19 Dezembro 2023
"O verdadeiro desafio reside precisamente em superar a natureza altamente competitiva entre os atores internacionais que já no passado, com o fim da Guerra Fria, havia sido a principal causa do desalinhamento dos poderes, assim como haviam depois se delineado na última década com a primazia ocidental e a hierarquia emergente, aquela dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), que tende a expandir sua área de influência", escreve Giulio Albanese, missionário comboniano fundador da Agência Misna, em artigo publicado por Avvenire, 15-12-2023. A tradução é de Luisa Rabolini.
O aniversário do nascimento da Organização da Unidade Africana (OUA), fundada em 25 de maio 1963 em Adis Abeba e que se tornou a União Africana (UA) em 2002, representa a oportunidade privilegiada para refletir sobre a importância da nossa parceria com um continente, que por dimensões é três vezes maior que a Europa, valorizando a sua variedade, riqueza histórica, artística, cultural e política. Os riscos são elevados quando se considera o posicionamento de África no novo contexto geopolítico e geoeconômico internacional. Nesse sentido, há um novo conceito se firmando, o do chamado Sul Global, que tem o mérito de levar em consideração que muitos países de África, mas também da Ásia e da América Latina veem-se obrigados a escolher, após a crise russo-ucraniana, entre as economias avançadas ocidentais e seus antagonistas, na esperança de ganhar espaço de iniciativa e influência regional. De fato, uma das grandes preocupações que assolam os principais tomadores de decisão política africanos é evitar, na medida do possível, acabar enredados em disputas entre os principais atores internacionais.
O verdadeiro problema a ser enfrentado internacionalmente diz respeito certamente à redistribuição do poder que implica a procura, em nível político, daqueles mecanismos que possam determinar uma modificação do tecido multilateral em relação aos equilíbrios emergentes. O verdadeiro desafio reside precisamente em superar a natureza altamente competitiva entre os atores internacionais que já no passado, com o fim da Guerra Fria, havia sido a principal causa do desalinhamento dos poderes, assim como haviam depois se delineado na última década com a primazia ocidental e a hierarquia emergente, aquela dos Brics (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul), que tende a expandir sua área de influência.
Mas é precisamente nesse aspecto altamente dialético que se desdobra o jogo do futuro, evitando se submeter à radicalização do confronto. Por outro lado, as fricções Leste-Oeste agravaram, com declinações distintas, mesmo na África, a polarização e as perturbações, levando à inflação, ao aumento das taxas de juro, ao risco de recessão e ao aumento crescente de exclusão social.
O fato é que persistem as políticas predatórias por parte de potentados estrangeiros de vários tipos. Além das antigas potências coloniais, hoje exercem uma ação invasiva os interesses chineses, russos, estadunidenses, turcos, dos países do Golfo. Além disso, pesam as fragilidades dos sistemas de governo locais, bem como a natureza limitada dos instrumentos financeiros. A esse respeito, os analistas consideram que o desenvolvimento do continente africano deve passar pelo aporte do crédito internacional, bem como de uma ampla política de reestruturação das dívidas soberanas de países inteiros.
Trata-se de temas importantes que não podem ignorar a chamada economia paralela. Todo ano, quase 90 mil milhões de dólares, equivalentes a pouco menos de 4% do PIB africano, são desviados sob a forma de fluxos financeiros ilícitos (IFF), ou seja, movimentos ilegais de dinheiro e bens através de fronteiras que resultam, no resultado efetivo, ilegais na origem, na transferência ou no uso do dinheiro. Se somarmos a tudo isso os efeitos devastadores do aquecimento global, o continente corre o risco da marginalização.
O único verdadeiro antídoto é representado pela sua capacidade de criar uma efetiva sinergia entre os países da UA que, justamente este ano, comemora 60 anos desde a fundação da sua antecessora, a OUA. A esse respeito, é útil recordar que durante a conferência inaugural em 1963, em Adis Abeba, o presidente do Gana, Kwame Nkrumah, declarou que “nenhum estado africano independente tem hoje a possibilidade de seguir sozinho um curso independente de desenvolvimento econômico”. Palavras que ainda hoje são atuais e verdadeiras, que exigem por parte das classes dirigentes africanas uma decisiva tomada de responsabilidade. Tudo isso num continente onde a idade média é de 20 anos e os jovens clamam pelo almejado resgate.
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A África dos jovens espera agora um “Sul Global” mais justo. Artigo de Giulio Albanese - Instituto Humanitas Unisinos - IHU