25 Agosto 2014
Segundo o teólogo Rosino Gibellini, os eixos fundamentais da teologia das religiões do Papa Francisco são três: o diálogo, a colaboração e a acolhida.
A reportagem é de Gabriele Palasciano, publicada no sítio da Rádio Vaticano e republicada no blog da Editora Queriniana, 20-08-2014. A tradução é de Moisés Sbardelotto.
Eis a entrevista.
O que é a "teologia das religiões"? Em particular, a que nos referimos quando falamos de "teologia cristã das religiões"?
O cristianismo é uma religião, e perguntamo-nos o que o cristianismo diz sobre as outras religiões, as religiões não cristãs. O conjunto dessas avaliações e dessas estratégias do cristianismo em relação às outras grandes religiões, como o budismo, o hinduísmo, o judaísmo, o Islã etc. constitui a teologia cristã das religiões. Assim, a teologia cristã das religiões evidencia a relação que o cristianismo tem em relação às outras religiões.
Podemos falar de uma "teologia das religiões" no pensamento do Papa Francisco?
Acho que podemos falar de uma teologia das religiões essencial no pensamento do Papa Francisco, já que estamos no início do seu pontificado. O papa, que até agora escreveu poucos documentos a respeito, fala disso na sua exortação apostólica Evangelii gaudium. Esse documento, que é uma espécie de programa do seu pontificado, apresenta ao menos cinco parágrafos que contêm uma teologia católica das religiões essencial. Assim, podemos dizer que temos alguns elementos, e que o tema, ligado ao Concílio Vaticano II e aos encontros inter-religiosos de Assis, é analisado e continuado pelo Papa Francisco com gestos e também com afirmações e elucidações.
O que a caracteriza, na sua opinião? Quais são os seus eixos fundamentais?
Acho que ela se caracteriza por alguns gestos. Por exemplo, o gesto que o Papa Francisco fez dirigindo-se a Lampedusa, um gesto de acolhida que está no espírito de Assis e que vai além de Assis. Outro gesto é o do lava-pés durante a missa da Quinta-Feira Santa, celebrada em uma prisão juvenil, em que o papa lavou os pés de uma jovem de religião muçulmana. Também esse é um gesto de acolhida. Portanto, temos no pano de fundo, acima de tudo, o Concílio Vaticano II com o seu espírito de diálogo – um espírito que se expressa em uma relação dialógica com as religiões não cristãs – e depois também o espírito de Assis e a colaboração pela paz e pela justiça. Substancialmente, os eixos fundamentais da teologia das religiões do Papa Francisco são três: o diálogo, a colaboração e a acolhida.
Na Terra Santa, Francisco se encontrará com representantes das outras duas religiões abraâmicas. Qual é a compreensão dele sobre o judaísmo?
A percepção que o papa tem do judaísmo é boa e se insere na perspectiva conciliar. Está na tradição, certamente, mas também apresenta algumas especificações. Por exemplo, ainda na Evangelii gaudium, ele fala expressamente a respeito e diz que, com o judaísmo, o cristianismo tem uma "rica complementariedade", um traço comum ligado também à Sagrada Escritura e ao Antigo Testamento dos cristãos.
É preciso lembrar que o Papa Francisco tinha uma relação de amizade singular e interessante com o rabino-chefe da Argentina, Abraham Skorka, com quem escreveu um livro que é um dos mais importantes para entender a personalidade humana, intelectual e cristã do bispo de Roma.
Além disso, ele não apenas era seu amigo, mas também insistiu para que a Universidade Católica de Buenos Aires conferisse um doutorado honoris causa ao rabino argentino.
Esse fato é singular porque também havia problemas de ordem canônica para resolver. A relação de amizade entre o papa e o rabino Skorka foi bem acolhida por Israel, mas também será importante considerar o conteúdo dos diversos discursos que ele proferirá no Oriente Médio.
E em relação ao Islã?
Ainda na exortação apostólica, o papa fala da religião muçulmana e faz uma distinção justa entre o Islã como religião, como caminho de salvação, e o fundamentalismo islâmico. Fazendo essa distinção, Francisco nos atenta para o fato de que existe um "fundamentalismo violento" – como ele o chama – que não tem nada a ver com o verdadeiro espírito do Islã.
Além disso, ele também acrescenta que o Islã deve ser respeitado pelos cristãos, mas reafirmando o princípio de que quem dá respeito deve receber respeito. Assim, dar respeito pressupõe uma colaboração. Mas, no que diz respeito a receber o respeito, sabemos que há problemas. Porque a Síria está fora de controle, mas certamente buscará solicitar as exigências do respeito e da liberdade de culto dos cristãos, levando-se em conta a liberdade de que gozam os muçulmanos no Ocidente.
Qual é a percepção que o variado mundo das comunidades judaicas e islâmicas tem de Francisco?
Acho que o Papa Francisco se apresentará como um irmão, porque ele tem o senso da fraternidade universal. Para ele, cada pessoa, sobretudo o pobre, o fraco, é seu irmão. Além disso, há uma passagem da Evangelii gaudium em que ele diz que as pessoas religiosas buscam a paz e a praticam, acrescentando que a paz é "artesanal", ou seja, é uma obra cotidiana, trabalho de todos os dias, que cada pessoa religiosa é chamado a realizar. O papa irá retomar justamente esse elemento.
Existe uma "teologia ecumênica" na ação e no magistério de Francisco? O que o caracteriza?
Certamente. Existe na sua essencialidade, e ele a caracteriza como conversa sobre a vida humana, sobre a finalidade da vida. Temos apenas alguns elementos, mas sempre no horizonte do Concílio Vaticano II, no sinal do diálogo, da acolhida e da escuta. O tema da conversa sobre a vida humana também é outro aspecto que não deve ser subestimado na análise tanto da teologia das religiões quanto da teologia ecumênica no Papa Francisco.
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A teologia das religiões segundo Francisco. Entrevista com Rosino Gibellini - Instituto Humanitas Unisinos - IHU