28 Junho 2023
A reportagem é de José Lorenzo, publicada por Religión Digital, 27-06-2023.
O caminho de purificação da Igreja na França, depois do devastador relatório Sauvé, que há dois anos estimou mais de 330.000 vítimas de abusos desde 1950, continua a ser lamentável. Apesar dos seus pedidos de perdão e da implementação de iniciativas para acabar com este flagelo, o gotejar incessante de escândalos põe em causa os passos dados e, o que é pior, aprofunda a desconfiança do clero e dos párocos que continuam a ser uma pedra de escândalo.
A última delas foi revelada em uma investigação pelos prestigiosos meios de comunicação católicos La Croix, La Vie e Famille Chretienne, e teve como protagonista dom Georges Colomb, bispo de La Rochelle-Saintes e ex-superior das Missões Estrangeiras de Paris (MEP), acusado de agressão sexual a um jovem adulto, fatos que teriam ocorrido entre 2010 e 2016 quando dirigia aquela sociedade de vida apostólica que, desde o século XVII, evangeliza não cristãos na Ásia e no Oceano Índico, conforme publicado pela Slate.
Cardeal Ricard abusou de uma jovem de 14 anos.
O caso de Colomb se junta aos do outrora respeitado cardeal Ricard, arcebispo emérito de Bordeaux; dom Michel Santier, ex-bispo de Créteil; o arcebispo de Paris, dom Michel Aupetit; o arcebispo de Estrasburgo, dom Luc Ravel, que teve que renunciar após uma visita apostólica feita em junho de 2022; dom Dominique Rey, bispo de Fréjus-Toulon, que desde o ano passado está proibido de ordenar sacerdotes por falta de discernimento diante do florescimento de grupos ultraconservadores em sua sede...
Se um conturbado dom Éric de Moulins-Beaufort, arcebispo de Reims e presidente da CEF, já revelou no outono passado, durante a sessão plenária, que onze bispos foram "implicados perante a justiça civil ou o tribunal eclesial", agora, de acordo com a mídia mencionada, dom Pascal Wintzer, arcebispo de Poitiers, destacou que “atualmente, cerca de 10% dos bispos franceses foram afastados de seus cargos por diversos motivos. É enorme! Nunca tínhamos visto isso antes. Isso mostra que há um problema".
E alguns atribuem parte desse problema à desastrosa eleição dos bispos, algo que, como se sabe, é assinado pelo Papa, mas cujo processo na busca de candidatos diz respeito diretamente ao núncio e à Congregação para os Bispos.
Nesse sentido, destaca-se que “há alguns anos, parece que essas investigações conduzidas pelo núncio papal foram especialmente mal conduzidas” pelo ex-núncio, Luigi Ventura, condenado por agressão sexual em 2020.
Dom Luigi Ventura é investigado por agressões sexuais.
Segundo informações conjuntas de La Croix, La Vie e Famille Chretienne, alertas foram dados sobre o perfil de alguns candidatos que foram finalmente ordenados bispos, entre outros Marc Ouellet, Luigi Ventura e André Vingt-Trois.
“A qualidade do pessoal da Igreja diminuiu com as vocações. Alguns bispos atuais nunca teriam sido nomeados há vinte ou trinta anos”, diz Slate, que também aponta que a Conferência Episcopal Francesa “poderia trazer ao próximo sínodo romano o pedido de uma profunda reforma do processo de nomeação episcopal”.
A esta situação preocupante deve-se acrescentar a "queda maciça" do número de ordenações sacerdotais na França, que caiu acentuadamente. Assim, se em 2022 houve 122 ordenações, este ano serão apenas 88, segundo o site Katholisch, que acrescenta que o número de novos sacerdotes não pode em nada compensar o número dos que já faleceram.
“Em um quarto de século, o número de padres diocesanos e religiosos na França caiu pela metade, de 29.000 em 1995 para menos de 14.000 em 2021. Isso corresponde a uma diminuição de cerca de 600 por ano. Entre os que ainda praticam, mais da metade tem mais de 75 anos”, acrescenta o portal alemão.
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França: a Igreja está afundando em um mar de escândalos e com 10% dos bispos forçados a renunciar - Instituto Humanitas Unisinos - IHU