28 Novembro 2022
Teólogo e filósofo, Gibellini foi diretor literário da Editora Queriniana e autor, entre outros, de estudos sobre Teilhard de Chardin, Moltmann e Pannenberg.
A reportagem é de Ilario Bertoletti, publicada por Avvenire, 25-11-2022. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Um véu de tristeza desceu sobre o mundo editorial, não só religioso: aos 96 anos de idade, faleceu na Bréscia, rodeado pelo afeto de seus amigos da Editora Queriniana, o padre Rosino Gibellini.
Piamartino, formado em Teologia no início dos anos 1960 na Gregoriana e depois em Filosofia na Universidade Católica, com Sofia Vannio Rovighi, o Pe. Rosino foi o protagonista de uma experiência única na história das editoras do século passado.
A partir da convulsão teológica promovida pelo Concílio Vaticano II, Gibellini, graças à sua extraordinária competência e curiosidade intelectual, foi diretor da Queriniana por mais de 60 anos, modelando seu catálogo: basta lembrar as coletâneas “Giornale di Teologia" e "Biblioteca di Teologia", pontos de referência para estudiosos em nível internacional.
Folheando o catálogo, aparecem os nomes de Küng, Barth, Bonhoeffer, Balthasar, Ratzinger, Rahner, Pannenberg, Moltmann, Schillebeeckx, Dupuis, Kasper. E outros nomes poderiam ser lembrados. Um catálogo de referência também pelas antologias organizadas por ele sobre as teologias feministas e sobre as teologias na África, Ásia, América Latina.
Qual foi sua figura editorial? Ele mesmo a confessou em um capítulo daquela que é a sua obra-prima como autor, A teologia do século XX (Loyola, 2007), que em pouco tempo, graças às numerosas traduções, tornou-se um paradigma historiográfico.
Segundo Gibellini, o que caracterizou a teologia pós-conciliar foi a busca do humano nos rastros do religioso. Para ele, a teologia estava entre as linguagens mais expressivas do humano, justamente por ser busca de Deus. Daí a abertura de seu olhar: suas monografias sobre Teilhard de Chardin, Pannenberg e Moltmann já são verdadeiros clássicos.
Amigo de muitos dos autores que publicava – inclusive na revista Concilium – Gibellini era uma lenda na Buchmesse de Frankfurt. Era o primeiro a entrar e o último a sair. Podia ser encontrado junto às editoras mais desconhecidas, uma hora antes de qualquer outro, tanto que muitos colegas italianos ouviam como resposta: “O Pe. Gibellini já optou por esse livro”. No fim do dia, muitas vezes, ele fazia o balanço dos livros vistos, e, na maioria das vezes, os jovens redatores, que ingenuamente lhe falavam sobre um novo livro alemão, ouviam o Pe. Rosino responder com um sorriso malicioso, tirando da sacola de lona justamente “aquele” livro.
Frequentemente, no estande da Queriniana, podia-se ver Küng ou Pannenberg, ou o cardeal Karl Lehmann: procuravam “o amigo padre Rosino”. Entre as virtudes que caracterizavam Gibellini, não estavam apenas a inteligência e a ironia, mas também a generosidade. A ponto de atender aos pedidos de outras editoras italianas que lhe pediam contribuições. Sua resposta era: “Até o Espírito, que sopra onde quer, é liberal…”.
Há alguns anos, Gibellini escreveu um texto que pode ser visto como seu testamento espiritual: “Meditazioni sulle cose ultime” [Meditações sobre as coisas últimas]. Um livro que mostra como a reflexão sobre os Novíssimos, especialmente com von Balthasar, foi no século XX uma superação do problema do inferno, em favor de uma consideração do Deus misericordioso que salva a todos. O apocalipse será um novo início: “Deus, e não o mal, tem a última palavra”. Como se a tensão entre o Deus misericordioso e o Deus terrível do juízo final tivesse sido temperada em favor da primeira imagem.
Para Gibellini, os Novíssimos haviam voltado a ser atuais, mas reformados: de quatro, tornaram-se dois, o juízo final e o inferno desapareceram do horizonte. Talvez porque a própria história tenha se mostrado um inferno, e Deus só se salva se a promessa de redenção for para todos, além das culpas dos indivíduos? Mas e a responsabilidade individual, se sempre fomos salvos?
Como todo livro profundo, a obra de Gibellini levantava interrogações, entre as quais: podemos abrir mão do Dies irae, diante do escândalo do mal que se perpetua? Não é por acaso, lembrava Gibellini, que o Deus bíblico é o “Deus que será tudo em todos”.
Há uma dupla herança do Pe. Rosino: editorial, e está no catálogo da Queriniana. Teológica, e está nas perguntam que concluem o último livro. Giovanni Moretto gostava de dizer que conversar com Rosino Gibellini era uma experiência hermenêutica, porque ele sempre sabia indicar um livro, uma página, uma nota desconhecida ao interlocutor. Para quem teve a sorte de conhecê-lo, um dom do Espírito.
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Morreu Rosino Gibellini, teólogo italiano - Instituto Humanitas Unisinos - IHU