Por: André | 08 Julho 2014
Houve homenagens na Igreja de San Patricio de Belgrano R, onde foram assassinados há 38 anos, e em Mercedes, onde começaram sua vida pastoral. Nas ruas dessa cidade bonaerense foram colocadas três placas com os nomes de cada sacerdote.
A reportagem é de Gustavo Veiga e publicada no jornal argentino Página/12, 05-07-2014. A tradução é de André Langer.
Fonte: http://bit.ly/TOiQLg |
Se a última ditadura assassinou os padres palotinos no bairro portenho de Belgrano R, foi muito antes, em Mercedes, onde suas vidas pastorais ganharam sentido. Por isso, na sexta-feira dia 04, os principais atos pelo 38º aniversário do crime contra Alfredo Kelly, Alfredo Leaden e Pedro Dufau e os seminaristas Salvador Barbeito e Emilio Barletti aconteceram nessa cidade bonaerense. Aí também nasceu o genocida Jorge Rafael Videla e santificou sua política o ex-bispo da diocese local Emilio Ogneñovich. Dessa pregação ultramontana restam apenas resíduos nostálgicos. A que se conserva jovem é outra memória, a de todos aqueles que fizeram uma homenagem aos religiosos de origem irlandesa. Os atos aconteceram na igreja mercedina de San Patricio, sua homônima da Rua Estomba y Echeverría, e no cemitério onde jazem os restos dos sacerdotes. Houve discursos emotivos e foram colocadas três placas nas ruas de Mercedes com os nomes de cada um deles.
O templo de 72 metros de altura, inaugurado em 17 de março de 1932, foi o ponto de encontro para evocar a história de compromisso das vítimas. É um dos dois mais importantes da cidade. O outro é a catedral. Em seu interior, na frente do altar foram colocadas as cinco fotografias dos religiosos e as de outros desaparecidos da cidade. As imagens rodeavam a cabeceira do templo de onde falaram o deputado federal Eduardo “Wado” De Pedro, o intendente local Carlos Selva, integrantes da Comissão da Memória de Mercedes e o atual bispo de Mercedes-Luján, Agustín Radrizzani, e o pároco Tomás O’Donell.
O deputado, nascido em Mercedes, emocionou-se mais de uma vez. Recordou que havia passado pelo jardim de infância, pelo primário e pelo secundário do colégio que tem o mesmo nome da igreja. Uma delegação de 160 estudantes participou, junto com o reitor da instituição. Um gaiteiro vestido com o kilt, a tradicional indumentária escocesa, fez uma música de fundo para as palavras de cada orador. Houve discursos no exterior e no interior do templo ao qual, curiosamente, o ultraconservador Ogneñovich havia concedido o estatuto de capela na década de 1980. O mesmo que deu a bênção ao terrorismo de Estado do Regime civil-militar.
“Reuniram muitas vezes os jovens para que também eles, com sensibilidade social, se dispusessem para ajudar”, recordou o bispo Radrizzani, referindo-se aos palotinos. Também descreveu que “nesse momento eu estava em La Plata e vinham ver-me os familiares daqueles que iam desaparecendo e que às vezes apareciam assassinados na prisão. Lembro a Noite dos Lápis e, como sacerdote ainda jovem, que as pessoas queriam pacificar, que não houvesse mais mortes nem houvesse mais enfrentamentos. E a morte dos palotinos foi para mim um testemunho de vida daqueles que deram a vida pelo próximo...”.
Fonte: http://bit.ly/1mBUPUm |
Várias centenas de pessoas ocupavam a nave principal da igreja na hora da homenagem principal. O padre Tomás insistiu em que se deve continuar “buscando a verdade e quem foram os autores”, embora tenham passado 38 anos do assassinato que só foi investigado com rigor e independência pelo jornalista Eduardo Kimel, autor do livro La masacre de San Patricio, falecido em fevereiro de 2010. Falaram também os integrantes da Comissão pela Memória de Mercedes, María Silvia Fasce, Arturo Bojorge e Oscar Apezteguía.
À tarde, as homenagens continuaram no cemitério local, onde estão sepultados os restos de Kelly, Leaden e Dufau. Este último era oriundo de Mercedes. Ali voltou a falar o padre O’Donell. Também Ricardo Kelly, o irmão do religioso, que destacou a tarefa de Kimel. Flores foram depositadas sobre as sepulturas dos palotinos. Em Belgrano, na paróquia da Rua Estomba y Echeverría, foi celebrada uma missa, como todos os anos se faz.
Na portenha San Patricio, na noite de 4 de julho de 1976, foram assassinados com vários tiros os três palotinos junto com os seminaristas Barbeito e Barletti. O organista da igreja, Rolando Savino, de 16 anos, foi quem descobriu os cinco cadáveres. Como ninguém abria a porta para os fiéis mais madrugadores que esperavam pela missa dominical, ele entrou pela janela. Os assassinos escreveram à mão uma mensagem, como para que não ficassem dúvidas sobre de onde o faziam: “Pelos camaradas dinamitados na Segurança Federal. Venceremos. Viva a Pátria”.
Hoje, embora os assassinos continuem impunes, o crime dos palotinos mantém-se vivo na memória da sociedade de Mercedes: nos atos, nos discursos, nas placas e também na contribuição que significou saber que a história do massacre chegou às escolas. O documentário 4 de Julio, de Pablo Zubizarreta e Juan Pablo Young, foi distribuído em vários estabelecimentos educativos da cidade como parte das evocações realizadas a 38 anos do assassinato cometido por policiais da ESMA.
FECHAR
Comunique à redação erros de português, de informação ou técnicos encontrados nesta página:
Padres Palotinos. Na memória do seu povo e da sua Igreja - Instituto Humanitas Unisinos - IHU