04 Julho 2016
Nesta segunda-feira, 04-07-2016, completam-se 40 anos do massacre de três padres e dois seminaristas palotinos ocorrido em Buenos Aires, durante a última ditadura militar do país (1976-1983). O crime ficou conhecido como massacre de San Patricio, em referência ao nome da igreja do bairro de Belgrano, onde ocorreu a chacina. Foram assassinados os padres Alfredo José Kelly, Alfredo Leaden e Pedro Eduardo Dufau, e os seminaristas Emilio José Barletti e Salvador Barbeito.
Na madrugada de 04-07-1976, homens armados invadiram a igreja de San Patricio e mataram os religiosos da ordem Padres e Irmãos Palotinos. Para a comunidade palotina, trata-se do “mais violento atentado que a Igreja argentina sofreu em sua história”.
Até hoje, não se sabe quem foram os responsáveis pelo crime. Acredita-se que ele tenha sido cometido por militares ligados à Escola Superior de Mecânica da Armada - ESMA, órgão ligado à repressão de Estado. No entanto, não há sequer uma investigação concluída sobre o tema.
Foto: Sítio Palotinos 4 de julio |
Justiça e memória
O crime foi descoberto apenas no dia seguinte ao massacre, quando os fiéis já se aglomeravam em frente à igreja para a missa. As investigações passaram por idas e vindas, tendo sido interrompidas durante a vigência das leis de Ponto Final e Obediência Devida, que funcionaram como uma anistia para os militares. Hoje, estão sob o encargo do juiz federal Sergio Torres, que lida com casos da época da ditadura.
A congregação palotina anunciou, por ocasião dos 40 anos do crime, que irá se juntar ao Estado argentino como parte interessada no processo. Para marcar a data, haverá na paróquia, nesta segunda-feira, 04-07-2016, uma missa celebrada pelo cardeal e arcebispo de Buenos Aires Mario Poli.
Experiência marcante
O professor e coordenador do Programa de Pós-Graduação em Filosofia da Unisinos, Alfredo Culleton, conheceu pessoalmente os religiosos assassinados, experiência que transformou radicalmente sua vida. “E eles eram muito próximos de nós. Isso foi um fato marcante. Minha vida se divide em antes e depois disso, em função dos parentes e amigos envolvidos. Muitos jovens tiveram que sair do país. Um grupo deles entrou na comunidade dos palotinos, que era a ordem a qual pertencia esses religiosos mortos, e foi para o seminário. Eu estava neste grupo. Saímos do país porque já não se podia estudar lá”, relatou Culleton, em entrevista à IHU On-Line. “Então, para preservar a vida dos estudantes fomos para Santa Maria, uma cidade no interior do Rio Grande do Sul. Era uma cidade universitária, de médio porte, suficientemente próxima da Argentina e suficientemente longe no sentido de estar protegida pela fronteira”, complementa.
Canonização dos palotinos
O padre Alfredo Kelly tinha como seu diretor espiritual Jorge Bergoglio, o Papa Francisco, que à época era provincial dos jesuítas na Argentina. O papa prometeu ceder documentos dos arquivos do Vaticano para ajudar nas investigações. Há dez anos, o então cardeal Bergoglio abriu processo de canonização dos cinco palotinos. Um grupo ligado à ordem Palotina já reuniu 9.600 documentos para fundamentar o processo.
Por João Flores da Cunha / IHU – Com Agências
Nota da IHU On-Line: Veja abaixo o vídeo em espanhol.
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Massacre de San Patricio, que vitimou cinco palotinos, completa 40 anos - Instituto Humanitas Unisinos - IHU