22 Setembro 2022
Eles falam, na verdade é um grito de dor e um pedido de ajuda. Mas eles não podem colocar nem um rosto nem um nome. Porque a junta militar que assumiu o poder em 2021 está se tornando cada vez mais brutal e perigosa. Mas o que aconteceu em Sagaing, onde pelo menos 11 crianças perderam a vida em um ataque indiscriminado a uma escola na sexta-feira passada, é grave demais para permanecer em silêncio. “O que pedimos é que o mundo saiba e não nos esqueça. Orem por nós. Por favor, nos ajudem de qualquer forma. Nosso povo se sente totalmente esquecido”.
A reportagem é de M. Chiara Biagioni, publicada por Agência SIR, 20-09-2022. A tradução é de Luisa Rabolini.
“Obrigado por ligar, por perguntar o que está acontecendo. O que pedimos é que o mundo saiba e não nos esqueça. Orem por nós. Por favor, nos ajudem de qualquer forma. Nosso povo se sente totalmente esquecido”. Quem fala é uma fonte da Arquidiocese de Mandalay que pede, quase se desculpando, para permanecer anônima porque - diz - "é perigoso e quero poder permanecer ao lado do meu povo, na minha terra" e "os militares agem sem qualquer consideração por ninguém". É na arquidiocese de Mandalay que se localiza Sagaing: aqui no município de Tabayin, em 16 de setembro passado, pelo menos 11 crianças morreram em um ataque aéreo e tiros indiscriminados contra áreas civis.
Uma escola também foi atingida no ataque. As fotos que chegam de Mianmar são terríveis. Veem-se corpos de crianças mortas enroladas em lençóis e escombros por toda parte, manchas de sangue. Também quem envia essas imagens ao SIR pede para permanecer no anonimato, porque aqui o horror da morte também é acompanhado de retaliação, vigilância, controle brutal dos militares.
O massacre ocorreu há cinco dias e só agora estão aparecendo testemunhos dramáticos. Ainda há muito por esclarecer porque, segundo a UNICEF, ainda pelo menos 15 crianças da mesma escola continuam desaparecidas. A fonte contatada pelo SIR expressa “muita dor para os pais”, e acrescenta: “Isso aconteceu na cidade, mas nas aldeias todos os dias, a todo momento acontecem coisas semelhantes e ninguém sabe e nunca saberá de nada. Eu ouço o choro dos pais. Recebemos mais de 1.800 refugiados em minha diocese. Acolhendo-os, ouvindo suas histórias, a dor se torna cada vez mais profunda”.
Desde o golpe de estado em fevereiro de 2021, com o qual os militares tiraram o governo civil liderado por Aung San Suu Kyi, o exército birmanês é culpado de violência atroz contra civis, tendo também como alvo instituições religiosas onde a população busca refúgio contra os ataques. Em particular, a região de Sagaing, onde está localizada a escola monástica atingida, foi palco de várias ofensivas do exército birmanês nos últimos meses, que teriam incendiado aldeias inteiras, obrigando a fugir cerca de meio milhão de pessoas, segundo um relatório publicado este mês pela Unicef.
Mortes, prisões indiscriminadas, até condenações à morte. Também atingidos por mísseis, ataques de artilharia e saques são as igrejas, mosteiros e conventos religiosos onde muitas vezes mulheres e crianças que fogem da guerra encontram refúgio. “Nosso povo sofre há muito tempo - conta a voz de Mianmar - mas o mundo não sabe o que estamos vivendo. A Europa também se esqueceu desta terra”.
Sempre digo que o sofrimento é enorme. As pessoas perderam suas casas. Suas aldeias foram destruídas e arrasadas.
A maioria da população da Diocese de Mandalay é budista. “Sempre choro por eles e com eles”, contam do Mianmar. “A dor é muito profunda. Estamos ouvindo suas histórias. Eles nos contam como perderam suas casas e fugiram de suas aldeias. São idosos, crianças, mulheres. Não há florestas nem montanhas nesta área. Os refugiados estão ao ar livre, ao relento, sem teto para se proteger. Eles não têm comida nem remédios. Nada".
Além disso, a situação dos jovens, em particular, é motivo de grande preocupação. “Desde 2020, ano da Covid, as escolas estão fechadas e com o golpe de estado muitos estudantes, aderindo ao movimento de desobediência civil, não vão à escola. E isso significa que os jovens em Mianmar estão crescendo sem educação. Também estamos testemunhando um sistema de injustiça. Muitos jovens são presos sem certeza, sem razão. Muitos pais, portanto, não sabem onde estão seus filhos e os filhos não sabem para onde foram seus pais”.
A Igreja está empenhada para ir ao encontro e ajudar as pessoas. Só em Mandalay, a diocese abriu 5 centros de refugiados, que abrigam mais de 2.000 pessoas. “Por outro lado, a economia se deteriorou muito. Os anos do golpe estão pesando cada dia mais. Os pobres da cidade estão desempregados. E o acesso a alimentos e remédios está cada vez mais difícil. Mas nas aldeias a situação é ainda mais crítica. Só as irmãs abrem aqui dispensários sanitários onde se distribuem medicamentos e fazem-no apesar do perigo que correm. Por isso peço, não se esqueçam de nós”.
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Mianmar. Vozes sem nome e sem rosto: “Não se esqueçam de nós, ajude-nos de qualquer maneira” - Instituto Humanitas Unisinos - IHU