24 Novembro 2022
Dom Lorenzo Ghizzoni, chefe do escritório de proteção a menores da Conferência Episcopal Italiana – CEI, critica duramente os bispos franceses por permitirem que “pessoas que nada sabem sobre a vida da Igreja” investiguem e denunciem abusos sexuais
A reportagem é de Loup Besmond de Senneville, publicada por La Croix International, 22-11-2022. A tradução é de Wagner Fernandes de Azevedo.
O bispo católico que supervisiona as denúncias de casos de abuso sexual clerical na Itália emitiu uma crítica contundente a seus confrades na França por permitir que uma comissão independente investigue os abusos na Igreja.
“Não vamos projetar dados ou fazer uma amostragem, como fizeram outras entidades eclesiais, com cifras que só atraem quem quer criar problemas”, disse dom Lorenzo Ghizzoni, que está à frente órgão de proteção a menores da CEI, na conferência “Ao lado das vítimas”, proferida no último sábado (19), na Pontifícia Universidade Lateranense.
Os comentários do arcebispo de 67 anos, relatados pela agência de notícias ANSA, foram vistos como uma crítica implícita à Comissão Independente de Abuso Sexual na Igreja – CIASE, da França. A comissão publicou um relatório devastador em outubro de 2021 que dizia que cerca de 216 mil crianças foram abusadas por padres e religiosos entre 1950 e 2020.
“Não vamos criar uma única comissão nacional formada por pessoas que nada sabem da vida da Igreja, que só são qualificadas como objetivas porque não são bispos, nem padres, nem crentes”, continuou Ghizzoni, que administrou a Arquidiocese de Ravenna, no norte da Itália, desde 2012. Ele disse que tal comissão nacional “produziu danos em outros lugares” e “não deve ser imitada”. “Vamos analisar os dados reais e tentar encontrar formas de prevenção”, continuou ele. “O que nos interessa não é expor os padres à punição em praça pública, mas prevenir os abusos”.
Suas observações foram feitas apenas dois dias depois que a CEI apresentou seu primeiro relatório sobre abuso sexual relacionado à Igreja na Itália. Ele disse que 89 supostas vítimas se apresentaram durante o período de um ano entre 2020 e 2021 para denunciar abusos. O texto da CEI diz que os casos de outras 613 vítimas italianas foram enviados nos últimos anos ao Dicastério para a Doutrina da Fé, que é responsável por investigar o abuso sexual de menores.
“Não estamos muito interessados em números se não forem para prevenção”, disse Ghizzoni ao La Croix em março. “Queremos uma análise qualitativa, não quantitativa, para conhecer nossos pontos fortes e fracos”, afirmou.
A CEI adotou uma abordagem interna e está baseando sua reportagem em casos que já são conhecidos, seja por serem resultado de denúncias feitas a centros de escuta diocesanos, seja por terem chegado ao Vaticano. Não é a primeira vez que os bispos italianos criticam a CIASE, apresentando o método escolhido pelos bispos franceses como um contraexemplo que não deve ser seguido para combater o flagelo da pedocriminalidade na Igreja.
“Alguns dados podem ser realmente questionáveis, como vimos na França, e não queremos criar polêmica”, disse o cardeal Matteo Zuppi, presidente do CEI, em maio passado. “Vamos assumir nossas responsabilidades. Mas, na verdade, já assumimos”, afirmou na época. “No que diz respeito à pesquisa (da CIASE) na França, recebi outras três pesquisas realizadas por acadêmicos que a destroem”, disse ele um mês depois em entrevista ao jornal La Repubblica, de Roma.
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Principal autoridade da Itália sobre abuso sexual na Igreja critica comissão independente da França - Instituto Humanitas Unisinos - IHU