França: 11 bispos sob investigação. Artigo de Lorenzo Prezzi

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10 Novembro 2022

"O tom geral é aquele expresso pelo título da mensagem aos fiéis: Chocados e resolutos. A gravidade das feridas que vieram à tona sugeriu iniciar um Conselho de acompanhamento para as denúncias contra os bispos. O peso do clima não impede que os responsáveis eclesiais reafirmem a consciência de poder contribuir para uma renovada fidelidade ao Evangelho", escreve Lorenzo Prezzi, teólogo italiano e padre dehoniano, em artigo publicado por Settimana News, 09-11-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.

Eis o artigo.

Numa improvisa coletiva de imprensa, antes do encerramento da assembleia geral dos bispos (3-8 novembro), o presidente da Conferência Episcopal Francesa, Mons. Eric de Moulin-Beaufort, anunciou que 11 bispos estão sujeitos a investigação ou condenação com base em abusos próprios ou encobrimento de abusos alheios. Entre estes, o card. Jean-Pierre Ricard. O ambiente católico francês, já provado pelo caso Santier (cf. SettimanaNews), foi novamente abalado pelo desânimo e pelo desgosto.

O que está acontecendo com nossa Igreja?

"Mas o que está acontecendo? O que acontece com a nossa Igreja? (…) Tenho a sensação de estar sendo arrastado por um tsunami que reduz a nada os nossos esforços” (Ir. Véronique Margron). “No ano passado (na apresentação do relatório da CIASE, a comissão de abusos; cf. Settimana Week) alguns ainda se apegavam no aspecto sistêmico da crise. Hoje posso dizer que não é problema para ninguém” (Marie-Jo Thiel). "Desolação? Tristeza? Não. Mais raiva, uma raiva imensa” (Isabelle De Gaulmyn).

A primeira é presidente dos religiosos e das religiosas franceses que, junto com Mons. Eric de Moulin-Beaufort, recebeu e aceitou formalmente o relatório da CIASE. A segunda é uma famosa teóloga e terapeuta, uma das primeiras a lidar com os abusos. A terceira é editor-chefe do jornal católico La Croix. O desânimo e a raiva das mulheres estão entre os sinais mais preocupantes.

“Até o momento – especificou mons. Eric de Moulin-Beaufort - seis bispos são levados a julgamento civil ou canônico em nosso país. Vocês os conhecem. A estes juntam-se Mons. Santier e o card. Ricard. Dois outros, já eméritos, estão sob investigação pela justiça civil (após a notificação feita por um bispo) e a um procedimento canônico; um terceiro é objeto de uma denúncia ao Ministério Público que não deu uma resposta até o momento e recebeu da Santa Sé medidas de restrição de seu ministério”.

Completamente inesperado é o nome do card. Ricard que, no dia 7 de novembro, escreveu aos coirmãos admitindo um abuso de 35 anos antes: “Comportei-me de maneira censurável com uma jovem garota de 14 anos. (…) Pedi perdão e nesta ocasião renovo o pedido de perdão a ela e à sua família”. Ricard, bispo desde 1993 (Grenoble, Montpellier, Bordeaux), foi presidente da Conferência Episcopal Francesa entre 2001 e 2007 e é cardeal desde 2006.

Chocados e resolutos

O atual presidente dos bispos da França reconstruiu com precisão o exame do caso Santier, sem passar por cima dos pontos de fragilidade: respeito e insuficiência das normativas, reticência do interessado, desconhecimento dos fatos por parte de seu sucessor e colegas bispos, incapacidade dos bispos para lidar com crimes e ofensas, incerteza em algumas passagens dos procedimentos e das responsabilidades, sérias dúvidas sobre a pertinência da confidencialidade, dificuldade em se tornar credível para as vítimas.

No longo discurso de encerramento, ele recapitulou os muitos temas que ocuparam a assembleia. Entre eles, o início de um trabalho de redesenho geral das atividades da Conferência, a verificação do trabalho dos nove grupos iniciados após o relatório da Comissão CIASE, a aplicação do motu proprio Traditionis custodes, a atenção aos pedidos de cuidado com o meio ambiente (COP27, Egito) e uma carta pastoral sobre o "fim da vida", tema que perpassa toda a sociedade política do país (Ó morte, onde está tua vitória?).

Mas o tom geral é aquele expresso pelo título da mensagem aos fiéis: Chocados e resolutos. A gravidade das feridas que vieram à tona sugeriu iniciar um Conselho de acompanhamento para as denúncias contra os bispos. O peso do clima não impede que os responsáveis eclesiais reafirmem a consciência de poder contribuir para uma renovada fidelidade ao Evangelho.

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