18 Novembro 2023
O mais recente episódio grave que demonstra, sem sombra de dúvida, a profundidade da divisão dentro da influente conferência episcopal americana refere-se à expulsão de um bispo do Texas, bastante respeitado pelos conservadores por sua coerência e transparência. Contudo, ele era considerado uma espécie de demônio no Vaticano por ter ousado desafiar abertamente a linha doutrinária aberta defendida nos últimos anos e discussões pela ala progressista da Igreja, inclusive durante o último supersínodo na Sala Paulo VI. A benevolência para com casais gays, o reconhecimento para transgêneros, a prática de barriga de aluguel, a revisão do Catecismo sobre gays, a democratização interna, o diaconato feminino e as concessões sobre o tema do aborto foram temas polêmicos.
A reportagem é de Franca Giansoldati, publicada por Il Messaggero, 16-11-2023.
O Vaticano não forneceu nenhuma explicação oficial para o afastamento do bispo. No entanto, sabe-se que o Papa Francisco, após alertá-lo sobre a necessidade de se alinhar ao novo curso, perdeu a paciência, impôs-lhe um ultimato e o destituiu, levantando muitas perplexidades entre os teólogos devido à forma como isso foi feito. Um bispo, segundo o cardeal Gerhard Müller, por sua natureza sacramental, não poderia ser afastado por questões desse tipo. Tecnicamente, ele não é considerado herege. "Expressar opiniões em defesa da doutrina tradicional, conforme a Igreja sempre entendeu, não significa ser criminoso".
Na prática, a divisão dentro da Igreja nos EUA entre progressistas, leais à linha reformista do Papa Francisco, e conservadores, que relutam em conceder concessões ao magistério tradicional, especialmente em questões relacionadas à defesa da vida e questões antropológicas, tem se ampliado e persiste por muito tempo. Entre os episódios mais destacados, com repercussões ainda presentes, está o conflito sobre a comunhão concedida a políticos católicos defensores do aborto, começando pelo presidente, Joe Biden, que inclui o direito ao aborto em seu programa. Nos últimos anos, o núncio apostólico em Washington, Christophe Pierre, promovido a cardeal no último consistório, tem tentado reconciliar as duas facções da Igreja americana.
Naquela ocasião, em entrevistas a jornalistas durante visitas de cortesia ao Palácio Apostólico, ele minimizou os problemas enfrentados pela Igreja no país. No entanto, em 14 de novembro o núncio teve que exortar os bispos a sair de sua "zona de conforto" e começar a assimilar as discussões que surgiram no Sínodo, constituindo o caminho a ser seguido. No discurso de abertura da assembleia anual, o cardeal Pierre destacou que a visão de Francisco continua a ser "essencial para a evangelização" no futuro. Em resumo, a palavra de ordem é coesão, um apelo para se alinhar, o que certamente não contribui para a liberdade e o debate público. Em uma entrevista recente à revista America, o Pierre afirmou: "Há alguns padres, religiosos e bispos nos Estados Unidos que são terrivelmente contra Francisco, como se ele fosse o bode expiatório de todos os fracassos da Igreja ou da sociedade".
Outro ponto que causou desconforto e alimentou a oposição nos últimos anos foi a proibição rigorosa do Papa de permitir a celebração da missa em latim, de acordo com a antiga liturgia, como havia sido estabelecido anteriormente por Bento XVI. Outro passo doloroso, uma divisão inexplicável, que contribuiu para cavar trincheiras. "A sinodalidade não significa mudar a doutrina, mas o método", acrescentou Pierre. No entanto, as percepções divergentes dentro da Igreja americana permanecem, e há também a tentação de ideologizar as questões e esquecer o que a Igreja deveria ser na sociedade. "Este é o motivo pelo qual o Santo Padre está convidando a Igreja a encontrar um novo modo de ser Igreja. Mas a Igreja americana não é apenas a de um grupo de conservadores". Os quais "são muito, muito barulhentos, são uma rede de blogs e falam todos juntos, mas na realidade representam apenas um pequeno grupo".
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A ação de Francisco de destituir o bispo americano apenas por ser conservador intensifica o conflito dentro da Igreja nos EUA - Instituto Humanitas Unisinos - IHU