Por: Jonas | 04 Julho 2016
Os Palotinos anunciaram, hoje, que se apresentarão como querelantes na causa de lesa-humanidade na qual se investiga o Massacre da Igreja de San Patricio, ocorrido no dia 4 de julho de 1976 e no qual foram assassinados cinco religiosos dessa ordem, por agentes do terrorismo de Estado.
Fonte: http://goo.gl/n4YKn0 |
A reportagem é publicada por Télam, 30-06-2016. A tradução é do Cepat.
A decisão de fazer parte da acusação civil à Justiça Federal chega nos dias em que se comemora o 40º aniversário desse crime perpetrado pela última ditadura civil-militar, e quando a comunidade Palotina incentiva, no Vaticano, a canonização das vítimas.
“Cremos que chegou o tempo de fazer justiça e de encontrar os culpados deste assassinato que marcou nossa congregação. Queremos que se estabeleça uma verdade que nos permita avançar para honrar a memória de nossos irmãos, que morreram por ter uma vida a serviço do Evangelho”, destacou o sacerdote Juan Pablo Velasco, postulador da causa de canonização.
Hoje, na casa paroquial da Igreja de San Patricio, localizada em Echeverría y Estomba, do bairro portenho de Belgrano, os palotinos deram uma coletiva de imprensa na qual formalizaram este anúncio de fazer parte de uma das ações que participam na grande causa ESMA [Escola Superior de Mecânica da Armada], que está a cargo do juiz federal Sergio Torres.
No dia 04 de julho de 1976, foram assassinados os padres Alfredo Leaden, Pedro Dufau e Alfredo Kelly, e os estudantes Salvador Barbeito e Emilio Barletti. Uma das principais hipóteses da investigação destaca que efetivos da Armada cometeram estes assassinatos.
“Desde os anos 1990, em cada assembleia que celebramos como congregação, a lembrança de nossos cinco irmãos estava sempre presente. Porém, as leis de Obediência Devida e Ponto Final nos impediam de avançar com o nosso pedido de Justiça. Agora, não temos esse impedimento, e podemos avançar”, destacou Velasco.
Durante o encontro com a imprensa, foi projetado o depoimento, em vídeo, do padre Rodolfo Capalozza, quem então era um jovem seminarista que tinha uma estreita relação com os assassinados.
“Naquele dia, fui ao centro e dormi na casa de meus pais. Voltei na manhã seguinte e me deparei com a notícia. Nossos cinco irmãos viveram com fidelidade ao Evangelho. São luz e vida”, ressaltou Capalozza.
Por sua parte, o padre Jeremías Murphy, um sacerdote irlandês que dirige a Congregação Palotina na Argentina, afirmou que “não se pode renunciar ao direito de saber quem foram os assassinos dos cinco religiosos”.
“A comunidade está orgulhosa destes cinco mártires por seu compromisso com a palavra de Jesus. Eles viveram baseados nas qualidades da Fé, Esperança e Caridade, que fundamentam a santidade”, enfatizou Murphy, representante de uma ordem que tem sua sede na Irlanda e está muito enraizada na coletividade desse país, instalada há décadas na Argentina.
Há 10 anos, com a autorização do então cardeal Jorge Bergoglio, os palotinos decidiram iniciar o trâmite de canonização, no Vaticano, e para tal fim se formou um grupo que reúne dados e documentos.
“Formulamos um pedido às autoridades de Roma para que o trâmite seja iniciado. Temos o apoio do cardeal Mario Poli. Nossa postura é que a canonização corresponde ao martírio que os cinco padeceram”, fundamentou Velasco.
O grupo que trabalha em prol da canonização se reúne todos os sábados e é formado por leigos e religiosos. Já conseguiu averiguar mais de 9.600 documentos que fundamentam a canonização, entre eles há cartas dos sacerdotes Leaden, Dufau e Kelly.
Um dos integrantes deste grupo é Ronaldo Savino, que com 16 anos trabalhava como organista na Igreja de San Patricio e foi quem encontrou as vítimas assassinadas na casa paroquial, há quatro décadas.
“Eles eram uma guia para mim. Mestres que me ensinaram que a vida dos cristãos se vive com alegria e um profundo amor para com o outro”, observou.
Neste fim de semana, será realizada uma série de atos, apresentações e cerimônias religiosas com os quais se recordará o martírio dos cinco religiosos.
No sábado, será apresentado o livro “Juntos vivieron, juntos murieron”, do jornalista Sergio Lucero, que conta a vida e a obra pastoral das vítimas.
No domingo, será realizada uma peregrinação que, a partir das 17, partirá do prédio da ex-ESMA e se encerrará na Igreja San Patricio. Na segunda-feira, data do aniversário do Massacre, acontecerá uma missa nesta igreja do bairro de Belgrano, que será presidida pelo cardeal Poli.
“O melhor ensinamento que estes irmãos nos deixaram é o da vida em comunidade e a transformação da realidade que é possível realizar a partir desta postura”, apontou o advogado e leigo Francisco Chirichella, vice-postulador na causa pela canonização.
Nota da IHU On-Line: Veja abaixo o vídeo em espanhol.
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Palotinos se apresentarão como querelantes na causa por San Patricio - Instituto Humanitas Unisinos - IHU