema da renúncia: "no momento, não está no centro de meus pensamentos". E anuncia uma viagem à Polinésia em agosto e à Argentina até o fim do ano.
A reportagem é de Salvatore Cernuzio, publicada por Vatican News, 14-01-2024.
Bênçãos para todos, também aos casais "irregulares", imitando Deus que é "bom" e não "castigador" e "abençoa todos, todos, todos"; o "medo" de uma escalada bélica e da capacidade de "autodestruição" da humanidade; a confirmação de que não tem intenção de renunciar e o anúncio de duas viagens: à Polinésia, em agosto, e à sua terra natal, a Argentina, no fim do ano. Esses são alguns dos temas tratados pelo Papa em sua entrevista ao jornalista Fabio Fazio para o programa italiano Che tempo che fa, transmitido na noite deste domingo, 14 de janeiro, no canal Nove. Em 2021, Francisco já havia concedido uma entrevista ao mesmo programa popular (na época transmitido pela RAI); neste domingo, uma nova entrevista com duração de menos de uma hora para refletir sobre assuntos relacionados à atualidade, aos desafios do mundo, à Igreja e ao pontificado.
O Papa respondeu a uma pergunta sobre o documento do Dicastério para a Doutrina da Fé, Fiducia Supplicans, que abre a possibilidade de abençoar casais em situações "irregulares" com relação à moral católica, incluindo casais do mesmo sexo. Um documento que registrou várias reações, até mesmo contrastantes. Francisco reconheceu que "às vezes as decisões não são aceitas", mas muitas vezes "é porque não se conhece"; depois reafirmou aquele princípio de "todos, todos, todos" já expresso durante a JMJ de Lisboa: "O Senhor abençoa todos, todos, todos que vêm. O Senhor abençoa todos aqueles que podem ser batizados, ou seja, cada pessoa. Mas depois as pessoas devem entrar em diálogo com a bênção do Senhor e ver qual é o caminho que o Senhor lhes propõe. Mas devemos pegá-las pela mão e ajudá-las a seguir esse caminho, não as condenar desde o início".
Esse é "o trabalho pastoral da Igreja" e é um trabalho "muito importante" para os confessores, a quem Francisco reitera o convite para "perdoar tudo" e tratar as pessoas "com muita bondade". Ele mesmo, revela, em 54 anos de sacerdócio, negou o perdão apenas uma vez por causa da hipocrisia da pessoa: "Eu sempre perdoei tudo, mas também digo com a consciência de que aquela pessoa talvez tenha uma recaída, mas o Senhor nos perdoa, ajudar a não recair, ou a recair menos, mas perdoar sempre".
O Senhor "não se escandaliza com nossos pecados, porque Ele é Pai e nos acompanha", observou o Papa Francisco, confidenciando que gosta de esperar que o inferno esteja vazio.
Mais uma vez, como nesses 100 dias de conflito no Oriente Médio e nesses quase dois anos de agressão à Ucrânia, o Papa estigmatiza o horror da guerra: "É verdade que é arriscado fazer a paz, mas é mais arriscado fazer a guerra. Por trás das guerras, há o comércio de armas. Um economista me disse que, neste momento, os investimentos que rendem mais juros, mais dinheiro, são as fábricas de armas. Investir para matar", acrescentou.
Assim, o Bispo de Roma confidencia um medo pessoal seu: "Essa escalada bélica me dá medo, porque, com esse levar avante passos bélicos no mundo, nos perguntamos como acabaremos. Com armas atômicas agora, que destroem tudo. Como acabaremos. Como a Arca de Noé? Isso me dá medo. A capacidade de autodestruição que a humanidade tem hoje".
Na entrevista, também foi dado espaço ao tema muito caro a ele, o dos migrantes, com a lembrança de seu abraço a Pato, o jovem camaronês que perdeu a esposa e a filha de 6 anos no ano passado por causa da fome, do calor e da sede no deserto entre a Tunísia e a Líbia. Francisco o recebeu em novembro na Casa Santa Marta. "Há muita crueldade no tratamento desses migrantes desde o momento em que deixam suas casas até chegarem aqui na Europa", disse, lembrando a situação dramática de tantas pessoas nos lagers líbios e a tragédia de fevereiro de 2022 em Cutro, na costa da Calábria. "É verdade que todos têm o direito de permanecer em sua própria casa e de migrar", disse o Papa, mas "por favor, não fechem as portas". O que é necessário é uma política migratória "bem pensada" que ajude a "controlar o problema dos migrantes" e "remover todas essas máfias que exploram os migrantes".
Mudando o foco para a Igreja, o Pontífice fala de reformas. A primeira a ser implementada é "uma reforma dos corações", depois ele passa para as estruturas que "devem ser preservadas, mudadas, reformadas de acordo com a finalidade". Mas a primeira coisa a ser feita é "mudar o coração" e limpá-lo da maldade e da inveja, "um vício amarelo que arruína todos os relacionamentos".
Por fim, há uma pergunta sobre sua possível renúncia ao pontificado: "não é um pensamento, nem uma preocupação, nem mesmo um desejo. É uma possibilidade, aberta a todos os Papas, mas, no momento, não está no centro de meus pensamentos e das minhas inquietações, de meus sentimentos". Confirmando essas palavras, Francisco anunciou as duas viagens antecipadas como hipóteses em entrevistas anteriores: Polinésia e Argentina. À Argentina, onde foi oficialmente convidado com uma carta do novo presidente Javier Milei, o Pontífice poderia viajar no fim do ano: "as pessoas estão sofrendo muito lá. É um momento difícil para o país. A possibilidade de uma viagem no segundo semestre do ano está sendo planejada, porque agora há uma mudança de governo, há coisas novas... Em agosto devo fazer a viagem à Polinésia, que é bem longe, e depois faríamos a viagem à Argentina, se for possível. Eu quero ir lá. Dez anos está bem, muito bem, posso ir".
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O Papa mais uma vez confirma Fiducia Supplicans: “O Senhor abençoa a todos, a todos, a todos os que vêm” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU