O Papa quebra o silêncio sobre o 'caso Rupnik': "Para mim foi uma grande surpresa e uma dor, porque essas coisas doem"

Papa Francisco com Marko Rupnik. (Foto: reprodução | Religión Digital)

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26 Janeiro 2023

 

  • Francisco admitiu que a Igreja “tem muito a aprender” na gestão da pedofilia clerical, reconhecendo que ele próprio teve um momento de “conversão” durante a sua viagem ao Chile em 2018, quando defendeu o bispo Barros desacreditando as vítimas;

  • "Aí a bomba explodiu em mim, quando vi a corrupção de muitos bispos nisso (...). Você testemunhou que eu mesmo tive que acordar para casos que estavam todos encobertos".

A reportagem é de Jesús Bastante, publicada por Religión Digital, 25-01-2023.

“Para mim foi uma surpresa, realmente. Isso, uma pessoa, um artista desse nível, para mim foi uma grande surpresa, e uma dor, porque essas coisas doem”. Acusado por várias ex-freiras de abusos na década de 1990 na Eslovênia, e cuja gestão pelos jesuítas e pelo Vaticano tem sido duramente questionada pela opinião pública.

Durante sua entrevista com a AP, Bergoglio negou ter qualquer papel no tratamento do caso de Rupnik, além de intervir processualmente para manter o segundo conjunto de acusações contra as nove mulheres perante o mesmo tribunal que ouviu o primeiro. A sua única decisão, esclareceu, foi que tudo continue “com a normalidade do tribunal, porque se não se dividem as vias processuais, tudo se confunde”.

"Ou seja, não tive nada a ver com isto", insistiu, referindo-se ao súbito levantamento da excomunhão contra Rupnik, apenas um mês depois de ter sido condenado pela Doutrina da Fé. Francisco assegurou que "sempre" renuncia à prescrição em casos que afetam menores e “adultos vulneráveis”, mas costuma insistir em manter as garantias legais tradicionais em casos que afetam outras pessoas.

Com menores, a manga bem fechada

"Quando há menores, a manga é bem fechada. Não é manga larga, não, não", explicou, admitindo ter ficado chocado com as acusações contra o jesuíta, e voltou a pedir transparência na gestão dos casos de abuso. "É o que eu quero, né? E com a transparência vem uma coisa muito legal que é a vergonha. Vergonha é graça", afirmou.

Junto com o caso Rupnik, Bergoglio também se referiu ao escândalo do ex-bispo Carlos Ximenes Belo, condenado por abuso em Timor-Leste, mas cuja condenação eclesiástica foi mantida em segredo por muito tempo. "Isso é uma coisa muito antiga, onde hoje não existia essa consciência", disse o Papa. "E quando o bispo de Timor-Leste saiu (em setembro), eu disse 'Sim, deixe-o ir ao ar, o que se vai fazer? Vai fazer, não vou disfarçar', mas foram decisões de 25 anos atrás, quando não havia conscientização”.

Chile, sua "conversão"

Em conversa com Nicole Winfield, Francisco admitiu que a Igreja “tem muito a aprender” na gestão da pedofilia clerical, reconhecendo que ele próprio teve um momento de “conversão” durante a sua viagem ao Chile em 2018, quando defendeu o Bispo Barros, desacreditando o vítimas.

"Eu não podia acreditar. Foi você quem me disse no avião: 'Não, não é assim, padre'. Foi você”, lembrou Francisco a jornalista. “Aí a bomba explodiu em mim, quando vi a corrupção de muitos bispos nisso (...). Você testemunhou que eu mesmo tive que acordar para casos que estavam todos encobertos”.

Nota do Instituto Humanitas Unisinos - IHU

A íntegra da entrevista do Papa Francisco pode ser lida, em espanhol, aqui.

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