“Que a dor não me seja indiferente”. 40 anos do Massacre de San Patricio

Mural em homenagem ao mortos no Massacre de San Patricio | Foto: sanbartolomeo.org

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Por: Cristina Guerini | 05 Julho 2016

 

Sólo le pido a Dios
Que el dolor no me sea indiferente
(León Gieco - a canção é interpretada por Mercedes Sosa)

 

Reproduzimos a nota publicada em 04-07-2016 aqui no Instituto Humanitas Unisinos - IHU.

 

O silêncio após o último disparo na Igreja de San Patricio, em Buenos Aires, completa 40 anos. Que a dor dos palotinos e de tantos outros assassinados durante um dos períodos mais sombrios da história da capital Argentina não nos seja indiferente.

 

Os disparos que romperam a madrugada do dia 04-07-1976, cuja suspeita pesa sobre militares ligados à Escola Superior de Mecânica da Armada – ESMA, não foram percebidos nos arredores da Igreja de San Patricio. Na manhã seguinte, foram encontrados os corpos dos padres Alfredo José Kelly, Alfredo Leaden e Pedro Eduardo Dufau, e dos seminaristas Emilio José Barletti e Salvador Barbeito, da Congregação dos Palotinos.

 

O crime, que é um dos mais lembrados do regime militar no país vizinho, ficou marcado pela forma como os religiosos foram encontrados com os rostos ensopados de sangue, alinhados sobre o tapete e crivados a balas. As vítimas foram encontradas pelo organista da paróquia, Fernando Savino, que pulou a janela quando os vizinhos do bairro Belgrano chegavam para a missa.

 

O sangue frio

 

Os assassinos rabiscaram com giz em uma das portas a seguinte mensagem. “'Pelos companheiros da Segurança Federal mortos com a dinamite. Venceremos. Viva a Pátria' (A dinamite era uma referência a um atentado da guerrilha dos Montoneros que, dois dias antes, haviam matado 20 policiais que se encontravam em uma cantina).” E em um dos tapetes estava escrito. "Esses esquerdistas (zurdos) morreram porque doutrinaram mentes virgens e são M.S.T.M." (sigla conhecida que indicava o "Movimento de Sacerdotes pelo Terceiro Mundo").

 

Dor indiferente

 

Depois de 40 anos, o crime nunca foi esclarecido. Atualmente sob o comando do juiz federal Sergio Torres, o processo, que já oi interrompido várias vezes por conta da Lei da Anistia Argentina (Ponto Final e Obediência Devida), agora aguarda a abertura do Arquivo do Vaticano, prometido pelo Papa Francisco. Na documentação consta investigação realizada à época pelo Pe. Efraín Sueldo Luque, cujas conclusões são desconhecidas.

 

O canto de dor e memória de Mercedes Sosa clama por justiça. Que possamos manter viva a história dos palotinos e que o sofrimento das ditaduras latino-americanas não nos sejam indiferentes.

 

As vítimas

 

Os cinco palotinos assassinados em 4 de julho de 1976. Foto: Municipio de San Antonio de Areco

 

Alfredo Leaden, sacerdote, 23 de maio de 1919, Buenos Aires;
Alfredo José Kelly, sacerdote, 5 de maio de 1933, Suipacha;
Pedro Eduardo Dufau, sacerdote, 13 de outubro de 1908, Mercedes;
Emilio José Barletti, seminarista, 22 de novembro de 1952; San Antonio de Areco.
Salvador Barbeito Doval, seminarista, 1º de setembro de 1951, Pontevedra (Espanha);

 

O documentário 4 de Julio, de Pablo Zubizarreta e Juan Pablo Young, que conta a história pode ser assistido abaixo:

 

 

Veja também: Palotinos, Los Mártires del 76:

 

 

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